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segunda-feira, 02 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

”No ambiente hospitalar, as emoções e os sentimentos estão sempre em níveis muito acelerados”

Esse é o desafio que Débora Bianchin, psicóloga do Hospital São Francisco, precisa encarar diariamente. Ela atua com psicologia hospitalar e, além de acompanhar os pacientes que ocupam os quase 100 leitos e os 190 colaboradores diretos do São Francisco, precisa lidar com as famílias, muitas vezes em situações extremas de estresse, entendendo o que ocorre na conduta médica e traduzindo estes acontecimentos para os familiares.

 

 

Débora Bianchin, psicóloga do HSF:
“Para dar conta, é preciso manter-se
bem e ter a cabeça aliviada”.
Foto: Alex Trombetta/Gente do Sul

Como para qualquer profissional de saúde, a rotina da psicóloga Débora Bianchin não é moleza. Há pouco mais de um ano, quando assumiu o cargo no Hospital São Francisco, em Francisco Beltrão, ela até imaginava os desafios que encontraria, mas nunca havia atuado diretamente com a psicologia hospitalar. 
A psicologia no Brasil é algo bastante recente e foi só a partir de 1964 que seus conceitos e práticos começaram a ser difundidos. A psicologia hospitalar, então, é ainda mais nova e, muitas vezes, até incompreendida ou explorada de forma ineficiente. “A psicologia hospitalar entrou com força quando a medicina começou a perceber o ser humano como algo mais complexo, além do lado biológico. Passou a se perceber o ser por outros campos, o lado social. Não se baseia só na doença, mas no contexto familiar. Investigamos um pouco mais do que o médico. E os médicos dão cada vez mais espaço para a gente trabalhar”, relata Débora.
O dia a dia do psicólogo que atua em hospitais se difere muito do trabalho no consultório. Débora aponta algumas dificuldades do ofício: “A gente trabalha aqui um contexto tão abrangente, que não tem como fazer psicoterapia individual, ou algo assim. Demanda tempo e trabalho, e nós temos quase 100 leitos, apenas uma psicóloga, não é possível atender cada paciente, até porque o tempo de permanência dos pacientes no hospital costuma ser muito curto”. 

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Foco na situação do momento
Uma estratégia do trabalho da psicologia hospitalar é o foco na situação que o paciente e a família estão passando, algo breve, para que este momento no hospital seja menos pesado. Casos em que ocorre óbito do paciente ou abuso sexual, o acompanhamento do psicólogo é mais detalhado, mas também limitado. “A gente atende enquanto está aqui e quando sai e percebemos que precisa continuar recebendo atendimento, a alternativa é encaminhar para outros profissionais. Não conseguimos acompanhar depois que vai embora, e aí perde o vínculo com aquele paciente”, comenta Débora. 
A profissional atende principalmente as famílias que estão na UTI, de dez leitos, e integra uma equipe multidisciplinar, que consegue atuar com muito mais eficiência. Ela diz que é preciso ter olhar crítico, afinal, cada pessoa traz sua história e sua vivência e, às vezes, tem carga emocional mais desenvolvida do que outras. “Trabalhamos mais focados nestas famílias, numa equipe que tem médico, enfermeiro, nutricionista, farmacêutico, e a psicologia facilita a comunicação entre os médicos e a família. Às vezes ele passa, visita, explica e quando a gente chega, a família ainda tem dúvidas, então é nossa responsabilidade acompanhar, ouvir mais, explicar de forma mais fácil para entenderem”, esclarece.

 

Aprendizado da psicologia hospitalar é diário

O conhecimento dos termos médicos, doenças, procedimentos e medicamentos foi outro desafio para a psicóloga, que teve sua formação mais voltada para o lado social. Segundo ela, o aprendizado é diário e a atuação com a equipe multidisciplinar facilita muito este processo de conhecimento. “Não é pra qualquer um, existe psicólogo para todas as áreas. Depois da faculdade, precisa se sintonizar e ver o que gosta, para onde vai. É constante o aprendizado, precisa de pós e atualização, existe muita coisa nova na área da psicologia, é constante o desenvolvimento e precisa buscar novas ferramentas. Quando sai da graduação, tudo é um desafio”, analisa.
Para os novos profissionais que pretendem seguir o caminho da psicologia hospitalar, Débora ressalta a importância do aprendizado constante e também da preocupação com a própria saúde e bem-estar: “Para dar conta, é preciso manter-se bem, ter a cabeça aliviada para estar aberto para as demandas que vão surgir. Tem dias mais difíceis, outros mais leves, como qualquer profissão. É sempre importante que os psicólogos façam acompanhamento psicológico, eles também precisam organizar seus pensamentos. No hospitalar, os sentimentos e as emoções estão sempre num nível muito acelerado, envolve tragédias como acidentes de carro, as famílias chegam com estresse altíssimo; é preciso preparo”.

 

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