Temos a tradição de que tanto empresas quanto universidades ficam presas em seus casulos, e não interagem entre si. Se temos instituições cujo intuito é formar, desenvolver o senso crítico e profissional do cidadão, qual a dificuldade em conversarem? A colaboração entre a academia e as empresas é vista como essencial para as economias crescerem, mas há muito a se mudar e uma delas é o sistema ou, me atrevo a dizer, o modelo de ensino.
Existem bons exemplos de como essa colaboração pode dar bons resultados com o desenvolvimento de novos produtos, de novos serviços e o consequente registro de patentes de invenções e de modelos de utilidade. Falando esta semana aos alunos da pós-graduação da Unipar, do Curso de Gestão de Cooperativas, discutimos justamente isso: o quão é necessário mudarmos nossa matriz exportadora de produtos de baixo valor agregado e de commodities, e passarmos a exportar tecnologia. E isso só é possível quando instituições de ensino e empresas se dão as mãos. Será que é tão difícil? Ou os mestres só estão preocupados com suas progressões salariais? Estou cometendo uma heresia? Se não for isso, então podemos dizer que agora vai? #ficaadica.
Tive a honra de conhecer algumas instituições de fora do País que fazem esse tipo de interação: Universidades e empresas, e, pasmem, são regiões superdesenvolvidas. Então por que não fazer o mesmo por aqui? Francisco Beltrão e o Sudoeste do Paraná possuem mais de 100 cursos, tanto nas universidades públicas quanto nas particulares. Quando digo mais de 100, me refiro aos cursos presenciais, nas mais variadas áreas: educação, engenharia, software, exatas, humanas, saúde, etc, mas parece que está difícil de saírem do casulo. Romper as quatro paredes parece ser algo inalcançável! Aí o leitor vai dizer: claro, seu Inácio, mas o nosso empresário também não está preparado. Mas e o que temos que fazer, então? Prepará-lo! Simples assim.
Mais do que nunca, as empresas precisam inovar, por uma questão de sobrevivência, e nossas academias são peças-chave nesse processo, mas estão totalmente subutilizadas. Existe diferença entre pesquisa e valor. Pesquisa sem aplicação prática é só para gerar artigos e enriquecer curriculum. Poucos são os benefícios além-paredes (se é que me fiz entender).
Um outro elemento que trago para reflexão são os cursos de mestrado e doutorado. Vejo muitos mestres e doutores sem nenhuma experiência de vida profissional. Apenas acadêmica. Não estou dizendo que isso é mau. Estou dizendo que a experiência profissional deveria ser considerada para se ingressar numa vaga para mestrado e doutorado. Muitos estudantes tornam-se apenas discípulos e pesquisadores para as pesquisas de seus orientadores. Vale tudo pelo diploma e progressão na carreira acadêmica, mas não necessariamente para converter os estudos em resultados para a sociedade. Novamente não estou dizendo que está certo ou errado, estou apenas fazendo um questionamento.
Em suma, é preciso orientar nossos estudantes para a economia, para o desenvolvimento de atividades produtivas, de melhoria de processos, para a solução de problemas, e não para o desenvolvimento de artigos e pesquisas, que são muito bem redigidos, mas que muitas vezes servem apenas para afagar o ego de meia dúzia.