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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Marcas que não se apagam

Nas horas de desespero, os soldados ingeriam até loção de barbear, motivados pela alta dosagem alcoólica. Ele não sabia se era melhor morrer em combate ou voltar como dependente de drogas.


Ex-combatentes americanos que sobreviveram na malfadada campanha do Vietnã, jamais conseguiram se ajustar à sociedade. Ou voltaram mutilados, inválidos ou desnorteados. Durante 17 anos, de 1959 a 1975, jovens soldados americanos eram mandados para a guerra num país desconhecido, um conflito que parecia interminável.

Se os que fazem a guerra fossem para o front, talvez as guerras não durassem tanto. Mas não: eles ficam bem longe dos bombardeios, a salvo das granadas, em momento algum manipulam um fuzil ou metralhadora, nem sentem o cheiro do sangue.

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Terminei de ler um livro que retrata o drama dos jovens soldados que retornaram com vida. Eles se sentiram rejeitados pela sociedade, que os considerava uma espécie de párias. Ninguém queria saber do sofrimento que eles enfrentaram, o inferno vivenciado e nem das feridas que ficaram.

Mesmo os que não tiveram mutilações, se transformaram em zumbis, com o espírito eternamente atormentado pela dor de ver tantas mortes, dor e sofrimento. O uso de drogas de todos os tipos, do álcool ao ópio é estimulado durante os combates, para camuflar o medo de combater. Nas horas de desespero, os soldados ingeriam até loção de barbear, motivados pela alta dosagem alcoólica. A certa altura do livro o personagem diz não saber se era melhor morrer em combate do que voltar como dependente de drogas e sem lugar na sociedade.

A guerra do Vietnã foi um dos capítulos mais humilhantes da história americana, um buraco sem fundo do qual tiveram que desistir sem perspectiva de vitória. Em suma, uma guerra inútil, em que morreram cerca de 60 mil jovens americanos para terminar na pior derrota do país num conflito armado. A estimativa é de que mais de 2 milhões de pessoas perderam a vida no confronto, em que aldeias inteiras foram dizimadas. Era comum o desembarque nas bases americanas de centenas de corpos dentro de sacos plásticos. Isso fez com que os americanos tivessem vergonha da guerra e tentassem fazer de conta que ela era um pesadelo, nada tinha a ver com a realidade. Daí o esforço para ignorar seus personagens ao retornar.

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