Indicador pode representar melhoria no acesso à saúde e mais investimentos na cidade, mas representante do CRF faz ressalvas.
Quem tem a impressão de que a cada semana surge uma nova farmácia pela cidade não está tão errado. Nos últimos meses, Francisco Beltrão vem atraindo a atenção de grandes redes do segmento e novos estabelecimentos são abertos constantemente. Mais três estão em fase de implantação: a segunda unidade da Brava, na esquina da São Paulo com a Ponta Grossa; a terceira Nissei, ao lado do Posto Vila Nova; e mais uma Ultra Descontão, próximo ao Banco do Brasil.

O Jdeb levantou o número de farmácias existentes na cidade com base nos dados do Guia Paraná Sudoeste, elaborado no fim do ano passado. Naquela época, eram 61 farmácias privadas ou vinculadas a entidades — como a do Sindicato da Alimentação e Associação dos Aposentados — e seis da rede pública de saúde. De lá pra cá, mais três foram inauguradas, totalizando 70 estabelecimentos em atividade atualmente.
Isso significa que a cidade tem uma farmácia para cada grupo de 1.300 habitantes. É 6,1 vezes mais do que o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica a necessidade de uma farmácia para cada oito mil pessoas. Já o CRF-PR (Conselho Regional de Farmácia) informou que há 108 estabelecimentos cadastrados no município junto à autarquia, no entanto, considerando também as farmácias existentes dentro de hospitais e clínicas e as do sistema público de saúde. A expansão
A atração de novas redes e unidades mostra que as marcas estão interessadas na cidade — e isso gera divisas e empregos. Para os consumidores, a existência de mais estabelecimentos, a princípio, pode parecer benéfica por dar mais opções de compra e preços menores, mas essa onda de farmácias deve ser observada com cautela, alerta o representante do CRF-PR na região, Juliano Benvenutto Gazzi. “Essa questão deve ser vista com preocupação, porque no Brasil se tem uma cultura muito forte da automedicação, de medicamentos que são comercializados sem receita aqui e que em outros países tem sua venda proibida ou controlada. Esse acesso facilitado a um rol grande de medicamentos, que passam a ser vistos como um bem de comércio, se reflete na proliferação de estabelecimentos farmacêuticos em várias cidades.”
Outro ponto levantado por Juliano é o de que boa parte das novas farmácias pertence a grandes redes, que atuam quase como distribuidoras, comprando em volume maior e preços mais baixos. Mas esse modelo de negócio e o acirramento da competitividade por preços tende a tornar as farmácias menores inviáveis e deve levar muitas à falência ou a serem incorporadas pelas redes.
Seis farmácias públicas
Além da rede privada, ao menos seis farmácias de Francisco Beltrão são da rede pública de saúde. Elas estão nos bairros Cango, Alvorada, São Miguel, Industrial, Padre Ulrico e na Cidade Norte e disponibilizam milhares de itens gratuitamente aos usuários do SUS. Segundo a coordenação da assistência farmacêutica do município, no primeiro semestre deste ano foram dispensados 3,8 milhões de medicamentos nestas farmácias — considerando cada comprimido ou frasco. Por dia, entre 1,5 e 1,8 mil pessoas são atendidas.
Segmento em expansão
No ano passado, os brasileiros gastaram R$ 121 bilhões em farmácias. Ao menos R$ 84 bilhões foi com medicamentos e o restante com produtos de higiene pessoal, bem-estar e cosméticos vendidos nos estabelecimentos. O faturamento do segmento cresceu 7,6%, segundo dados do Estudo de Mercado Institucional da IQVA, analisados pela Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar).
O mesmo estudo apontou que 30% dos medicamentos vendidos são os que não precisam de prescrição médica e prevê que o segmento crescerá 10% neste ano.