
Rachel de Queiroz marcou a literatura não somente com seus clássicos. Em 1977, foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Nascida em 1910, em Fortaleza (CE), publicou a primeira obra aos 19 anos: “O Quinze”, clássico aclamado. Entretanto, minha primeira, e até aqui, única leitura desta autora, é de um dos seus últimos romances. “Memorial de Maria Moura” foi lançado em 1992, quando Rachel já possuía mais de 80 anos.
Com 503 páginas – na mais nova edição, da José Olímpio -, “Memorial” me surpreendeu com uma trama ágil, forte e arrebatadora. A narrativa ambientada durante o século XIX, no interior do Ceará, gira em torno de uma “mulher-macho”.
Maria Moura perdeu o pai ainda criança. A mãe casa-se com outro, de nome Liberato. Quando adolescente, ao chegar em casa, a menina se depara com a mãe morta enforcada. Passado algum tempo, ela passa a ser assediada pelo padrasto e começa então a desconfiar de que ele pode ter algum envolvimento, ou até mesmo ser o responsável, pela morte da mãe.
Desnorteada, procura a igreja para se confessar: conta tudo ao padre José Maria, que neste ínterim está envolvido com uma mulher rica e casada da região. O esposo, traído, retorna de viagem após denúncia da irmã e descobre o caso, que naquela altura resultara numa gravidez. Para lavar a honra, mata a mulher e a criança, ainda em formação dentro da barriga. Na tentativa de dar fim ao padre, também, termina morto, enquanto José Maria inicia uma vida de foragido, se escondendo pelo sertão.

Enquanto isso, Maria Moura seduz um empregado da fazenda, com a intenção de que este acabe com a vida de Liberato. Conquistado o objetivo, arquiteta outro plano e mata o capataz.
A partir de então, Maria Moura assume, com o apoio de João Rufo, feitor desde os tempos de seu pai, a Fazenda do Limoeiro. Mas a paz não reina por muito tempo. Isso porque Irineu e Tonho, primos e vizinhos, contestam a propriedade e a almejam. Após algumas investidas fracassadas, inclusive com Maria Moura despachando autoridades da polícia, os dois resolvem atacar a Fazenda durante a noite.
Moura já premeditava um ataque dos parentes e os aguarda para um embate. Contando com apoio de poucos, mas fiéis e valentes homens, Maria trava uma batalha às escuras. Encurralada, bota fogo na casa-grande, fazendo com que os inimigos imaginassem-na consumida pelas chamas, enquanto foge.
A partir de então, a protagonista decide se comportar como homem. Corta o cabelo e veste roupas masculinas, para impor respeito e liderar seu bando em assaltos pelo sertão. O objetivo é chegar à região de Serra dos Padres, território de propriedade de seu avô jamais assumido de fato. Lá, vai reencontrar o padre José Maria, único a conhecer a parte mais comprometedora de seu passado.
Referências
- Título: Memorial de Maria Moura;
- Gênero: Romance;
- Autor: Rachel de Queiroz;
- Número de páginas: 503;
- Editora: José Olímpio;
- Ano de lançamento: 1992.