Uma bem humorada crônica de Luis Fernando Veríssimo prevê que o mundo ainda será dominado pelos entregadores, ou motoboys. Em suas divagações, o autor afirma que chegará o dia em que receberemos tudo em casa e ficaremos o tempo todo longe das ruas. Tirando o exagero de um texto humorístico, temos que admitir que a categoria ganhou espaço na pandemia. Basta cair a noite, aumenta a quantidade de motos com aquelas caixas na garupa, à toda, pra cá e pra lá, transportando lanches e refeições as mais variadas.
Com o aumento do movimento desses veículos, multiplicam-se as ocorrências relacionadas a eles. Acidentes, incidentes e até assaltos a entregadores, em que estes têm a carga roubada, além do dinheiro e, por vezes, até a maquininha do cartão. Muita gente hoje se ocupa com esse trabalho, que é importante, mas demanda certas cautelas. Na ânsia de cumprir horários, muitos se arriscam de forma exagerada e se expõem.
O que já é perigoso pelo uso da moto num trânsito complicado, torna-se ainda mais arriscado pela pressa e vontade de fazer o maior número de entregas no menor prazo possível. Nas grandes cidades, os motoboys se arriscam em meio aos veículos e, além dos acidentes, não estão livres de conflitos com os motoristas que não gostam de ver as motos tão próximas de seus veículos. É a luta pela sobrevivência, que tristemente resulta em perdas de muitas vidas todos os dias.
O trânsito brasileiro é cruel e letal. Nossos índices se comparam — acertadamente — a estatísticas de guerra. Em 2021, foram 32 mortes por dia devido a acidentes de trânsito. Mas o ano passado foi atípico. Em 2020, foram 80 mortes diárias, o que é inaceitável. E ainda há o enorme contingente de vítimas, jovens em sua maioria, que ficam com sequelas pela vida toda, boa parte impossibilitados de ter uma vida normal. Terrível estatística que infelizmente mostra o quanto precisamos evoluir no que se refere à segurança em nossas ruas e rodovias.
Qualquer acidente, alguns com a morte de motoboys, é sempre uma tragédia, que deixa famílias e crianças desamparadas. Talvez seja exagero pensar que eles dominarão o mundo; mas é inegável que se tornaram personagens destacados de nosso tempo. A sociedade deveria ter um olhar mais humanizado em relação a eles.
