
Paisagens belíssimas, comparáveis às mais belas praias do mundo, cercadas de uma miséria assustadora. Em recente viagem pelo Nordeste do Brasil, pude verificar de perto o tamanho da desigualdade ali existente. As praias têm uma beleza que não cabem em fotos e vídeos.
No litoral de Alagoas, mais precisamente na Costa dos Corais, como é denominado o litoral Norte, o mar é de um tom esverdeado, águas mornas e longas faixas de areia, emolduradas por coqueirais a perder de vista. É possível caminhar quilômetros e quilômetros pela orla, sem encontrar ninguém. É um dos trechos do nosso imenso litoral quase inexplorado. O turismo é crescente na região, mas ainda não provocou impactos na paisagem.
Mas o que se vê bem perto dali é uma miséria assustadora. Povoados, vilas e pequenos municípios, onde a paisagem não tem nada a ver com o paraíso. Ruas com esgoto a céu aberto, esgoto escorrendo pela sarjeta, ruas de terra e muita pobreza por toda a parte. Casinhas, casebres e muitas crianças em quase todas as casas. As pessoas são acolhedoras e receptivas, mas vivem numa situação que mostra o descompasso de realidades, como não estamos acostumados a ver no Sul.
Claro, aqui também existe pobreza, pessoas em condições sub-humanas, mas nada comparável ao que se vê no Nordeste. No sertão nordestino, a realidade é ainda pior. Não se pode acusar as pessoas do povo por essa realidade. É uma gente trabalhadora, que se vira como pode para ganhar a vida. O problema nesses vilarejos esquecidos pelas autoridades é a falta de oportunidades. Não há emprego, mas as pessoas procuram empreender, comercializando algum tipo de comida típica, bordados ou renda e artesanatos variados. Em cada porta, há alguém tentando vender alguma coisa, ou iniciando um pequeno negócio, mesmo que humilde e muito pobre.
Esse absurdo contraste que salta aos olhos numa região belíssima no litoral e paupérrima no interior mostra que pouca coisa mudou naquela região mesmo com muitos discursos populistas. Há muito a fazer para que a população mais humilde seja alcançada verdadeiramente pelos programas sociais do governo. E só isso não será suficiente para modificar a realidade; enquanto não houver oportunidades e renda, a pobreza será dominante.