A vida era mais simples, as casas menores, os carros menos sofisticados. Certamente que é uma evolução termos casas mais amplas e modernas, dotadas de ar-condicionado e outros confortos que não tínhamos há 30 anos ou mais. As viagens eram mais desafiadoras, havia menos rodovias asfaltadas e em muitos casos as estradas eram precárias.
E a gente viajava mesmo assim. Passávamos o ano inteiro programando as férias na praia e a família se amontoava num carro, com os vidros abertos, numa jornada cansativa. As crianças não tinham brinquedos tão sofisticados, muitas vezes eram carrinhos e bonecas de plástico, pouco mais do que isso. E eles cresciam sadios, brincando na rua até o anoitecer. Não havia nada para monitorar os seus passos; hoje as crianças não saem, vivem trancafiadas dentro de casa, diante de um celular ou de um computador.
Era uma época em que a gente tinha mais tempo para conviver, os dias pareciam mais longos. O fato é que as coisas mudaram, estamos sempre correndo atrás de uma promoção, novas metas financeiras, mais bem materiais Claro, os resultados apareceram, mas parece que as necessidades também aumentaram. Será que isso melhorou as nossas vidas? Se houvesse um jeito de medir a felicidade, hoje estamos melhor do que há trinta ou quarenta anos? Temo que não, e isso está visível na tensão das pessoas, na insegurança, nas preocupações em relação ao futuro.
Evoluímos materialmente, é fato, mas pagamos caro, abrimos mão da simplicidade em troca de apartamentos bem planejados, porém frios e impessoais. A convivência se tornou superficial, ninguém parece disposto a algum sacrifício para manter um relacionamento; é mais fácil trocar, seguir outro rumo. As pessoas também se tornaram descartáveis não somente na vida pessoal, profissionalmente também é assim. Não sei se esse era o futuro que sonhávamos. Quando a gente olha pra trás, não tem como não sentir uma pontinha de saudade daquele tempo em que tudo parecia mais simples.