6.1 C
Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Uma vida que dá pena

Não tinha tempo para si, descuidou da aparência, a beleza aos poucos foi se esvaindo sob uma máscara de resignação e sofrimento.

- Publicidade -

Lá estão eles, quase dois estranhos dentro de casa. Pouco se falam, e as poucas palavras que trocam têm uma alta carga de contrariedade e tantas vezes há um tom agressivo na voz. Não há como definir o que eles são hoje. Marido e mulher, definitivamente não são. Há muito acabou a intimidade, dormem em quartos separados, carinho já faz tempo que não existe.

Comportam-se como se estivesse cada um carregando uma cruz, tentando se suportar mutuamente, o que parece cada vez mais difícil. Mal conseguem se encarar; quando os olhares se cruzam rapidamente, ambos tentam desviar de imediato e ainda assim não há como esconder um surdo ressentimento.

Ela já nem repete as acusações de que o marido é o responsável pela vida que hoje levam. Quase menina, deixou a casa da família para se casar com ele. Era a esperança de uma vida nova, longe do jugo do pai que não a deixava estudar e cortava pela raiz todos os seus sonhos. E ela tinha muitos, queria fazer faculdade, construir carreira e conhecer tudo o que não conseguira até então. Logo depois do casamento, percebeu que não seria tão fácil. Descobriu um lado obscuro no homem que a levara ao altar.

Ele bebia de forma descontrolada e, embriagado, tornava-se agressivo, muitas vezes ameaçou agredi-la. Bem mais jovem que ele, era vítima de um ciúme doentio que a impedia de quase tudo. Logo vieram os filhos, um atrás do outro. E a vida foi se tornando cada vez mais distante do que ela tinha sonhado.

Passou a dedicar às crianças todo o afeto e dedicação de que era capaz. Não tinha tempo para si, descuidou da aparência, a beleza aos poucos foi se esvaindo sob uma máscara de resignação e sofrimento. Foi se afastando cada vez mais do marido, que hoje é um homem doente, frágil e completamente fora da realidade.

Os filhos estão cuidando de suas vidas, cada um tomou seu rumo e hoje os dois se transformaram em dois solitários dentro de uma mesma casa. Um lugar triste, onde não há mais sonho nem esperança.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques