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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

”Eu estava sem força, mas queria que alguém me ouvisse”

Saúde

Uma leitora do JdeB encontrou uma escuta amiga no atendimento 188, ligação gratuita e sigilosa, a partir de celular ou fixo.

Fotos: Leandra Francischett/JdeB

Uma escuta amiga. A leitora Cristina [nome fictício] tem 27 anos e ligou para o 188 enquanto ainda morava em outro Estado. A ligação para o número 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV), é gratuita, sigilosa, válida para todo o Brasil, a partir de celular ou telefone fixo. O objetivo é prestar apoio emocional, sem julgamentos, como prevenção do suicídio.

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Cristina entrou em contato em duas ocasiões. Uma em 2017 e outra em 2018. “Eram anos em que eu já fazia tratamento psicológico e psiquiátrico, mas em momentos de desespero lembrei do CVV. Em ambas as situações eu estava sozinha e sem força para falar com alguém conhecido, ao mesmo tempo que queria que alguém me ouvisse. Eu precisava gritar.”

Assim como Cristina, as pessoas que ligam não têm o interesse em tirar a própria vida, mas sim aliviar a dor emocional. “Eu estava me sentindo perdida, angustiada e só. Acreditava que, se ninguém me ouvisse, era isso o que eu acabaria por fazer. Então liguei, uma pessoa me atendeu, não lembro se era homem ou mulher, mas era uma voz gentil. Eu só chorava. E a pessoa estava ali. Dizendo que estava ali e que ficaria ali enquanto eu precisasse.”

E acrescenta: “Acho que eu precisava daquela sensação, que ter uma companhia, ainda que desconhecida, me causou. Eu falava o que eu sentia e o que havia feito contra mim mesma, e em nenhum momento fui julgada. Pelo contrário. A pessoa pediu se eu queria que chamasse ajuda. A conversa fluiu com muito silêncio. Eu falando muito mais que a outra pessoa. Até que eu disse que não sabia mais o que falar. Na linha não tinha ninguém desesperado ou com dó de mim. Tinha uma pessoa com consciência e calma. E presente. Com tempo. Acho que isso fez a diferença.”

Engano: Ninguém pode me ajudar
Cristina então desligou o telefone e chamou um amigo. “Eu penso muito nisso, porque no primeiro momento não consegui chamar esse amigo. A ansiedade e a dor me faziam imaginar que eu não podia pedir ajuda ou que ninguém queria me ajudar. Mas quando alguém desconhecido se doou para mim, senti que talvez haveriam pessoas próximas dispostas a fazer o mesmo.”

Para ela, as doenças psicológicas e o adoecimento mental podem criar universos “onde não somos nada, onde ninguém nos ama e onde não somos necessários, mas são mentiras, sempre haverá alguém. E o CVV pode dar esse alguém”. Logo que ligou, ela conta que sentiu vergonha, assim como na primeira consulta no psicólogo, “em que não sabemos bem por onde começar”. Naquele momento, ela disse coisas abstratas, que só faziam sentido para ela e que só ali conseguiu colocar para fora. “E este desabafo faz toda a diferença. Às vezes a gente só precisa disso”.

Uma escuta amiga e sem julgamentos. Uma leitora do JdeB relata a experiência do atendimento 188, ligação gratuita e sigilosa do CVV, válida para todo o Brasil. 

 

Falar é a melhor opção
Cristina revela que nunca falou abertamente sobre suicídio por vergonha do que os outros podem pensar. “Abracei esse fantasma.” Ela também não se recorda como ficou sabendo do 188, mas acredita que foi por cartazes nos postos de saúde. “Era algo que importava pra mim, eu já imaginava que eu ia precisar de ajuda algum dia; acho que nesses momentos eu já pensava em me machucar, ao mesmo tempo que pensava em me salvar, por isso consegui prestar atenção nesse número. Acho que o lance é esse: a escuta. O CVV te ouve. Existem muitas palavras que podem ser gatilhos pra gente, então eles estão aí pra você colocar pra fora o que sente e isso, por si só, já faz você perceber que está tudo bem em sentir isso. E que vai passar.”

É hoje!
O CVV Comunidade de Francisco Beltrão organiza a live “Jovens e a prevenção do suicídio na pandemia da Covid-19”, hoje, às 19h30, no canal CVV Comunidade FB. O link já está disponível: https://www.youtube.com/watch?v=FXzyontl0Dw

Participam do evento as voluntárias Caroline Cortelini e Valquíria Kulig; Claudia Maio Antonelli, psicóloga na saúde pública, mestranda em Educação e professora na Unipar, e Messias Moreira, responsável pelo Programa de Valorização à Vida (PVV) do 16º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, em Francisco Beltrão.

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