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Francisco Beltrão
sexta-feira, 13 de junho de 2025

Edição 8.225

13/06/2025

O passeio do nosso leite

Dias atrás estive no município de Guaraciaba, em Santa Catarina, uma referência na produção de leite do estado. Para minha surpresa, bem no interior do município, encontrei um grupo de umas 25 famílias de pequenos produtores de leite que negociavam em conjunto o leite. Perguntei a quem eles entregavam e me responderam: para um laticínio em Santa Izabel do Oeste, no Paraná!

Quanto pagam para vocês? R$ 2,60 por litro. Sendo que os menores produtores, desses que produzem apenas 500 ou 600 litros por mês, recebem cinco centavos menos. E todos os produtores tiram nota fiscal e o frete é por conta do laticínio.

Fui na Prefeitura para ter informações e, realmente, todos os produtores que comercializam leite no município tiram nota fiscal e ganham um crédito municipal por tirarem nota. Gente do grupo de produtores explicou: é que o nosso leite é mais gordo, tem mais sólidos que o dos grandes produtores, por isso o laticínio de Santa Izabel do Oeste está contente com nosso leite.

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Ou seja, coisas do Brasil. Um laticínio é capaz de ir buscar a quase 200 km de distância leite de pequenos, e mesmo muito pequenos produtores, enquanto eles não conseguem vender para os muitos outros laticínios que têm por perto. Me responderam: os laticínios daqui querem acabar com nosso grupo!

Pronto, esse é outra vez o Brasil velho de guerra! Os laticínios, e as entidades em geral, temem a organização de base, temem o empoderamento dos produtores, mesmo sendo eles muito pequenos. Assim, nossos laticínios destroem aqueles que podem produzir com baixo custo e leite com mais sólidos.

Perguntei se tinham acesso à assistência técnica e me responderam que tinham seguido por anos o serviço da Ateg-Leite, do Senar. Perguntei então: mas por qual razão ainda produzem tão pouco? Me responderam: o Senar foi bom, mas nós ainda não conseguimos produzir mais pasto.

Bom, pensei, pelo menos eles têm agora consciência de que falta melhor pasto para suas vacas. Falaram-me até em projetos de irrigação. Mas o drama é esse: nossas vacas a pasto têm pouco pasto!

Concluí que, certamente, o processo de profissionalização dos produtores leva tempo e vencer a tradição custa bastante. Mas pensei comigo: eu mesmo preciso, por ordem médica, fazer um mínimo de 20 minutos de exercícios por dia e não consigo mudar de hábito, e tenho uma formação privilegiada, então não tenho moral para exigir mudanças de hábito de pequenos agricultores.

Mas bem que poderíamos exigir mudanças das nossas entidades e do poder público para que fortaleça a organização de base dos nossos agricultores e racionalizemos nossa logística e os serviços de assistência técnica.

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