Coordenador de estudo esclarece dúvidas e comentários frequentes sobre o assunto.
Um estudo multicêntrico conduzido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) confirmou a presença de Sars-CoV-2 em dois cães de Curitiba.
Esses foram os primeiros casos em cães identificados no Brasil. A pesquisa coordenada por Alexander Biondo, veterinário e professor da Universidade, também descarta que cães e gatos transmitam o vírus para seres humanos e que desenvolvam a Covid-19, doença causada pelo Sars-CoV-2.
O estudo é importante para coletar dados sobre o assunto e subsidiar políticas públicas e decisões tomadas por gestores políticos. Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre esse tema, que esteve em evidência nos últimos dias. Por isso, Biondo esclareceu as dúvidas e os comentários mais frequentes da sociedade. Confira:
A presença do vírus Sars-CoV-2 em animal quer dizer que ele tenha Covid-19?
O vírus denominado Sars-CoV-2 não é a mesma coisa que a doença. Não há, até o momento, nenhuma doença em espécie animal ocasionada como consequência da infecção do vírus Sars-CoV-2.
Temos apenas a Covid-19, que atinge somente seres humanos. Cães e gatos podem ser infectados pelo vírus, mas não desenvolvem doença, eliminando essa infecção viral em poucos dias.
Até agora, após todos esses meses de pandemia, os resultados que temos nos levam a concluir que cães e gatos não participam do ciclo de transmissão do vírus, embora se infectem e possam demonstrar alguns sinais respiratórios ou digestivos, no geral, não se detecta mais o vírus no animal após 3 a 15 dias, dependendo da espécie.
Nenhuma das duas espécies transmite para seres humanos.
A agenda de vacinação de animais domésticos contempla vacinas contra uma espécie de coronavírus. Esse coronavírus é o mesmo do que o que causa Covid-19?
Não. São vírus diferentes, apesar de serem da mesma família. Da mesma forma, espécies distintas do vírus Influenza causaram a gripe aviária e a gripe suína.
O Sars-CoV-2, causador da pandemia, é diferente daquele já conhecido que acomete o sistema digestivo dos cães e que está contemplado na agenda de vacinação. Esse tipo de coronavírus que possui a vacina animal não é tão infeccioso, mas, se associado com outros vírus causadores de problemas entéricos, como o parvovírus, pode levar a sinais clínicos bem graves e até a morte do animal.
Apesar de cães e gatos não desenvolverem a doença, quais cuidados os tutores contaminados devem ter com animais de companhia?
É o mesmo cuidado que devem ter em casa, com familiares e outras pessoas que moram junto, se alguém testar positivo.
Os tutores de animais de companhia, uma vez que tenham sido infectados, devem se manter em distanciamento social dos demais seres humanos e animais.
O cuidado é evitar beijos, abraços, lambidas e carinhos durante aproximadamente 15 dias e só quando não houver mais eliminação do vírus por via aerógena, voltar o contato normal. As pessoas também devem usar máscaras e lavar as mãos ou usar álcool em gel antes de manusear recipientes de comida e caixa de areia.
Qual a importância de realizar esse estudo, feito pela UFPR, para os dados e as descobertas sobre coronavírus em cães e gatos?
O estudo que estamos fazendo, coordenado pela UFPR, mas que envolve outras universidades e instituições em seis capitais brasileiras, é muito importante porque ajuda os tomadores de decisão, os profissionais dos centros de controle de zoonoses e dos órgãos gestores da saúde a entenderem que os cães e gatos não oferecem riscos de transmissão da doença, ou seja, não são reservatórios da doença.
O fato de cães e gatos poderem se contaminar com Sars-CoV-2 não pode ser justificativa para o abandono de animais, que é crime, caracterizado também como crime ambiental e maus-tratos.
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