
Por Beto Rossatti – O escritor e historiador Rafel Baldin conta em sua obra a história da “Favela do Cabo Dito”, como ficou conhecida entre os anos 1968 e 2010, um pequeno conjunto na Vila Esperança, em Pato Branco.
O autor alerta para a necessidade de ir além da compreensão de favela como um fenômeno urbano e como um espaço de ausências, e olhar para a favela como um lugar que possui histórias e memórias, as quais podem fornecer outras leituras e reflexões sobre o tempo passado e o tempo presente do País, de uma parte dele ou sobre uma cidade à medida que os sujeitos históricos que ali vivem (ou sobrevivem) possam ser objeto de atenção e reflexão para trazer à luz suas escolhas, modos de vida, vivências e sociabilidades.

A obra “Memórias da Favela do ‘Cabo Dito’: Pato Branco (1968-2010)” será de acesso gratuito, e foi estruturada em três capítulos, apresentando a história da Favela do Cabo Dito, que existiu no município de Pato Branco mais de 40 anos. A pobreza, a miséria, a invisibilidade, a discriminação, os modos de vida cotidiana dos moradores do Cabo Dito são explicitados utilizando depoimentos orais com 32 pessoas, cruzando-os com vários outros documentos (fontes).
História oral e memória são dois conceitos-chave, que se somam ao aporte teórico do marxismo inglês, que trata dos trabalhadores pobres e orienta sobre a escrita da história vista de baixo e a necessidade de dar vez e voz aos favelados e suas memórias do tempo que viveram em situações desumanas.
Segundo o autor, “Memórias da Favela do ‘Cabo Dito’” contribui para pensarmos a respeito da exploração econômica em diferentes cenários, a criação de redes de solidariedade e amizades entre os moradores da favela e seu entorno, a vida cotidiana sofrida por todos, que, apesar disso, oportunizava momentos felizes.

O “Cabo Dito” era um terreno alagadiço, um banhado, com pouco mais de mil metros quadrados, e fazia parte do bairro Vila Esperança. Nesse banhado, chegaram a viver 52 famílias. Rafael buscou reconstruir a história dessa favela e, ao mesmo tempo, de alguns sujeitos históricos que ali viveram, sem descartar as memórias referentes à exclusão social.
História
Em 1968, o então proprietário do imóvel, Benedito Ramos de Andrade, vulgo “Cabo Dito” (daí deriva o topônimo da favela), edificou uma moradia para si e, no entorno dela, construiu algumas habitações precárias. Ao longo dos anos, outras habitações foram erguidas e alugadas informalmente.
Por volta do ano 2000, a Prefeitura de Pato Branco, após diálogos com os filhos de Benedito Ramos de Andrade, moveu um processo judicial com o propósito de desapropriar a área mediante a indenização aos herdeiros de Benedito Ramos. O executivo municipal retirou, em 24 de novembro de 2010, as 15 famílias que ainda residiam, em condições precárias, na favela do “Cabo Dito”. As famílias tiveram como destino casas alugadas pela municipalidade, até que dois conjuntos habitacionais fossem construídos para abrigá-las.