Saúde
Ao longo de dez anos, o Hospital Regional do Sudoeste (HRS), em Francisco Beltrão, teve três diretores e duas diretoras. Os rostos nem sempre conhecidos são de pessoas comprometidas com a luta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que, ao assumir o posto, dão continuidade a um serviço dedicado a salvar vidas. Odoni Quintana, Badwan Jaber, Eduardo Cioatto, Nadia Aparecida Zanella Vissoto e Cintia Jaqueline Ramos são os nomes de quem esteve e está nessa frente. Contar suas histórias é, também, uma outra forma de contar a história do HRS.
A reportagem do Jornal de Beltrão (JdeB) conversou com quatro deles, que apontaram as conquistas destacadas de cada gestão. Perpassa, porém, a todos, o aumento no quadro de funcionários e os esforços coletivos em conquistar equipamentos e leitos.
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Odoni Quintana (2009-2010)
O desafio de ser o primeiro diretor-geral de um hospital recém-inaugurado e que atenderia 42 municípios da região Sudoeste do Paraná ficou nas mãos do médico Odoni Quintana. O prédio que era projetado para entrar em funcionamento como corpo vivo da saúde pública, ainda em 2006, só foi inaugurado oficialmente no final de fevereiro de 2010 – quatro anos depois. E tudo o que cairia nas mãos de Quintana se tornaria único e histórico a partir de então.
Antes de assumir, Quintana foi chefe da 8ª Regional de Saúde, assistindo a estrutura ganhar forma. Quem o percebeu foi o então governador, Roberto Requião (MDB), que, segundo notícias veiculadas na época, já o sondava e convidada para assumir o posto de primeiro diretor. Quintana parecia hesitar, até a publicação da nomeação sair no Diário Oficial do Estado no dia 18 de março de 2009.
O médico viu o hospital nascer: dos primeiros concursos aos primeiros leitos ocupados. Não à toa, foi homenageado com uma série de discursos na inauguração oficial da obra.
Procurado, Odoni Quintana não quis se manifestar.

Badwan Jaber (2011-2013)
Quintana permaneceu até o primeiro ano e abriu espaço para Badwan Jaber, um dos primeiros cirurgiões do HRS, que também estava junto da equipe antes da inauguração oficial. “Neste período, o hospital funcionava de maneira incipiente, com poucos funcionários e alguns pacientes internados (não passavam de 10 a 15). Me tornei diretor por insistência de colegas médicos mais próximos e também por convite (quase convocação) do amigo e deputado estadual Ademar Traiano (PSDB)”, relembra Badwan sobre a transição.
Durante a gestão, que contou com apoio de Eduardo Cioatto, que sucederia o médico na direção do hospital, Badwan destaca que foi criado o perfil de atendimento do HRS baseado nas deficiências da saúde regional, identificadas, à época, como sendo mortalidade materno-infantil elevada, incidência de traumas, principalmente por acidentes de trânsito, e carência de leitos de terapia intensiva públicos. “Após este tripé de atendimento definido, houve incorporação e implementação de outros serviços: nefrologia com o recurso de hemodiálise na beira do leito (primeiro serviço na região); cirurgia pediátrica dando suporte à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal; transformação da cirurgia vascular em referência regional para 8ª e 7ª Regional de Saúde, com alta complexidade; abertura da oferta de exames de tomografia computadorizada para os municípios da região; incremento de todos os demais serviços já criados no HRS”, elenca, além na inauguração da Ortopedia, serviço que virou referência rapidamente.
A saída do médico, em 2015, foi por um desejo próprio: queria dedicar-se mais a sua profissão.

Badwan Jaber
Eduardo Cioatto (2013-2015)
A chegada do assistente social Eduardo Cioatto à direção do hospital foi no ano de 2013, mas antes da inauguração oficial, ainda em 2009, já estava no corpo do HRS. Ele acompanhou par a par as decisões de Odoni Quintana, época em que abraçou o Núcleo de Informação e Análise da Situação (Nuias), e Badwan Jaber, dando sequência ao trabalho de diretor-administrativo que assumiu pouco antes da saída de Quintana.
Se na gestão anterior as UTIs foram abertas, foi na sua administração que elas foram habilitadas. “O que eu me recordo foram dificuldades. Na verdade, são grandes conquistas: tu abrir a UTI é uma coisa, tu habilitar ela no SUS pra começar a receber dinheiro é bem diferente. Passamos por diversas provações, junto com todos os órgãos de fiscalização, devido ao hospital ser novo, por isso, com a abertura da UTI adulta e neonatal do Regional, a gente conseguiu colocar um marco no Sudoeste”.
Outro marco apontado por Cioatto foi o legado em relação ao atendimento de trauma (acidentes), que havia começado ainda com Badwan e foi se fortalecendo com o passar dos anos. “Nosso maior foco que hoje é uma referência”, dispara. Cioatto deixou a unidade em 2015, quando foi chamado para um concurso prestado ainda em 2011, na Companhia de Habitação do Paraná.

Nadia Aparecida Zanella Vissoto (2016-2018)
Assim como Cioatto, que deixou a direção-administrativa para a direção-geral, a enfermeira Nadia Vissoto também. Ela era um dos braços do assistente social e, após a saída dele, tornou-se a primeira mulher a assumir a gestão. Ela também conhecia as entranhas do hospital. Servidora de carreira, ainda no curso de Enfermagem prestou o concurso que a levou para dentro do HRS, em 2011, como enfermeira assistencial. No ano seguinte, assumiu a área de hotelaria do hospital, coordenando os setores de apoio. Em 2013, chegou à direção-administrativa, a convite de Cioatto, e, em 2015, à direção-geral.
“Todos os dias são dias de luta, porque a gente sempre está buscando melhorar e ampliar”, sentencia Nadia, que, apesar de não estar mais na direção, permanece no quadro de funcionários. “Mas a gente ampliou o número de leitos, o que é sempre uma conquista, porque esses leitos são pro público do SUS; conseguimos abrir a Unidade de Cuidado Intermediário (UCI) Neonatal, que temos uma necessidade muito grande, e a ampliação de atendimentos. Os números mostram que o hospital vem a cada ano aumentando o volume de atendimento e ofertando especialidades diferentes. Então, isso é um orgulho não só pra mim, mas pra toda a comunidade hospitalar, porque é a equipe que conquista junto. Não há direção sem equipe.”
Nadia saiu no final de 2018 e voltou para a direção de enfermagem no início de 2019, onde permanece até agora.

Cintia Jaqueline Ramos (2019 até agora)
Quando da inauguração do hospital, a economista Cintia Ramos era secretária de Saúde. Apesar da sua formação em Economia, especializou-se em gestão de saúde pública, área em que trabalha há 27 anos e é assertiva em dizer: “Eu sei o que é ser secreária de Saúde antes e depois do Hospital Regional”.
Logo que assumiu o HRS, após anos acompanhando-o em outras áreas da saúde, pôde inaugurar o Estar Materno Eliziane Gai e iniciar reformas prediais que garantiram melhor acolhimento aos pacientes da unidade. “Conseguimos fazer a reforma predial de todas as enfermarias da unidade. Hoje tem ar-condicionado em todas, pintura, tratamento de piso, instalação de bate-macas, conseguimos colocar aquecimento solar na unidade. Várias situações prediais que oportunizaram acolhimento e também uma melhor condição de trabalho para a equipe multiprofissional. Nesse período, contratamos 30 novos técnicos de enfermagem, também ampliamos em três especialidades a unidade: na especialidade de cirurgia torácica, na especialidade de broncoscopia e no serviço de endoscopia”, destaca. “É um atendimento ininterrupto, 24 horas, então o diretor-geral não tem horário pra entrar nem pra sair da instituição.”
Cintia vive agora um outro marco junto ao hospital: lutar cotra uma doença nova, que ainda não possui vacina. Assim como foi com a pandemia do H1N1, o Hospital Regional é referência para o atendimento no Sudoeste e esforços não são poupados para que vidas o sejam.
