9.2 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Seu Porto Alegre e meu acidente holandês

A terceira idade serve sobretudo para valorizar e transmitir a história, principalmente, para os mais jovens. E lembrando um pouco da minha história econômica gosto de relatar a importância de todos, desde jovens, batalharem por terem seu próprio imóvel, casa, apartamento ou sítio. Conto a minha história porque penso que pode ser uma reflexão útil para os mais jovens que estão começando a vida.

Morava aqui, no Bairro da Cango, um dos primeiros funcionários desse órgão, chamado Olívio Poletto, popular Porto Alegre. Ele chegou em Francisco Beltrão, a passeio, em 1949, e acabou logo sendo contratado pela Cango que acabava também de chegar. Quando falei com ele, devia estar sobre os 60 anos, mas a sua saúde já não era boa, e ele morava numa velha casa de madeira, cedida pelo Incra, que tinha sido a sua casa de funcionários da Cango e depois Incra.

- Publicidade -

Lembro que ele me disse: “Quando cheguei aqui, esta cidade não tinha nem rua e hoje eu sou o único que não tem nem um lote…”. Sim, quando ele chegou em Francisco Beltrão mal existia uma estrada e a ponte sobre o Rio Marrecas recém-construída. Ou seja, ele poderia ter enriquecido junto com a cidade só com a valorização imobiliária de alguns lotes que poderia ter comprado, então com facilidade.

Ao me dizer isto eu pensei, “comigo não vai acontecer isso que aconteceu com ele que chegou no fim da vida sem lote e sem casa”. E assim foi, quando a Assesoar colocou lotes à venda, eu me apresentei como comprador de um lote de esquina como poucos e tinha boa ensolação. Custava R$ 13 mil reais, e pensei, vou comprar com um colega porque assim fazemos duas casas, o lote parecia caro. O meu colega voltou atrás me dizendo, não vou imobilizar…Voltei para a secretária para desfazer o negócio e, como as vendas não aconteciam, me responderam: mas agora já encaminhamos o negócio… (acharam um comprador!) e eu acabei ficando com todo o lote.

E então fiquei na expectativa de construir minha casa. E ela apareceu quando, por um erro, meu chefe, na Bélgica, temendo que eu pudesse ir embora daqui, me deu a oportunidade de fazer minha casa. E, 20 anos atrás, lá foram mais cem mil reais. Hoje precisaria quatro vezes mais e, desde então, eu não pago aluguel. E o meu colega que não quis entrar na sociedade ainda hoje não tem casa, mas se tornou funcionário público e se não cortarem as promoções previstas na sua carreira, terá pelo menos a felicidade de se aposentar melhor e com a promoção pagar o aluguel.

Mas fica um alerta, o local de moradia é sinal de status e é preciso se ater às consequências de “dar na vista”. Na sociedade, parecer honesto é mais importante que ser honesto. E quando alguém constrói mostra dinheiro e logo vem a pergunta, de onde tirou?

Eu mesmo sofri o que chamo ‘meu acidente holandês’, pois meus novos colegas provindos desse país me denunciaram por “fazer especulação imobiliária com dinheiro da cooperação”. Acabaram comigo! Mas, apesar de tudo, dou graças ao seu Porto Alegre que me indicou um caminho para uma velhice mais segura.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques