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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

O temor de ser feliz

Pensei que ele ficaria ainda mais feliz se pudesse voar. Então tive a ideia de levá-lo para uma viagem de Curitiba a Porto Alegre.


Existe o medo de ser feliz, como se a felicidade fosse algo que não merecemos. Aquela oportunidade não aproveitada para viver momentos inesquecíveis, que se apresenta sob tantas roupagens: pode ser uma festa, um passeio, uma viagem, ou simplesmente algumas horas ao lado de uma pessoa que nos encanta. E então, contrariando a lógica, declinamos, inventamos uma desculpa e deixamos a oportunidade passar.

Acho que todo mundo já viveu situações assim. O que não se compreende é a atitude de pessoas que sistematicamente se recusam a fazer algo que gostariam muito. É um paradoxo.

Nessas horas lembro de meu pai. Ele tinha uma fascinação pela aviação. Lembro de tantas ocasiões em que ele, já idoso, ficava sentado na varanda de casa, olhando aqueles riscos no céu e imaginando o destino daquele avião. Seguindo uma lógica própria, ele dizia que aquele avião estava seguindo para São Paulo, aquele outro para Buenos Aires e ficava com o olhar perdido no céu.

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Então eu resolvi fazer com que ele matasse a curiosidade. Uma vez fomos a Foz do Iguaçu e levei-o até o aeroporto. Ele olhava fascinado para os grandes jatos ao pousar ou levantar voo. Ao voltar para a casa, ele contava para as visitas o que tinha visto com muita empolgação. Pensei que ele ficaria ainda mais feliz se pudesse voar. Então tive a ideia de levá-lo para uma viagem de Curitiba a Porto Alegre. Quando falei com ele, fiquei surpreso com sua reação. Não aceitou a ideia, disse que não iria de jeito nenhum e que não era para tocar mais no assunto.

Fiquei surpreso com sua atitude. Hoje, passados tantos anos, compreendo melhor o seu comportamento. E em muitas ocasiões, agi igual o meu pai, recusando oportunidades especiais. Talvez o temor do desconhecido, ou a sensação de que não somos merecedores de algo seja a razão para tal comportamento. O fato é que acabamos desistindo de experiências que poderiam ser extraordinárias. Aí vem a insegurança e preferimos ficar na zona de conforto. E nos limitamos, pelo resto da vida, a conjecturar como seria se tivéssemos dado o passo que faltou.

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