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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Só os bons momentos

Há um conto árabe que fala de um homem inquieto, conhecido como Buscador. Ele ouvira falar da beleza da cidade Kammir, um lugar muito distante, além fronteira, e ele decidiu conhecê-la. Depois de dias de uma dura marcha por estradas tortuosas, enxergou a cidade ao longe. Mas antes de atingi-la, encontrou um lindo parque com árvores, flores e pássaros em profusão, das mais diversas espécies. E o viajante decidiu descansar um pouco naquele lindo lugar.

Deitou-se apoiado no tronco de uma árvore, quando percebeu que no chão havia uma placa que dizia: “Abdul Tareg viveu quatro anos, seis meses e três dias”. O homem ficou assustado ao perceber que aquela era uma lápide e sentiu pena ao pensar que a pobre criança teve uma vida tão curta. Notou, que logo adiante havia outra placa com os dizeres: “Yamir Kalib viveu cinco anos, oito meses e três semanas”.

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Ao perceber que o local era um cemitério, passou a ler todas as placas e foi dominado pela melancolia ao constatar que quem havia vivido mais tempo mal chegara aos onze anos. Sozinho, chorou ao pensar que tantas crianças daquela cidade tinham vivido tão pouco. Foi quando apareceu o velho zelador do cemitério e perguntou porque ele estava chorando. Explicou que não tinha nenhum parente enterrado ali e quis saber que estranha maldição havia naquela cidade que levou à construção de um cemitério só para crianças.

O velho achou engraçada a conclusão do viajante e respondeu que não havia maldição alguma. “Aqui temos a tradição de, ao completar 15 anos, ganhamos de nossos pais um caderno de couro como este aqui que trago pendurado no pescoço. Quando acontece alguma coisa boa, abrimos o caderno e anotamos o ocorrido e o tempo que durou aquele bom momento”.

Todos os fatos bons devem ser anotados, explicou o velhinho. O namoro, o primeiro beijo, o casamento, o nascimento dos filhos e as viagens felizes. E concluiu dizendo que ao morrer, os amigos pegam o caderno e fazem a soma de todos os momentos felizes e escrevem na lápide o total obtido. “Para nós esse é o tempo que conta, o tempo verdadeiramente vivido”.  Não deveria ser esse o critério para medirmos nossas vidas?

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