Na democracia, é fundamental a alternância de poder. Era o que se reclamava, por exemplo, de Fidel Castro, e ele, sempre com muita lábia, reagia: “por que não pedem democracia ao Papa ou à rainha da Inglaterra?”. Ou ainda: “sou um revolucionário, e os revolucionários não se aposentam”.
Estive na Praça dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro passado quando foi lembrado o que aconteceu dois anos atrás, com manifestantes depredando as sedes dos Poderes da República. Assisti depois pela televisão ao ato que se realizava dentro do Palácio do Planalto. Lula desceu a rampa e foi realizada uma cerimônia tendo no centro da praça a palavra “democracia” escrita com flores que os presentes levaram de lembrança.
Sim, a democracia é o grande desafio do Brasil, país que viveu quase 400 anos de escravidão. A democracia, para existir, depende da educação do povo e da opinião pública. E não apenas no Brasil: a opinião pública tem se tornado cética com relação à democracia. Grandes empresários, por exemplo, passam a ter admiração pelo modelo chinês e, em muitos lugares, a depender do povo mesmo, lá onde a democracia já foi vigorosa, o regime autoritário parece ganhar força e legitimidade.
Se assim é em lugares onde a democracia já foi um grande consenso, é de se imaginar que, no Brasil, construir uma democracia tornou-se um dos maiores desafios. Quando esta questão entra em pauta, lembro sempre do meu pequeno Uruguai, país da minha infância que, em termos de democracia, muito tem para ensinar a seus dois grandes vizinhos, Brasil e Argentina.
A cultura democrática é uma construção histórica que, no Uruguai, tem sido preservada e até mesmo ampliada. Ano passado, eles também lembraram os 50 anos do golpe cívico-militar de 1973 e, na cerimônia, lá estavam todos: desde o general de extrema-direita até o ex-presidente e líder guerrilheiro José Mujica. As mais diferentes vertentes ideológicas estavam lá, sentadas na mesa de honra, todas as autoridades aplaudindo o slogan “Democracia Sempre, Ditadura Nunca Mais”.
No Brasil isto não parece ser possível. No dia 8 de janeiro, à mesa de honra, não estavam, por exemplo, os presidentes da Câmara e do Senado, e na Praça dos Três Poderes não estava o povo da, por assim dizer, direita democrática, vi apenas militantes de esquerda.
E, claro, a nossa esquerda não é que tenha muita moral para se apresentar como defensora da democracia, porque se a ditadura for de esquerda, ela tende a apoiar a ditadura. No Uruguai, José Mujica diz claramente: a guerrilha foi um erro. E ele também condena o atual regime da Venezuela, de Nicolás Maduro.
No Brasil, nossa esquerda tem dificuldades de se distanciar de Maduro e do regime venezuelano. Na democracia, é fundamental a alternância de poder. Um mandatário que pretende se eternizar no poder não pode ser chamado de democrático.
Aliás, era o que se reclamava, por exemplo, de Fidel Castro e ele, sempre com muita lábia, reagia: “Por que não pedem democracia ao Papa ou à rainha da Inglaterra?”. Ou ainda: “Sou um revolucionário, e os revolucionários não se aposentam”.
Mas, enfim: lutemos para que a democracia se consolide no Brasil!