Além do revólver, investigadores encontraram na casa de José Frizanco anotações de próprio punho demonstrando nutrir muita raiva de sua esposa.

Depois de mais de cinco meses de investigações, a Polícia Civil de Francisco Beltrão encaminhou à Justiça na terça-feira, 13, o inquérito policial – com quase quatrocentas páginas – que apura o suposto “desaparecimento” da costureira Marli Frizanco.
A delegada Emanuelle Carolina Baggio, que presidiu o procedimento investigatório, informa que a Polícia Civil colheu evidências que demonstram que Marli foi morta, infelizmente. Além do que, os elementos de provas também indicam a fundada suspeita de autoria, que recai na pessoa do marido, José Frizanco, preso no Setor de Carceragem Temporário anexo à 19ª SDP por força de Mandado de Prisão Temporária, que vence na sexta-feira, 16.
De acordo com a delegada, José nega ser o responsável pelo “desaparecimento” de Marli, alegando que não tinha motivos para isso, pois se relacionava muito bem com ela e com demais familiares, informações desmentidas pelas próprias filhas, que inclusive relatam agressões anteriores, além da personalidade agressiva do pai.
O genro do casal informou que saiu da casa por volta das 7h45 do dia 29 de junho, lá permanecendo apenas Marli e José. Já por volta das 9h, quando uma das filhas voltou para pegar as chaves do carro, José se negou a abrir o portão, obrigando ela a se deslocar de carona com um vizinho para o trabalho. Foi apurado que José só retornou pra casa por volta das 18h, embora tenha dito no primeiro depoimento que tinha retornado às 14h e, quando indagado sobre a mãe, respondeu: ‘deve ter fugido com o Ricardão”.
A Polícia Civil informou que o suspeito entrou por várias vezes em contradição, primeiro informou aos policiais civis que no dia do desaparecimento de Marli, teria se deslocado até a cidade de Salto do Lontra, mas quando questionado o local exato onde foi e quem teria visitado, voltou atrás passando então a dizer que na verdade não conseguiu chegar a Salto do Lontra porque o seu carro estragou nas proximidades da Sadia. Foi então questionado pelos investigadores – que lhe disseram que iriam checar as câmeras -, voltou atrás novamente e falou que o carro estragou ali na frente da UPA. Novamente foi informado pelos policiais que seriam requisitadas as imagens das câmeras de segurança, voltou atrás uma vez mais e passou a dizer que o carro estragou antes do Detran. Foi então questionado quem o socorreu, ressaltou que ele mesmo consertou o veículo, e quando questionado o que fez após, disse que ficou rodando pela cidade.
Arranhões no rosto
Já quando da primeira entrevista, os policiais perceberam que José apresentava algumas escoriações na face e no pescoço, num primeiro momento dizendo que tinha se machucado nuns galhos atrás de sua casa, inclusive tinha guardado os ditos galhos para mostrar às autoridades, mas quando informado que passaria por exame de lesão corporal e que aquelas lesões se assemelhavam a arranhões causados por unhas, voltou atrás e então disse que ele mesmo havia se arranhado.
Documentos
Outro dado que chamou a atenção dos investigadores foi a descoberta que um dia após o desaparecimento de Marli, o suspeito foi até uma livraria e tirou cópias dos documentos originais dela. Questionado se tinha feito isso, José negou, mas quando informado que além de uma testemunha, havia imagens comprovando isso, então admitiu, mas parcialmente, confirmando que tinha sim tirado cópias, “mas só tirei cópia de cópia porque quanto mais cópia melhor”. A proprietária da livraria, por sua vez, afirmou que José estava com os documentos originais de Marli, inclusive pediu que tirasse a frente bem certinho com o verso. Essas cópias foram apreendidas pelos policiais dentro do carro de Marli, que ficou todo tempo na frente da casa.
“Minha arma é Deus”
Os investigadores disseram ainda que José sempre negou que possuíra arma de fogo, sempre falava: “minha arma é Deus”, assim como sempre enfatizava que sua relação com Marli era das melhores, mas quando da realização de limpeza na residência do suspeito, familiares acabaram encontrando, muito bem escondidos, uma arma de fogo tipo revólver e parte dos documentos de Marli, além de anotações de próprio punho do suspeito demonstrando nutrir muita raiva de sua esposa.
Segundo levantado durante as investigações, Marli não tinha motivos para desaparecer, era muito ligada às filhas e netos, consta que não saía nem na esquina que não fosse com seu carro, não era pessoa depressiva, era muito trabalhadora, comprometida, preocupada com as entregas no prazo das costuras que pegava, tinha inclusive créditos a receber de algumas lojas.
Ademais, não houve movimentação de sua conta bancária e nem uso de seu aparelho telefone após o desaparecimento, “e a relação com José, pelo que foi apurado, era por demais conturbada, não obstante ele sempre tenta passar a imagem de que o casal vivia muito bem, o que não seria verdade, seja pelo relato dos familiares como pelas próprias anotações de José”.
Morte com ocultação do corpo?
Para a Polícia Civil, os elementos de provas colhidos nesses mais de cinco meses de intenso trabalho de investigação indicam que Marli foi morta, com ocultação de seu corpo, e existe fundada suspeita de que a autoria destes delitos recai no marido – José – o qual foi indiciado no Inquérito Policial por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e posse irregular de arma de fogo.
O inquérito policial, com pedido de prisão preventiva, foi encaminhado à Justiça e agora caberá ao Ministério Público e ao Poder Judiciário a análise e demais deliberações. Os investigadores prosseguem as diligências objetivando localizar o corpo de Marli.
Por fim, a delegada Emanuelle enfatiza que todo o trabalho foi pautado pela técnica, bem como elogia a atuação dos policiais civis que participaram das diligências, enaltecendo a ajuda da população e sobretudo dos familiares: “todos os elementos de provas colhidos foram documentados no Inquérito Policial; nossos policiais se dedicaram ao extremo, aliás continuam a se dedicar para localização do corpo; mas gostaria de agradecer de forma muito especial toda a ajuda prestada pela população e sobretudo pelos familiares de Marli, ajuda que foi decisiva, nos trouxeram informações importantíssimas para que pudéssemos compreender a dinâmica de como os fatos se deram. A todos, muito obrigada”, finaliza em nota encaminhada à imprensa.
