Apenas Salgado Filho, Renascença, Manfrinópolis, Flor da Serra do Sul, Eneas Marques e Nova Esperança do Sudoeste não se encontram infestados pelo Aedes aegypti em 2015, dentre 27 municípios da microrregião de Francisco Beltrão.
“O setor de saúde poderá sofrer um grande efeito, pois há indicações de aumento da incidência de doenças tropicais. Deverão se alastrar, por exemplo, doenças transmissíveis por vetores, como malária e dengue”, dizem relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão das Nações Unidas.
São os impactos no meio ambiente, decorrentes do progresso da urbanização e utilização de recursos naturais e somados à desorientação humana quanto à prevenção (80% dos criadouros de larvas estão nas residências), obstáculos vivenciados pelos órgãos públicos de combate à doença – de epidemias cada vez mais frequentes -, e à diversidade do vírus (sabe-se da existência de quatro tipos de dengue), as principais explicações para o avanço do mosquito da dengue no Sudoeste.
Apenas Salgado Filho, Renascença, Manfrinópolis, Flor da Serra do Sul, Eneas Marques e Nova Esperança do Sudoeste não se encontram infestados pelo Aedes aegypti em 2015, dentre 27 municípios da microrregião de Francisco Beltrão. A previsão dos especialistas da 8ª Regional de Saúde é de que, em um ou dois anos, este avanço esteja completo.
Em 1992, ano em que começou a ser implantado o Levantamento do Índice de Infestação do Aedes aegypti na região, apenas Beltrão estava infestada pelo mosquito. A partir de 2000, Dois Vizinhos, Realeza e Capanema também passaram a figurar no mapa da infestação. Desde então, o Aedes vem progredindo pelo Sudoeste, infestando 21 municípios atualmente (veja na figura).
“O que estão dizendo é que as alterações que estamos provocando no planeta têm favorecido bastante a introdução [do Aedes]. Os hábitos humanos também. O mosquito é urbano, aí a gente dá tudo o que ele quer: pessoas para picar e água parada em piscinas, reservatórios de água, copinhos plásticos, pneus… E, em contrapartida, é muito lenta a educação sanitária. Ainda tem a questão de que um município começa a eliminar criadouros e o Aedes vai em busca de outro município que não está cuidando tão bem assim”, diz o médico veterinário Eraldo Machado, responsável pela Vigilância Epidemiológica da Dengue na 8ª RS.
A fala de Eraldo evidencia o preocupante diagnóstico da situação da dengue no Sudoeste. Nunca tantos municípios iniciaram o ano com situação tão elevada de infestação. Em reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) foi exposto um alto índice de pendência de visita de imóveis, a situação de alguns municípios com número insuficiente de Agentes de Combate a Endemias (ACEs) – para ações de bloqueio e atividades de rotina – e a preocupação com municípios silenciosos para notificações e falta de informações.
“Houve municípios que tiveram epidemia, mas não eram infestados. Isso demonstra sobre a qualidade do serviço. Beltrão, que teve 33 casos, teve uma estratégia muito boa, monitorando as notificações, fazendo bloqueio, de acordo com a técnica preconizada pelo programa de controle da dengue”, elogia.
Cresce o número de cidades epidêmicas
A consequência natural da infestação generalizada é o aumento da incidência de casos autóctones, ou seja, contraídos aqui mesmo no Sudoeste. A primeira epidemia de dengue na região ocorreu em Pranchita, em 2007, com 24 casos autóctones. Depois, Realeza registrou 21 casos nativos de dengue em 2009. Já em 2010, o mapa de dengue autóctone ganhou duas novas cidades: Beltrão e Salto do Lontra. O número de municípios com dengue autóctone subiu para cinco em 2010; depois para 11 em 2013; e já chegou a 15 neste ano.
A quantidade de cidades com surtos epidêmicos (de 100 a 300 casos por 100 mil habitantes) ou epidemia (acima de 300 casos por 100 mil habitantes) também vem subindo. Realeza foi o único município que sofreu com uma epidemia em 2010, quando a incidência da doença superou alarmantes 2.070 casos por 100 mil habitantes. Dois anos mais tarde, Capanema, Planalto, Pérola D’Oeste e Nova Prata do Iguaçu também ultrapassaram os 300 casos por 100 mil habitantes.
Até maio deste ano, Dois Vizinhos, São Jorge D’Oeste, Verê, Boa Esperança do Iguaçu e Salto do Lontra estavam em situação de epidemia; Nova Prata do Iguaçu vive surto epidêmico (entre 100 e 300 casos a cada 100 mil habitantes); já Beltrão, Marmeleiro, Barracão, Pranchita, Santa Izabel do Oeste, Capanema, Realeza e Cruzeiro do Iguaçu estão em situação de surto de dengue.
Período entre epidemias diminuiu
Observando o mapa de incidência, a doença da dengue é cíclica, ou seja, em princípio, não causa epidemia todo ano nos mesmos municípios. Entretanto, cada vez mais cidades têm enfrentado o problema, assim como o intervalo entre as epidemias tem encurtado. “O mosquito procura municípios com pessoas suscetíveis e apresenta comportamento cíclico, ou seja, não causa epidemia todo ano. Tal comportamento, por vezes, é ruim, pois induz tanto o gestor como a população a um relaxamento nas medidas de controle. Mas temos observado que o período entre epidemias tem diminuído”, diz Benvenuto Juliano Gazzi, chefe da Divisão de Vigilância em Saúde da 8ª RS.
Suscetíveis, explica Juliano, são pessoas que não pegaram a doença e não têm imunidade para a mesma. A dengue tem quatro subtipos e, quando você pega um deles, fica imune a este subtipo, mas pode pegar os outros. “É por isso que em alguns municípios que passaram por epidemias por um subtipo não entram em nova epidemia quando este subtipo volta a circular no município, porque não há suscetíveis. Mas, se houver vetor e circulação de vírus de outro subtipo, pode haver nova epidemia”, acrescenta.
Isso ajuda a entender o porquê de não haver registro de óbitos em razão de dengue hemorrágica na região, já que os tipos 1 e 2 são os mais comuns por aqui. “Quando você pega um subtipo de dengue, o organismo fica imune e sensibilizado. Ao pegar outro subtipo, a resposta imunológica poderá ser exacerbada. É por isso que ocorre a dengue grave e a hemorrágica”, esclarece Juliano.
Contribuiram também Carmem Cila Casaril, responsável pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), e Vilmar Albuquerque, pelo Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue (SisPNCD). O Jornal de Beltrão continuará a abordar o tema dengue traçando um perfil histórico de casos notificados, autóctones e importados no próximo domingo, 26.