Às vésperas de completar 70 anos, decidiu parar de trabalhar. Já estava aposentado há algum tempo pelo INSS, mas havia optado por continuar em atividade porque gostava do que fazia. Foi, desde jovem, um pedreiro de mão cheia, nunca lhe faltou serviço. Nos primeiros dias em casa, estranhou não ter que sair cedo, como fizera a vida toda. Foi então que teve a ideia de contar quantas casas tinha construído durante a vida.
Começou pelo próprio bairro. Uma manhã saiu a pé com uma caderneta e ia passando rua por rua, rememorando as obras em que trabalhou. Aproveitava essas andanças para rever antigos vizinhos, conversar com as pessoas. Eram muitas casas, lembrava detalhes e histórias de cada uma, algumas feitas no tempo em que estava começando na profissão.
Quando concluiu o levantamento no bairro, já havia contabilizado cerca de 80 moradias. A família estranhou, a mulher achava que aquilo não tinha fundamento, dizia que era uma esquisitice sair todos os dias para anotar as construções que tinha feito. Os filhos, influenciados pela mãe, também começaram a criticá-lo, dizendo que era uma perda de tempo, que ninguém fazia isso, que besteira querer catalogar as obras onde tinha trabalhado.
Ninguém entendia a sua vontade, mas ele sentia orgulho pelo trabalho realizado, afirmava que gostaria de deixar um documentário para os netos, mostrar fotos das residências e prédios que havia construído. Para isso comprou um celular, com uma boa câmera, queria fotografar cada uma de suas obras. A família continuava sem entender, achavam que era perda de tempo.
Não sei se conseguiu registrar tudo o que construiu. Fiquei um tempo sem vê-lo, e um dia estava fora da cidade, em viagem, quando recebi a notícia de que havia falecido inesperadamente. Apesar da boa saúde, teve uma morte repentina, pegou todo mundo de surpresa.
Lembrei de tudo isso quando fiquei sabendo de sua morte. Aquele homem humilde e trabalhador se orgulhava de ter erguido casas e prédios de todos os estilos. Levou para o túmulo a satisfação de ter sido uma pessoa útil, embora nem mesmo os mais próximos conseguissem entender o seu sentimento.
Só na praça
É uma pena que os sinais do Natal estejam restritos à área central da cidade. Se não fosse o investimento da Prefeitura, simplesmente não haveria decoração natalina. Em outras épocas, a cidade esteve bem mais luminosa nesta época do ano.