8.2 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Tragédia a conta-gotas: um ano de pandemia no Sudoeste

Saúde

O efeito mais perverso da pandemia pode facilmente ser traduzido em insensíveis dados: até ontem, 2.692.806 pessoas haviam morrido em decorrência da Covid-19 no mundo; 290.314 no Brasil; 14.546 eram paranaenses e 102 de Francisco Beltrão. Mas, para quem perde a mãe, um irmão, o amigo de tempos, não é possível transformar estas ausências em estatísticas. “Era um pessoa simples, mas de coração enorme; prestativo, ajudava sempre as pessoas que precisavam dele”, declarou o cunhado de Adão Nonato, de 73 anos, primeira vítima do coronavírus em Beltrão.

[relacionadas]

- Publicidade -

Desde o primeiro óbito por Covid na região, em 13 de abril de 2020, foram 11 meses e 741 vidas. Muito mais gente sucumbiu à doença do que pelo tornado que atingiu Palmas em 1959, quando 35 pessoas morreram. No naufrágio da balsa no Rio Iguaçu em 73, a estimativa é de que cerca de 40 pessoas tenham morrido. “A tragédia provocou uma forte comoção na região de Palmas”, relatou matéria da Gazeta do Povo. “Os dias posteriores à tragédia foram de intensa dor e tristeza”, publicou o JdeB sobre o acidente da balsa. Só que, ao contrário das grandes catástrofes, as perdas de hoje vão se diluindo ao longo dos dias — é uma tragédia a conta-gotas — e, mais cedo ou mais tarde, transformam um número a mais no boletim em alguém conhecido.

“Infelizmente, o número por si só não possui a capacidade de nos sensibilizar. Ao contrário, facilita para que, pouco a pouco, aquilo que é horrível fique corriqueiro. Quando a mídia mostra o rosto e explica a trajetória de quem faleceu, ali sim acontece algo que aproxima minimamente o público do que é perder alguém que se ama. Ao humanizar a pessoa que sucumbiu à Covid, cria-se a possibilidade de empatia. E é somente por meio da empatia que a sociedade passa a ter mais cuidado com a sua saúde e a dos outros”, explica o psicólogo e psicanalista Érico Peres de Oliveira.

Em Francisco Beltrão, o vírus já vitimou jovem, político, empresário e gente simples. E quando a Covid bate à porta e leva alguém próximo, viver o luto para se acostumar à ideia da perda e da fragilidade da vida é essencial, segundo Érico. Não dá para ser indiferente, mas também não se pode deixar sufocar. Apesar do engessamento que o momento exige, é preciso se colocar em movimento: “Seja maratonar uma série, iniciar um curso on-line ou fazer chamadas de vídeo com amigos, o importante é experimentar a sensação de que algum avanço acontece. Compreender que a condição atual é temporária facilita para ultrapassarmos de maneira mais leve as trevas que a pandemia nos trouxe”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques