Ao menos três peculiaridades seduzem para a leitura de “Os subterrâneos da liberdade”: única trilogia de Jorge Amado; dentre mais de 40 livros publicados pelo baiano somente este e “Farda fardão, camisola de dormir”, de 1978, são ambientados no eixo Rio-São Paulo; e marca o fim da fase engajada do escritor – com a ruptura com o Partido Comunista (PC), sua obra seguinte, “Gabriela cravo e canela” dá início à abordagem focada no regionalismo nordestino, sincretismo religioso e crítica de comportamento.
Processo criativo
“Os subterrâneos” começou a ser desenvolvido durante o exílio de Jorge e Zélia Gattai no Castelo de Dobříš, Tchecoslováquia. Três anos após ser eleito deputado federal pelo PC, em 1945, Jorge e outros parlamentares alinhados com a ideologia de extrema-esquerda tiveram os mandatos cassados. Temendo ser preso, o autor parte para a Europa e se refugia, primeiro na França, depois na Tchecoslováquia.
Quando encerrou os trabalhos da trilogia, em 1952, ele e Zélia haviam, há dois anos, retornado ao país. Os três volumes estão entre os de literatura mais engajada da carreira do baiano.
Personagens comunistas, fascistas e anarquistas
As semanas que antecedem o golpe do Estado-Novo são o mote do enredo de “Os ásperos tempos”, o primeiro volume da trilogia. Com a permanência de Getúlio, personagens comunistas e anarquistas – uma filosofia ainda muito popular na época – lutam na clandestinidade contra o regime. Em São Paulo, Mariana, uma garota pobre, se engaja com as tarefas arriscadas do Partido Comunista, como angariar dinheiro para a causa, participar de reuniões ocultas e esconder militantes procurados pela Polícia Política.
Do outro lado, o dilema da elite – fascista, mas insatisfeita com Getúlio – através da família do banqueiro Costa Vale. No bojo, a expectativa pela posição brasileira na Segunda Guerra: o comportamento do Presidente da República e seus aliados indicam uma inclinação a favor do eixo nazi-fascista, impulsionada no Brasil pelo integralismo.
Empastelamento de jornais, paixões entre proletários e burgueses, negociatas e muita perseguição policial tornam as 1008 páginas, somados os três volumes, de uma leitura fascinante pelo fôlego e originalidade.
Por outro lado, Jorge repete um recurso conhecido em outros títulos do escritor, como “Capitães da Areia” e “Jubiabá”: trata pobres e militantes como mocinhos e ricos como os vilões da história.
Referências

- Título: Os subterrâneos da liberdade 1 – Os ásperos tempos;
- Gênero: Romance;
- Autor: Jorge Amado;
- Número de páginas: 312;
- Editora Companhia das Letras;
- Ano de lançamento: 1954.

- Título: Os subterrâneos da liberdade 2 – Agonia da noite;
- Gênero: Romance;
- Autor: Jorge Amado;
- Número de páginas: 312;
- Editora: Companhia das Letras;
- Ano de lançamento: 1954.

- Título: Os subterrâneos da liberdade 3 – A luz no túnel;
- Gênero: Romance;
- Autor: Jorge Amado;
- Número de páginas: 384;
- Editora: Companhia das Letras;
- Ano de lançamento: 1954.