Senna tornou-se mais do que apenas um piloto de Fórmula 1. Atravessou gerações e conquistou corações de quem nunca o viu correr.
Mesmo sendo da década de 90, eu não tive a oportunidade de ver Senna correr. Quando ele bateu forte na curva Tamburello – naquele trágico 1º de maio de 1994 –, eu tinha apenas dois anos. Quando tive mais noção do que era a Fórmula 1, lá por 2000, acompanhava junto de meu avô e meu pai aos domingos, depositando a esperança agora em Barrichello, mas ainda era visível o peso da ausência de Senna. Infelizmente, para nós que não o vimos em vida, a tragédia acaba sendo mais evidente do que seus feitos.
Documentários, séries e reportagens – das inúmeras que vi – paravam exaustivamente naquele momento, naquele carro da Williams chocando-se violentamente contra o muro, do Senna sendo reanimado no concreto, seu corpo sendo levado com urgência ao hospital, do lamento da morte.
Hoje, mais de 30 anos após nos deixar, Senna continua muito presente e reverenciado no automobilismo. Talvez seja por sua ousadia nas pistas. Talvez por sua paixão pelo Brasil. Talvez pela forma como morreu fazendo aquilo que amava fazer. Talvez pela pessoa que ele foi.
Érik Comas sempre deixou clara sua gratidão a Ayrton por ter salvado sua vida em 1992. Durante os treinos no Grande Prêmio da Bélgica, Comas bateu na curva Blanchmont, ficou inconsciente e seu carro em aceleração máxima, no meio da pista. Senna estava logo atrás, viu o acidente. Imediatamente parou, saiu em direção ao carro de Comas em meio a fumaça, destroços e outros carros que vinham em sua direção e desligou o veículo, evitando um incêndio.
Ao igualar Senna, atingindo 41 vitórias, em setembro de 2000, o alemão Michael Schumacher chorou. O britânico Lewis Hamilton tem Senna como seu ídolo; ele desfilou com a bandeira do Brasil após sua vitória em interlagos em 2021, assim como Senna fez em 1991 e 1993.
Fico pensando como foi para os que acompanharam o auge da vida daquele piloto, até um pouco rebelde, nas décadas de 80 e 90. Daquele que, com a Toleman, pressionou o já conhecido Alain Prost em 84, em um dia chuvoso de Mônaco. Rei da chuva, alcunha que recebeu por tamanha habilidade em correr em pistas molhadas. Mais tarde, também seria conhecido como o Rei de Mônaco.
A corrida seguinte após sua morte foi justamente Mônaco. Quando revisitamos gravações da época, percebemos que o clima estava pesado. Alguns pilotos, como o próprio Barrichello, afirmaram isso. Os pilotos se reuniram antes da corrida para prestar homenagens a Senna. Não teve pole position, quem garantiu o primeiro lugar nas classificações assumiu o segundo lugar na pista – o primeiro permaneceu vazio, pertencia a Ayrton.
Deve ter sido amargo o campeonato daquele ano e os que vieram após ele. Acredito que muitos brasileiros abandonaram a Fórmula 1 ali. Mas Senna tornou-se mais do que apenas um piloto de Fórmula 1. Atravessou gerações e conquistou corações de quem nunca o viu correr. Quase folclórico, arrepia até hoje quem escuta os seus ecos pelas pistas de Suzuka, Mônaco ou Interlagos.