Alguns barbeiros conhecem mais da vida dos clientes que seus cônjuges e muito mais que os confessores, pois é cada vez menor o número de pessoas que confessam.
É interessante observar que as únicas pessoas que têm todas as soluções para o País trabalham em barbearias ou são motoristas de táxi e aplicativos. E isso acontece não só no Brasil. Uma vez, em Montevidéu, num portunhol dos brabos, o taxista e eu começamos a criticar nossos governos e terminamos por concordar que os dirigentes de lá e daqui eram muito parecidos. Nas grandes cidades, mal você entra no carro, o motorista começa a discorrer sobre a situação local e não demora a apresentar as soluções.
Há uma tese que afirma que se a gente quer saber os rumos de uma eleição, é bom ouvir os taxistas. Eles são um termômetro fiel da realidade, possivelmente bem mais conectados que algumas pesquisas que são divulgadas por aí. “Os motoristas de táxi têm soluções para todos os problemas do País ou — dependendo do tamanho da corrida — do mundo”, constata o escritor Luis Fernando Veríssimo. Segundo ele, os barbeiros também não perdem a oportunidade para expor os seus planos de governo. Veríssimo, com sua verve humorística, sugere que quando os políticos tiverem falhado completamente na busca de soluções, devemos convocar barbeiros e taxistas para assumir os destinos da Nação.
Nas barbearias não é diferente. Precisamos admitir que a grande virtude dos barbeiros é que eles exercem um papel de psicólogos — pelo menos aqueles que deixam o cliente falar —, e ficam conhecendo os problemas pessoais, simples ou complexos, que são enumerados durante o atendimento. Alguns barbeiros conhecem mais da vida dos clientes que seus cônjuges e muito mais que os confessores, pois é cada vez menor o número de pessoas que confessam os pecados diante de um padre.
Em Beltrão, há um famoso cabeleireiro que segue o caminho inverso: apenas ouve e concorda com tudo. Chega alguém e elogia o prefeito. Ele só movimenta a cabeça e de vez em quando resmunga “é verdade, bem assim”. Dali a pouco chega um adversário e começa a desancar a administração municipal. E o nosso herói também ouve calado, faz discreto movimento de concordância e reforça “tem razão, é assim mesmo”. O mesmo comportamento vale para religião, mulheres e paixões futebolísticas. A tática deve funcionar, porque ele está há mais de 40 anos na profissão e tem uma clientela fiel.