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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Depressão pós-parto é mais do que uma tristeza; é uma doença e precisa ser tratada

Muitas mães acham que este sofrimento faz parte do “quadro”.

As puérperas merecem atenção especial. A psicóloga Marieli Bonato explica que a maternidade é construída processualmente muito antes da concepção do feto. “Pode-se dizer que é construída desde a nossa infância, através das atividades lúdicas, como brincar de boneca, a preparação na adolescência, na qual ocorrem as primeiras relações afetivas, e a gente chega na fase adulta em que começam as ideações entre ser ou não ser mãe. Em geral, a mulher é preparada para este evento e essa decisão sofre impacto de aspectos geracionais e culturais, que estão relacionados às construções sociais da mulher e da família.”

Ela comenta que, neste momento pandêmico, a solidão materna se torna mais evidente, pois, antes da pandemia, o acompanhamento gestacional poderia ser feito pela mãe e pelo parceiro ou outra pessoa próxima, assim como as reuniões de mães, que eram coordenadas por enfermeiras, que aproximavam a mulher do ser mãe.

Além disso, Marieli destaca que há uma diferenciação que a mãe percebe, pois durante a gestação as pessoas se tornam mais próximas, mais presentes, mas após o nascimento da criança, essas relações não são mais tão íntimas e ela acaba sentindo esta separação, esta solidão, sensação de abandono, pressão de ter que cuidar de tudo e mais a tarefa de ser mãe, o cansaço, a casa, o trabalho, a manutenção da própria qualidade de vida, que pode ficar um pouco de lado, pois é o momento em que ela se volta mais para o bebê e muitas vezes se vê sozinha. Esta mãe não tem quem cuide do bebê para ela dormir um pouco ou para que ela faça outra atividade. “Essa solidão materna é isso, é a questão da maternidade ideal, que a gente vê nos vídeos e com as blogueiras, e a maternidade real que é o que acontece.” Confira a entrevista.

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 Marieli Bonato, psicóloga.

JdeB – O que é depressão pós-parto?
Marieli Bonato: A depressão pós-parto se diferencia de outros momentos de tristeza por estar relacionada ao nascimento dos filhos, ao pós-parto. Pode estar relacionada à condição de gravidez que esta mãe enfrentou, como o apoio da família, a presença de um companheiro como figura paterna, o desejo ou não de engravidar, as questões sociais e a romantização da maternidade. Existe uma grande diferença entre a maternidade ideal, que é aquela que a gente sonha em ter, e a maternidade real, que é aquela que de fato vivemos. É um período de muitas mudanças fisiológicas, sociais, familiares e psicológicas. É um período em que a mulher assume um outro papel e precisa se adaptar a este novo ser, que acaba de chegar. Então, muitas vezes, esta diferença entre a maternidade ideal e a maternidade real é tão grande, que acaba gerando medo, frustração e uma tristeza profunda que desencadeia essa depressão.


Quais os sinais?

De modo geral, a depressão pós-parto apresenta o mesmo quadro clínico característico da depressão em outros momentos da vida feminina, só que vai ser acrescida de particularidades relativas à maternidade em si e ao desempenho desse papel de mãe. Então, sentimentos negativos, desinteresse pelo bebê e culpabilidade por não conseguir cuidar dele são frequentes e podem resultar num desenvolvimento insatisfatório dessa interação entre mãe e bebê. O afastamento ou a separação da criança pela necessidade de ser cuidada por outra pessoa pode dificultar ainda mais o estabelecimento de vínculos afetivos e fortalecer a sensação de inadequação materna. Os sintomas são irritabilidade, choro frequente, sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e de motivação, desinteresse sexual, alterações alimentares e de sono, sensação de ser incapaz de lidar com essas novas situações e queixas psicossomáticas. Podem apresentar sintomas como cefaleia, dores nas costas, erupções vaginais e dor abdominal sem uma causa orgânica aparente. Em linhas gerais, a sintomatologia depressiva não difere muito daquela presente em episódios não relacionados ao parto, incluem instabilidade de humor e preocupações com o bem-estar do bebê e a intensidade pode variar de exagerada a delirante. Sintomas mais comuns como desânimo, sentimento de culpa, alterações de sono, ideações suicidas, temor de machucar o filho, diminuição do apetite, da libido e do nível de funcionamento mental e a presença de ideias que podem ser obsessivas ou supervalorizadas.


Quais os tratamentos?

Não é difícil de ser diagnosticada, porém, muitas vezes, não é detectada pela equipe de enfermagem ou pelo obstetra num primeiro momento, por conta desses sintomas iniciais, que podem ser confundidos com o período de ajustamento emocional pós-parto, que vai ser denominado de uma tristeza pós-parto. No entanto, um bom vínculo entre o profissional e a puérpera tende a favorecer o diagnóstico precoce. O tratamento geralmente é estabelecido conforme a gravidade do quadro depressivo que ela apresenta; é baseado no mesmo instituído para depressão que não está relacionada ao pós-parto e pode ser utilizado a psicoterapia e psiquiatria em casos em que é preciso envolver ações medicamentosas.

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Quanto tempo após o parto pode aparecer a depressão?
As manifestações iniciais da depressão pós-parto ocorrem nas primeiras quatro semanas após a realização do parto, mas tem uma alta intensidade dos sintomas nos seis primeiros meses, mas pode durar um ano ou se estender por um longo período quando não for tratada adequadamente.


Como a psicoterapia pode ajudar?

A psicoterapia vem auxiliar neste processo de acolhimento à mãe, de entendimento de quais são as suas angústias e suas dores. É uma escuta especializada que a Psicologia traz, pois cada mãe vai sofrer de uma forma diferente, por motivos diferentes, e assim como outros tipos de depressão, existe uma individualidade que precisa ser analisada e precisa ser levada em conta.

Com a psicoterapia, podemos entender o contexto de vida que esta mãe vem passando, auxiliando na adaptação da nova fase e analisando o contexto geral em que a gravidez e o parto aconteceram e as particularidades de cada uma. Também é importante uma atuação preventiva das equipes de saúde, para que possam proporcionar o apoio às mães, principalmente para entender esta nova fase de vida. A psicoterapia auxilia no processo de acolhimento e entendimento, com novos olhares para esta nova fase tão diferente e tão especial. 

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