Ministério Público pediu que José Frizanco vá a júri popular acusado de homicídio triplamente qualificado e de ocultação de cadáver.

Hoje, 29, faz um ano que a costureira Marli da Silva Frizanco, 48, está desaparecida. O entendimento da Polícia Civil, do Ministério Público e até de familiares é de que ela está morta. Apesar do trabalho de investigação exaustivo, o corpo não foi encontrado e a tese de homicídio se sustenta por meio de uma série de indícios e contradições do marido de Marli, José Frizanco, que está preso desde novembro do ano passado no setor de carceragem da 19ª SDP, em Francisco Beltrão. Ele foi ouvido nesta semana e continua negando o crime.
Tanto Ministério Público quanto defesa já apresentaram suas alegações finais. A promotora de Justiça Silvia Skaetta Nunes, da área criminal, disse que ouviu 23 testemunhas – mais o interrogatório de uma hora e 40 minutos do acusado -, analisou documentos e laudos até chegar à conclusão de que José Frizanco deve ser levado a júri popular.
Dra. Silvia admite que é um caso muito complexo, por não ter a prova material (cadáver), contudo, na avaliação dela, a materialidade está suprida pela prova testemunhal. A defesa, por outro lado, alega negativa de autoria. O processo está com o juiz que tem alguns dias para se manifestar.
Ele pode desclassificar o pedido (dizendo que não tem crime doloso); impronunciar (quando não se convence da existência do crime ou se ele ainda não tem certeza da participação do réu); pronunciar (reconhecimento de indícios de autoria e provas da materialidade); ou absolvição sumária (inexistência do fato, fim do processo).
“É um caso peculiar, seguramente o mais difícil de um júri que Beltrão já vivenciou”, diz a promotora. De acordo com ela, uma série de elementos levam a crer que Frizanco cometeu o crime. Como, por exemplo, a lesão que o suspeito apresentava na região do pescoço, um dia após o sumiço da mulher, que o laudo pericial indiciou ser compatível com dedos humanos. (Frizanco diz que se arranhou enquanto podava galhos de uma árvore em seu quintal).
A promotora pediu que ele seja julgado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (utilizou-se de recurso que dificultou a defesa, motivo torpe e feminicídio) e ocultação de cadáver.
“Fui preso injustamente sem cometer crime algum”
José Frizanco concedeu entrevista na terça-feira para a TV Beltrão e o Jornal de Beltrão. Chegou com um papel na mão com algumas anotações, algemado, de calça social, blusa de fio e óculos.
Logo no começo, se disse lesado e que descobriu que sua esposa tinha um caso com um suposto “abusador de criança”. Frizanco falou que Marli foi a um bar, visitar sua amiga, onde teria conhecido o homem. “Em apenas oito dias houve todo este transtorno. O que eu mais fiquei indignado e podem mandar para todos meus amigos que em mim confiam, donas de casa, mães exemplares, famílias exemplares deste País. Vejam que ponto chegou a baixaria que fizeram a mim. Me colocaram mais baixo do que uma pessoa que abusou de criança, que caiu no artigo 157 (roubo), que veio fugitivo e o alvo foi minha família.”

Foto: Niomar Pereira/ JdeB
Caso
Segundo Frizanco, Marli tinha um relacionamento com o homem. “Não estava sabendo, foram as autoridades que me ajudaram a saber, que foram as duas filhas, os dois genros, a Marli e ele no baile do Caldeirão. E eu consciente que ela estava fazendo uma visita a familiares.”
O marido contou que não perdeu a esperança de conseguir esclarecer todo o caso. “Hoje o que eu mais queria é que ela aparecesse, minha gente, viva, nem que seja morta, pra mim provar a minha inocência e pra mim calar essas pérfidas línguas que falam por pessoas inescrupulosas que ficam julgando pessoas que não têm nada a ver.”
Para ele, ainda há uma pequena chance de a esposa estar viva. “Eu sempre ajudei essa mulher, nem os próprios pais ajudaram tanto quanto eu. Conforto, tinha tudo, a liberdade que uma mulher gostaria de ter. Saía de carro, voltava de carro. Tava num mar de rosas. E vem uma pessoa dessa qualidade e me deixou nessa situação. A Marli desapareceu na quarta-feira (dia 29/6/2016) e o homem com quem ela estava tendo um caso foi preso às 17h do dia seguinte.”
José fez muitos rodeios, relembrou histórias de sua vida, falou que está doente, precisa de tratamento, acusou familiares, mas sempre que pôde, reforçou que tratava bem a esposa. “Fiz de tudo para ser feliz, fui preso injustamente, sem cometer crime algum.”
Esperança de encontrar a esposa
José Frizanco ressaltou que tem esperança de encontrar Marli, “colocar as cartas na mesa e fechar a boca das línguas que me cometeram injúrias. E nós desvendar tudo isso aí e conhecer um pouquinho mais quem sou eu. Tenho consciência limpa, sou filho de família honesta, sou filho adotivo de pai exemplar, mãe exemplar e quero seguir adiante. E lá fora vou seguir no mesmo estilo que eu era antes. Só menos conversa com essas pessoas que me acusaram”.
Ele acrescentou que, se sua mulher aparecesse, teria que fazer um exame psiquiátrico, pois, segundo ele, aparentava estar com depressão. “Ela vivia dizendo que queria desaparecer.” José ainda comentou que o relacionamento deles sempre foi igual, do dia do casamento até os últimos dias antes de ela sumir. “Deus está comigo, não fui eu, não cometi crime algum e fui injustamente preso. No próximo 8 de outubro vou completar 60 anos de idade, fiz de tudo para ser feliz e não consegui. E não acredito até hoje que ocorreu tudo isso comigo, vir um bandido de fora e o alvo ser minha família.”
Sobre o dia do desaparecimento
Nos autos do processo, José Frizanco não consegue explicar onde estava no dia do desaparecimento de Marli. Ele afirma que Marli saiu de casa por volta das 7h40, com uma bolsa. Que ela sempre tinha uma boa reserva de dinheiro. Diz que ele saiu de casa por volta das 9h, pois tinha como objetivo ir até Salto do Lontra, mas ficou enguiçado próximo à UPA. Conta que ficou aguardando um bom tempo até que o veículo pegou no tranco. Que não chamou ninguém. Relata que vários dias depois levou o veículo à mecânica e que voltou para casa no final da tarde, por volta das 18h, pois fez a volta, passou pelo posto Vila Nova e comprou pão no mercado. Que em todo esse período ficou parado.
Filha tem “certeza” que pai matou a mãe

Foto: Niomar Pereira/ JdeB
Uma das filhas do casal, Edilaine falou que não tem dúvida que o pai matou sua mãe. “Eu quero justiça. Muitas vezes eu critiquei a polícia por não estar agindo, mas me mostraram que estão fazendo de tudo. Tenho certeza que a justiça vai ser feita. Eu tenho certeza que ele é culpado, pelas inúmeras mentiras”, comentou.
Edilaine lembrou que, no dia que sua mãe sumiu, José Frizanco não a deixou entrar na casa. “Eles estavam separados, a mãe queria sair de casa, porque o pai era muito ruim e batia muito nela. No dia, ele não me deixou entrar, tenho certeza que ele tava matando ela. Por que que ele não ia me deixar entrar? Meu pai sempre falou que matar não era crime e conseguimos provar isso. Por que que ele mente se ele não cometeu nada? Por que mentiu que não tinha arma, se ele tinha?”
Quando prestou seu depoimento para a polícia, Edilaine Frizanco afirmou que, depois do desaparecimento de sua mãe, encontrou coisas penduradas pelas paredes e papéis escritos à mão pelo representado, nos quais constam frases desconexas relativas ao tempo que permaneceu casado com Marli e outras em que a ofende com palavras de baixo calão.
Ainda, a filha relatou que teve conhecimento de que seu pai comprou inúmeros travesseiros em uma loja, mas somente encontrou dois na residência, que inclusive eram de sua mãe antes mesmo de desaparecer. A aplicação de luminol no veículo da vítima e no interior da residência foi negativo.