Ao longo de sua história, os moradores do município sentiram a necessidade de criar cooperativas de produção agropecuária, vitivinicultura, crédito e transportes. Hoje o município “respira” os bons ventos do cooperativismo.
Mariópolis, município com seis mil habitantes, tem no cooperativismo a mola propulsora de seu desenvolvimento sócioeconômico. Assim como os tecelões ingleses em 1844, em Mariópolis há 57 anos um grupo de agricultores pioneiros percebeu que precisava algo mais para mudar a dura realidade de então. Foi assim que cerca de 30 agricultores familiares fundaram a Cooperativa Mista São Cristóvão (Camisc), a primeira cooperativa de produção do município.
Histórias de família marcam a evolução da instituição desde a sua fundação. O atual presidente, Nelson De Bortoli, diz que o primeiro presidente, Orides Benato, foi até a propriedade de seus pais, numa noite escura, buscar a assinatura de seu pai na ata de fundação da cooperativa. “Seu Orides disse que encontrou meu pai às 9h da noite capinando próximo à casa, com um lampião aceso. A vida era dura, e o cooperativismo surgiu para melhorar a vida de todos, e melhorou”, conta.
Não é possível imaginar Mariópolis dissociada da história do cooperativismo local.
No primeiro ano apenas 20 sacas de soja
O cooperativismo foi crescendo, como a boa semente lançada em solo fértil. No primeiro ano de sua fundação, em 1963, a Camisc recebeu apenas 20 sacas de soja. Hoje processa dois milhões de sacas de grãos, e pretende dobrar este volume até 2022. Para isso investe em sua infraestrutura de armazenagem, possibilitando ao agricultor cooperado segurança e agilidade na entrega da produção. É através da cooperativa que os agricultores de hoje continuam a saga iniciada pelo pioneirismo de seus fundadores.
Eles recebem da cooperativa assistência técnica e maior retorno em suas atividades na lavoura. Mas a atuação da Camisc não fica apenas no viés de aumentar a lucratividade dos seus cooperados. A missão do cooperatismo vai além, proporcionando, às famílias cooperadas, cultura, lazer e esporte. Tudo isso em projetos como o Camisc Jovem, que procura difundir nos jovens cooperados a cultura da cooperação. E também o projeto Camisc Mulher, que promove cursos de capacitação e de valorização da mulher cooperada.
Novas cooperativas surgem
Após a consolidação do cooperativismo de produção, começaram a surgir outras necessidades, e a comunidade percebeu que precisava avançar. Surgiu então o cooperativismo de crédito, hoje presente de forma marcante em todas as atividades econômicas e sociais do município. Clóvis Paulichen, jovem gerente da agência Sicredi em Mariópolis, nasceu no município e hoje desenvolve sua carreira profissional na cooperativa. Oportunidade de trabalho para Clóvis e outros, que como ele, caso não existisse o cooperativismo de crédito, teria que ter deixado sua terra natal em busca de outras oportunidades.
Empreendedorismo com a força do cooperativismo
Para cooperados, empreendedores locais, passam a ser gestores dos recursos financeiros gerados pela força de seu trabalho, acesso fácil e rápido ao crédito para alavancar seus negócios. O empresário Diego Dal Zot é um exemplo disso. Através do cooperativismo de crédito consegue recursos para ampliar e modernizar seu posto de combustível. “Estamos investindo e buscando crescer, o cooperativismo de crédito aqui em Mariópolis nos ajuda a tornar os sonhos em realidade”.
Cooperativa Vinícola muda a realidade dos produtores de uva
Da cooperativa-mãe, de produção de grãos, surgiu também a Cootramario, Cooperativa de Caminhoneiros, que transporta as riquezas produzidas em Mariópolis. No esteio das cooperativas de grãos, de transportes, e de crédito, os agricultores familiares do município, tradicionais produtores de uva, também sentiram a necessidade de unir-se em torno do cooperativismo.
Fundaram a Cooperativa Vinícola São Francisco de Sales. Há 12 anos no mercado produzindo vinhos, processa 60 mil litros por ano. Hoje 48 cooperados estão produzindo em cerca de 54 hectares de parreirais. A cooperativa vinícola se prepara para crescer, e no próximo ano entrará no mercado de sucos, que movimenta atualmente mais de R$ 9 bilhões e cresce 2,5% ao ano no País.
O presidente da cooperativa vinícola, Waldir Fabbris, disse que ela foi um divisor de águas para os produtores de uva. “A gente cresceu e hoje o agricultor familiar de Mariópolis vê com alegria seu filho permanecendo na propriedade com perspectiva de vida e crescimento”, afirma.
Cooperativismo influencia todos os setores
A cultura cooperativista está presente em todos os segmentos da sociedade mariopolitana. Em seu gabinete, o prefeito Neuri Gehlen destaca que nas escolas municipais foi implantada no currículo escolar a disciplina de cooperativismo para desenvolver nas crianças a cultura cooperativista. “Nós acreditamos que o cooperativismo é a forma mais apropriada de crescimento e desenvolvimento social e humano”, afirma Neuri.
Um exemplo da influência do cooperativismo na melhoria da qualidade de vida das pessoas, e até na contenção do êxodo rural, está na família Rissardi, na comunidade de São Pedro, uma das regiões pioneiras na produção de uvas do município. Seu José, dona Terezinha e o filho Rodrigo representam a terceira geração na propriedade. A casa de madeira, imponente, com mais de 50 anos, foi construída com os pinheiros que cobriam estas terras.
Na propriedade herdada dos pais, seu José e dona Terezinha moram na casa preservada como patrimônio da propriedade. Aos fundos está a casa do filho Rodrigo, casado; ele permaneceu na propriedade. Para os pais, orgulho e felicidade de ver os filhos permanecendo na propriedade, garantia de continuidade da tradição familiar. Para Rodrigo, oportunidade de crescer e permanecer na propriedade, trabalhando no que é seu. “A chegada da cooperativa na uva, assim como na produção de grãos, mudou a nossa vida, eu não vejo outra forma de vida para mim e para a minha família”, afirmou o jovem agricultor.
Não deve ser coincidência Mariópolis comemorar em julho, mês marcado pelo Dia Mundial do Cooperativismo, seu aniversário. São 59 anos de desenvolvimento e progresso, com a cidade crescendo no entorno de suas cooperativas.
