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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Dieta forçada

Não posso dizer que passei fome, aquela situação de ficar dias sem comer; no meu caso, passei quase duas semanas me alimentando unicamente de bananas. Tudo por culpa da lerdeza dos serviços bancários, quando não havia pix, aplicativos e transferências instantâneas.

No início de 1978, havia passado no vestibular e me mudei para a capital gaúcha. Lá, não conhecia ninguém; ao desembarcar na rodoviária, sequer sabia para onde ir. Cheguei em Porto Alegre numa terça-feira de carnaval e estranhei tantas pessoas fantasiadas nos ônibus urbanos, retornando do carnaval de rua. Me acomodei numa pensão, num sobrado decadente da Rua Fernando Machado.

Precisei pagar um mês adiantado e ali se foi quase todo o dinheiro que tinha levado. E me pus a fazer contas. Contando o valor para a passagem até a PUC, todos os dias, me restava pouquíssima grana. Em valores de hoje, pouco mais de 100 reais. Reservei o suficiente para o transporte. Fiquei quase duro. No ano anterior, tinha feito uma poupança, que me garantiria o sustento nos primeiros meses, caso não conseguisse emprego. Fui até a Caixa Econômica e pedi a transferência da minha poupança para a Agência da José do Patrocínio, na Cidade Baixa, perto de onde eu morava.

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E aí começou a angústia. Passou um dia, dois, uma semana e a transferência dos valores não se efetivava. Na segunda semana, já quase sem dinheiro, eu ia diariamente à agência para conferir a situação. Para comer, ia a uma feira próxima ao Mercado Central e comprava uma penca de bananas. Durante o dia administrava meu estoque, geralmente comia umas três ou quatro pela manhã, mais algumas ao longo do dia e as restantes antes de ir para a Faculdade, no fim da tarde.

De vez em quando, comprava um pãozinho pra variar. Até que lá pelo décimo segundo dia de espera, finalmente a moça da Caixa — que já estava cansada de me ver todos os dias ali — anunciou que o dinheiro estava na conta. Naquele dia, fui a um restaurante e pela primeira vez em quase duas semanas pude fazer uma refeição completa. Fiquei um tempão à mesa, saboreando cada garfada sem nenhuma pressa. Por desforra, pedi sobremesa e café no final.

Não vou negar que naqueles primeiros dias em terras gaúchas, muitas vezes pensei em pegar a mala e voltar para o Paraná. Então me dava conta de que não tinha dinheiro suficiente para a passagem. E fui ficando. O estranho é que mesmo com essa overdose de banana, não enjoei dela; continua sendo uma das frutas que mais aprecio.

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