O trabalho é feito com profissionalismo e respeito às famílias.

O índice de aceitação nas entrevistas com familiares de pessoas com morte encefálica para captações de órgãos e tecidos, pela Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Hospital São Francisco, de Francisco Beltrão, foi de 100% em 2020. Neste ano, sete famílias entrevistadas aceitaram a doação de órgãos e tecidos do familiar internado.
Todo paciente com AVC (Acidente Vascular Cerebral), trauma, tumor cerebral benigno ou que é internado com lesão neurológica grave é considerado potencial doador. Nos pacientes graves com achados de sinais de morte encefálica já se começa a comunicar a família sobre a possibilidade do diagnóstico. Os parentes são informados do protocolo de morte encefálica (ME) e dos testes que serão realizados pelas equipes médicas.
Mas a família só é abordada sobre a possibilidade da doação de órgãos e tecidos do paciente após a comprovação da morte encefálica. Há uma parte técnica e um protocolo que são seguidos pela C no contato com a família e esclarecido para que ela entenda o processo.
Também passam a ser permitidas as visitas dos familiares ao leito de UTI onde está internado o paciente. Devido à pandemia é permitida uma visita por dia, de 30 minutos, a cada paciente na UTI, mas no caso de possível morte cerebral tem sido permitida a visita mais contínua ao longo do dia, em preparação para a despedida.
Após o diagnóstico da morte, que é feito por três médicos através do protocolo de ME, a família é comunicada e passa a vivenciar o momento de luto. Nilson Naiz, enfermeiro e membro da Cihdott, diz que no diagnóstico da morte encefálica é explicado o que ocasionou o óbito do paciente. Caroline Garçoa, psicóloga e também integrante da comissão, diz que há famílias que ao saberem da morte encefálica já ventilam a possibilidade de doação dos órgãos do paciente. “A maioria delas”, frisa.
Balanço do ano
Em 2020 foram abertos 11 protocolos para captação de órgãos. Destes, sete famílias passaram pelas entrevistas para a doação de órgãos e tecidos, e quatro tinham contra-indicações. Nilson salienta que toda captação passa pela análise da condição de saúde do paciente. A triagem dos órgãos e tecidos que podem ser aproveitados é feita antes da conversa com a família. A partir desta triagem, a Cihdott já sabe quais órgãos e tecidos podem ser captados e doados para transplantes em outros pacientes.
Quando se abre o protocolo de morte encefálica, a OPO (Organização de Procura de Órgãos e Tecidos), de Cascavel, precisa ser comunicada. Neste momento é feita a análise dos órgãos e tecidos que podem ser aproveitados. A Cihdott já começa a colocar os dados da pessoa no sistema informatizado nacional para ver se ela é potencial doadora.
A partir da autorização da família, é feito o processo de doação com os documentos dos familiares – processo padrão em nível nacional. Os dados do paciente doador são colocados num ranking de busca de potencial receptor. Neste processo é explicado à família do paciente que há um tempo de até 24 horas para o sistema informatizado encontrar um receptor compatível e as equipes poderem se deslocar para realizar a captação. Durante este período o hospital mantém os medicamentos e aparelhos ligados da pessoa que teve morte cerebral confirmada. O desligamento dos aparelhos ocorre somente após a captação de órgãos no centro cirúrgico.
Encontrado o receptor ou os receptores, as equipes de transplante se deslocam a Francisco Beltrão, de avião, fazem a captação dos órgãos e tecidos no centro cirúrgico do Hospital São Francisco. Os órgãos e tecidos são colocados em caixas térmicas e os profissionais da equipe retornam, de avião, para fazer o transplante. Do Hospital São Francisco um médico anestesista auxilia na cirurgia e há apoio de enfermeiros e outras pessoas à equipe de fora. A maioria das cirurgias de captação estão sendo feitas de madrugada por questões de logística. A Cihdott não se envolve diretamente no centro cirúrgico.
Preferência no Estado
A Central de Transplante do Paraná regula as informações de transferência de órgãos e tecidos. A preferência é para que se consiga um receptor no próprio Estado. Se não for possível, a preferência é para receptores dos estados de São Paulo ou Santa Catarina, pela proximidade e tempo dos deslocamentos da aeronave. Mas a maioria dos órgãos e tecidos vêm sendo transplantados em receptores da região Oeste e os transplantes são feitos em hospitais de Cascavel.
As captações vêm ocorrendo, principalmente, de fígado, rins e tecidos – pele, córneas, ossos, válvulas cardíacas e tendões. Os transplantes de rins e fígados são, relativamente, mais fáceis de encontrar pacientes doadores e receptores compatíveis. As famílias dos pacientes doadores e receptores e os pacientes que recebem não sabem de quem está sendo recebida a doação.
O corpo do paciente é reconstituído com a cirurgia normal e as pessoas nem percebem que houve a captação de órgãos. Se houver a retirada da córnea, é colocada uma prótese de vidro. Após o fim da cirurgia, a família é comunicada para a retirada do corpo por empresa funerária, velório e sepultamento.
Quem compõe a Cihdott no Hospital São Francisco
Nilson Naiz, enfermeiro e coordenador da comissão, fisioterapeuta Thaís de Souza Rota, enfermeiras Lucimara da Silva, Eliane Rodrigues de Mattos e Janete Cerato, assistente social Maria Vanessa Callegaro de Lima, psicóloga Caroline Garçoa e os médicos André Kayano e Vicente Maranhão Leal.
Quem pode doar órgãos e tecidos
– Qualquer pessoa pode ser doadora, desde que manifeste seu desejo em vida para pessoas da família.
– Constar na Carteira de Identidade que é doador não é algo efetivo. No caso de morte da pessoa, a captação depende exclusivamente da autorização da família.
– Todas as pessoas que falecem com idades entre 3 e 71 anos são potenciais doadoras de órgãos e tecidos, salvo exceções.