Em Brasília os empresários piratas não são tantos quanto parecem ser, mas são os que mais ganham visibilidade por conta das encrencas que criam. Ouvi de um grande empresário “é preciso identificar os tubarões brancos”, ou seja, aqueles com os quais pode-se ter confiança e fazer negócios. Na vida aquática os tubarões brancos são grandes e perigosos para os seres humanos, mas é verdade, tem essa diferença de não serem “encrenqueiros” como outros tipos de tubarões.
Em geral, empresários tipo “tubarão branco” são os que mantém certa distância com o poder público, já que ao trabalhar com governos é quase impossível não enfrentar no mínimo tráfico de influências. Gestores, que sempre dependem de apoio de políticos, fazem com que estes cuidem de indicar apadrinhados para ocupar funções em organizações que trabalham com recursos públicos, daí a fazer “caixa” é apenas mais um passo. Indicar como gestores de recursos públicos funcionários de carreira é uma medida salutar sim, porque estes arriscam perder até sua aposentadoria dependendo da “encrenca” política na qual possam ser denunciados. Já quem ocupa cargo comissionado sem ser da carreira do funcionalismo, não arrisca tanto.
Mas o governo federal é isso, grande parte da máquina federal cuida da liberação de recursos e uma outra parte cuida do controle dos mesmos. E tem então os lobistas que são aqueles com trânsito sobretudo no poder executivo que ajudam na liberação de verbas. Mas dentre estes, os mais ousados e próximos da corrupção são os chamados “milagreiros” que topam qualquer desafio e cobram um percentual sobre o valor liberado, dependendo do tamanho do desafio, isto é, do quanto pareça difícil a liberação de determinados recursos. Na sequência vem as “lavanderias”, ou seja, como dar aparência legal a grandes somas de dinheiro de origem duvidosa ou mesmo ilegal. Escritórios de advocacia, imobiliárias e comércios que lidam com muito dinheiro em espécie.
Não por nada, a operação “Lava Jato” ganhou este nome porque se tratava do posto de combustível da Torre aqui em Brasília. Em resumo, pelas bandas de Brasília é preciso cuidado para não acabar tendo que “dançar conforme a música” ou cuidando da “ética do mercado” junto com burocratas bem pagos e empresários piratas. Mas a grande maioria vai cuidando da vida na capital federal que tem um alto custo para se viver, com remunerações que são relativamente baixas.
A grande massa do funcionalismo ganha entre R$ 8 mil e R$ 15 mil por mês e muitas vezes como “terceirizados” de organizações internacionais para as quais o governo brasileiro contribui e assim, por meio deste artifício, faz “seleção pública” de trabalhadores com contratos precários, sem recolher previdência e nem pagar imposto de renda. Situação muito diferente da “casta” capaz de sobreviver a qualquer governo. Enquanto algo como 70% dos recursos públicos passarem por Brasília, nossa capital federal não terá como ser “cidade honesta”.