24.7 C
Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Por que ainda é tabu falar de suicídio? Porque falar de morte assusta

“A morte é um dos temas mais assombrosos que existem”, comenta a psicóloga Emilly Gomes Michels (CRP 08/33085).

Um assunto evitado, assim parece ser o tema suicídio. É um tabu falar sobre a finitude, sobre problemas e sentimentos angustiantes. “As pessoas ainda estão imersas em uma crença que diz que suicídio é para chamar atenção, é coisa de gente fraca e mais inúmeras justificativas irreais, pois não conhecem a dor que a pessoa está enfrentando para chegar nesse ponto. Precisamos conversar sobre isso e conscientizar as pessoas que é um assunto sério”, destaca Emilly Gomes Michels, psicóloga (CRP 08/33085).

Ela acrescenta que há uma “tendência de achar que nosso sofrimento é maior e por isso muitas vezes invalidamos a dor do outro, mas isso só acontece porque conhecemos apenas o próprio sofrimento, como a pessoa experiencia a dor dela, mesmo que numa situação bem similar à que você já passou, pode ser totalmente diferente”.

- Publicidade -

Emilly exemplifica: “Há quem diga ‘Ah, na minha época era bem pior e mesmo assim ninguém tinha depressão’ ou ‘eu sofri muito mais e hoje estou aqui muito bem’. Não invalide a dor de outra pessoa, você não sabe como a dor acontece dentro dela. As pessoas precisam se sentir acolhidas. Não é frescura, é assunto sério”.
Confira a entrevista.

 

“Não é frescura, é assunto sério”, destaca Emilly Michels, psicóloga.

JdeB – A pandemia pode ter acentuado quadros depressivos?
Emilly Michels: Aumentou significativamente. A mudança brusca na rotina, medo da morte e até mesmo morte de pessoas próximas, isolamento social, dificuldade financeira, desemprego, imprevisibilidade, falta de perspectiva… os motivos são vários. As pessoas tiveram de se adaptar a outro estilo de vida repentinamente, e geralmente mudanças doem. Tivemos de sair da nossa zona de conforto para lidar com uma realidade totalmente diferente, sem previsão de fim. A morte como assunto constante, a inconstância do dia a dia fomentou esse aumento expressivo nos casos de depressão e ansiedade no mundo.


A depressão é um dos principais fatores desencadeantes do suicídio. Quais as suas orientações?

As pessoas precisam encarar a importância de cuidar da saúde mental. Depressão não é frescura, é assunto sério! Para cuidar da sua saúde mental durante a pandemia não resuma seu dia em assuntos sobre doença e morte, procure hobbies, faça exercícios físicos, procure uma rotina saudável (seu corpo influencia na sua saúde mental), converse com pessoas de confiança com quem se sente confortável para compartilhar seus processos e, principalmente: procure um psicólogo. O psicólogo é um profissional preparado para acolher, ouvir e acompanhar o teu processo. É diferente de um amigo. Um amigo pode te ouvir e até mesmo te aconselhar, muitas vezes não vai saber como te ajudar também. A escuta qualificada e o ambiente psicoterapêutico fazem toda diferença.


O sono é restaurador das energias, mas em excesso pode indicar que algo está errado?

Sim. O sono excessivo pode ser um indicador de depressão. Mas não apenas, pode ser apenas uma questão de maus hábitos. É importante que analise a frequência desse sono e como você se sente durante o dia, apresente essas questões para um psicólogo para entender qual a função que esse sono está desempenhando no seu corpo.

Distúrbios alimentares também indicam que algo não vai bem?
Assim como o excesso de sono, distúrbios alimentares podem ser uma resposta a alterações na regulação emocional devido à pandemia. A mudança de rotina e foco também podem influenciar nesses distúrbios. A pandemia trouxe mais tempo em casa e mais tempo nas redes sociais, o que fomentou muito a comparação descabida entre corpos. Esse maior tempo em casa também levou as pessoas a aumentarem significativamente o consumo de comidas processadas e diminuir atividades físicas e vivemos em um mundo onde existe uma pressão social de padronização dos corpos. A ansiedade tem sido um dos fatores que vêm causando transtornos alimentares, gatilhos emocionais podem fomentar a angústia e fazendo a relação do indivíduo com a comida se tornar disfuncional. Comendo de maneira desenfreada ou comendo muito pouco para alcançar um padrão de beleza. Distúrbios alimentares como a anorexia, a bulimia e a compulsão alimentar são doenças e podem ter influência de vários fatores emocionais, genéticos, psicológicos e socioculturais. Como estamos vivendo um período de mudanças bruscas, o período fica mais propenso para desenvolver comportamentos alimentares inadequados em pessoas com propensão a desenvolver distúrbios alimentares. É um período de adaptação, e o corpo às vezes demora para se adaptar. Precisamos buscar formas saudáveis de prazer e aliviar a angústia. É importante se atentar e estabelecer uma relação mais saudável com seu próprio corpo.

[relacionadas]
O vício de álcool e droga pode servir como fuga?

Sim, é uma forma de reagir às situações de estresse, ameaça, ansiedade e desconforto emocional. Algumas pessoas usam substâncias em excesso para tentar construir uma realidade paralela e fugir do real problema. Como estamos vivendo um período, de certa forma negativo, de imprevisibilidade – não sabemos quando vai acabar, não sabemos se vamos nos contaminar ou se as pessoas que gostamos vão pegar o coronavírus -, algumas pessoas buscam uma “anestesia”, como reação a esses sintomas ligados a sofrimento, angústia e estresse.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques