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domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

71 bebês nasceram no Hospital São Francisco durante pandemia

Mãe conta que consultas de rotina com pediatra foram substituídas por conversas no WhatsApp e que não sabe quanto a filha pesa 13 dias após o nascimento.

Os pais Alisson Eduardo Gandolfi e Aline Trevisan

com as filhas Beatriz Trevisan Biava (à esquerda) e Laura Trevisan Biava.

Foto: Arquivo pessoal

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Quando Aline Trevisan, de 23 anos, percebeu que a bolsa estourou, na madrugada do dia 2 de abril, correu para o Hospital São Francisco, em Francisco Beltrão, sabendo que seria um parto diferente de como foi o da primeira filha, Beatriz. Há cerca de um mês isolada e longe do trabalho, a rotina de casa já havia mudado e ela mesma não saía mais.

No hospital, rodeada por profissionais, as recomendações não foram diferentes do que já praticava quando, às 8h17, pegou sua filha nos braços pela primeira vez. “Foi bem complicado. Dizem que a maior dor da cesárea é um dia depois e que o ideal é ficar 36 horas no hospital. Era dia 2 e no dia seguinte eu já estava liberada. Tive que ficar um tempo sem acompanhante e também sem visita. A gente se sente sozinha”, conta Aline.

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Desde o dia 20 de março deste ano, 71 bebês nasceram no Hospital São Francisco, em Francisco Beltrão. Desses, 50 foram por cesariana e 21 por parto normal, de acordo com a coordenadora de enfermagem da unidade, Midiã Orlandim. São crianças que nasceram em meio às medidas de isolamento social na luta conta a pandemia do novo coronavírus e que precisaram receber cuidados redobrados desde o nascimento.

Segundo Midiã, entre as medidas adotadas pelo hospital está o limite de acompanhantes, restrito a uma pessoa e por tempo determinado, além da não visitação. As orientações são para evitar possíveis contágios do novo coronavírus. “Mudamos algumas coisas para protegermos a gestante, o bebê e os funcionários. Hoje, o Hospital São Francisco não permite visita. O pai pode entrar junto no parto, mas precisa mostrar muita vontade. Os acompanhantes também não ficam muito tempo perto da gestante. Ficam algumas horas, mas sempre com conversa e diálogo”, explica Midiã.

Cuidados pós-parto
A equipe médica ainda orienta sobre os cuidados no pós-parto, quando, em casa, a criança não deve receber visitas e a família precisa seguir os protocolos de higiene à risca: tomar banho ao chegar em casa – caso tenha tido necessidade de sair –, lavar as mãos com água e sabão e o uso de máscara pela mãe ao amamentar – se apresentar qualquer sintoma de gripe.

“A criança não tem imunidade, então, se antes da pandemia já era arriscado, agora piorou”, frisa Midiã. “E o mais importante é a questão da visita. O pessoal acaba não entendo muito bem. ‘É meu sobrinho, meu neto, quero ver’. Mas estamos frisando que nesse momento o melhor que se pode estar fazendo pela criança é não ir na casa dela.”

Exame agendado
Naquele 2 de abril, Aline tinha uma ultrassom agendada. O bebê estava com 36 semanas, mas na madrugada a mãe sentiu a bolsa romper e precisou ir às pressas ao hospital. Esperou ao chegar, podendo realizar a cesárea, com todos os cuidados e precauções, às 8h17. Já no quarto, acompanhada do marido, lembra que foi atípico e percebia que isso era por conta do novo coronavírus.

“Meu marido chegou às 10 horas. Eles [equipe] estão evitando deixar alguém no hospital e o acompanhante que fica tem que ajudar, pra não ter muitas pessoas em contato com a gestante. Mas no outro dia, às 7h, meu marido não pôde mais ficar e eu fiquei sozinha. Todas as coisas que ele me ajudava a fazer eu passei a fazer sozinha. E ganhei alta às 21h daquele dia”, recorda-se Aline.

 

Cuidados redobrados em casa

Na casa, moram Aline Trevisan, o marido, Alisson Eduardo Gandolfi, de 24 anos, a filha mais velha, Beatriz, de 4 anos, e agora estão lá a mãe e a sogra, que se mudaram para ajudar. Todas as necessidades de saídas são supridas pelo marido, que vai ao mercado, banco e padaria. Aline não sai. E, além do marido, diz que ninguém entra. “Os cuidados são máximos. Muito álcool em gel, lavar as mãos, só trancada dentro de casa.”

O mais diferente é que, desde o nascimento de Laura, ela não foi consultar. O que sabe da pequena é que nasceu com 2,514 quilos, mas não tem certeza de qual é a variação nos primeiros 13 dias de vida. O que a preocupa, já que passou por um período em que teve falta de leite. “Agora veio o leite, ela mama bem, mas ficamos com aquela insegurança, não sei quanto ela está pesando. Percebo que ela está bem. Mas não teve a consulta de rotina. O que tenho feito é conversado com a pediatra pelo WhatsApp. Todo dia eu converso com ela. Quando tenho alguma dúvida, eu mando foto.”

No calendário de Aline para os próximos dias estão as vacinas que devem ser liberadas a partir do dia 16 de abril para crianças nas Unidades de Saúde – o teste do pezinho e a primeira vacina ao nascer já foram feitos. A suspensão foi uma orientação do Ministério da Saúde, quando o foco estava na distribuição massiva da vacina contra a gripe e se queria impedir que crianças entrassem em contato com grupos de risco.

 

Papa diz que crianças nascidas na
pandemia são “grande esperança
Na sua conta oficial no Twitter, o Papa Francisco publicou que os recém-nascidos nesta época são “grande esperança”. A publicação foi feita no dia 3 de abril, quando ele também lembrou das jovens mães: “Hoje, gostaria de agradecer às jovens mães que enfrentam os medos compreensíveis. E obrigado também a quem as ampara com afeto, com competência. As crianças que nascem em tempos de #coronavírus são um sinal de grande esperança”.

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