Meu pai tinha um medo danado do mês de agosto. Costumava dizer que se os velhos superam agosto, podem ficar tranquilos. Por ironia do destino, ele faleceu em setembro. Mas não era só meu pai, muita gente parece ver com certa desconfiança esse período do ano. Chegam a afirmar que é o mês do desgosto, a época do cachorro louco, e isso nos assustava quando crianças. Olhávamos para todos os cachorros com certo temor. Talvez seja pelo clima, que de fato é meio estranho: mais seco, fumaça no ar, aquele vento esquisito e muitas folhas pelo chão. Na história brasileira, ficou a marca do suicídio de Getúlio Vargas, no dia 24, certamente um dos fatos mais traumáticos da política nacional em todos os tempos. Alguns anos depois, outro acontecimento que abalaria o país, a renúncia do presidente Jânio Quadros, no dia 25, pegou todos de surpresa. Ademais, aconteceram fatos negativos, como o bombardeio atômico sobre Hiroshima, na segunda guerra mundial, e a construção do Muro de Berlim. Contudo, não se pode culpar o oitavo mês por tudo isso; em todas as épocas do calendário acontecem fatos positivos e negativos. O preconceito vem de longe, na antiguidade as pessoas olhavam para o céu nesta época e ficavam com medo, porque a constelação de Leão ficava mais visível no céu e achavam que tinha um dragão no céu. Para cada um de nós vai se criando mitos a respeito de períodos específicos do ano ou da vida. Há quem não goste dos anos ímpares, ou pares, dependendo dos fatos que vivenciaram. Se formos fazer um balanço mais criterioso, veremos que em todos os anos aconteceram coisas boas e outras nem tanto. Não há como negar que devido à eleição presidencial, com o clima mais acirrado, o mês de agosto promete trazer mais tensão. Mas nem por isso deve despertar temores. Ele vai passar, assim como os outros meses que virão. O importante é vivê-lo por inteiro, dia por dia, sabendo extrair o melhor que ele pode nos oferecer.
