Houve uma época em que inventamos um passatempo um tanto mórbido pra quebrar a monotonia em nossas viagens para transmissões esportivas. Fazíamos a narração de velórios imaginários, uma categoria jornalística não muito usual que conseguia distrair-nos nas intermináveis viagens pelas estradas do Paraná.
Em muitas ocasiões viajávamos com integrantes de equipes esportivas de outras rádios, para reduzir as despesas e também porque não tinha lógica um carro sair de Francisco Beltrão com duas pessoas e atravessar o estado. E as viagens tornavam-se mais divertidas.
Começamos pela narração de nossos próprios velórios, depois fomos aperfeiçoando, imaginávamos funerais de pessoas conhecidas que poderiam render alguma cena cômica. Invariavelmente os relatos imaginários incluíam a presença inoportuna de supostas namoradas ou inimigos do falecido ou da falecida, enfim, puro exercício de ficção. Ficava muito engraçado, porque alguém iniciava a narração e os demais iam acrescentando detalhes, o que sempre rendia boas risadas.
Em certa ocasião, numa tarde quente de verão, nosso destino era Paranaguá e descemos pela Serra da Graciosa. Durante o trajeto, Flávio Morcelli e Valdecir Maciel, ambos de saudosa memória, fizeram a narração do meu velório. Se tudo o que eles falaram realmente acontecesse no meu funeral, seria um dos mais movimentados da história de Beltrão. Os relatos eram minuciosos. “E então se aproxima do caixão uma linda mulher, elegantemente vestida, trajando um vestido preto. Ela começa a chorar copiosamente…”. E assim iam as histórias, muitas das quais descambavam para a baixaria, com brigas entre a esposa e supostas amantes, ou algo parecido.
O certo é que nos meus mais de 40 anos de rádio, nunca cheguei a narrar funeral, no máximo fiz alguma reportagem em local próximo ao velório, em respeito à família. Numa longa viagem que recentemente fiz sozinho, não sei porque me veio à lembrança das hipotéticas transmissões fúnebres. Enquanto dirigia e vencia os quilômetros, bateu a saudade dos meus companheiros de viagem. Era cansativo, mas divertido.