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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Alerta para riscos do pós-Covid

Saúde

O cardiologista Leonardo Précoma atende em Dois Vizinhos.

A luta contra o coronavírus tem passado, para muitos pacientes, dos dez ou 12 dias. Em alguns casos, a doença está deixando sequelas e exigindo acompanhamento dos médicos. O alerta é do pelo cardiologista Leonardo Précoma, que atende na Clínica Incore, em Dois Vizinhos. Ele destacou, em entrevista para a jornalista Renata Pagnoncelli, da Rádio Educadora de Dois Vizinhos, algumas sequelas que está percebendo nos seus pacientes. Confira trechos da entrevista:

Renata Pagnoncelli – Qual foi a mudança mais sensível na sua rotina e análises cardiológicas nos últimos meses?
Leonardo Précoma – Claro que o assunto Covid ainda não passou, mas estamos vendo que o nosso foco na cardiologia e até medicina em geral é que já passamos pela fase de maior transmissão, mas estamos percebendo que alguns pacientes estão tendo sequelas muito graves do coronavírus, que chamamos de síndrome pós-Covid. A gente sabe que essa doença tem aquela fase de sintomas, febre, a fadiga até o sétimo dia e tem pacientes que desenvolvem a forma grave, que seria a falta de ar e um componente mais inflamatório. Os estudos estão mostrando que é uma síndrome mais inflamatória do organismo, do pulmão, que é o lugar de entrada do vírus e, principalmente, do endotélio, que são os vasos do nosso corpo. Na prática, percebemos, na clínica, as complicações. Tem alguns casos que estou pegando até com trombose. Então, como funciona o coronavírus? A partir do 10º dia, a resposta é mais inflamatória. Ela atinge o pulmão e vai para organismo de modo geral, uma resposta mais sistêmica.

A gente pode ver esses pacientes que evoluem mal com alguns exames de marcadores inflamatórios, interleucina, d-dímero, o paciente tem muita linfopenia, a troponina aumenta e o próprio vírus entra no organismo e faz a injúria dos órgãos. No coração, principalmente, ele faz uma síndrome chamada miocardite que é a inflamação do músculo do coração. Isso é um marcador direto de gravidade. A gente vê pacientes também com resposta imunológica muito exacerbada, têm sintomas, tanto é que está bem popular, já estávamos utilizando desde o ano passado o Tocilizumabe, um anticorpo monoclonal, utilizado para artrite reumatoide, que popularmente as pessoas chamaram de “vacina”, pois é uma injeção. O que faz? Diminui a resposta inflamatória do corpo. Tanto é que tem gente já superfaturando a medicação, que está escassa no mercado.

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A pessoa contraiu Covid, passou por todos os processos, já está em casa há alguns dias, no que precisa ficar atenta?
Principalmente pacientes que receberam alta, tem muita gente que não teve muito sintoma, mas começa a ter aquela persistência de astenia, o que é isso? Fraqueza generalizada, uma tosse que não melhora, a falta de ar constante, uma recuperação da síndrome de Covid muito devagar, então isso gera sinais de alerta. As sequelas ficam no pulmão e no coração.


A gente vê assuntos relacionados a inflamações, tromboses, todo o aspecto de tratamento novo e nosso organismo aprendendo a responder e a ciência querendo acompanhar. Como faz para correlacionar tudo isso e gerar bem-estar?

Temos estudos brasileiros, principalmente onde eu fiz a residência, em São Paulo, no Incor, que eles estão vendo que a mortalidade aumentou muito em pacientes que tiveram trombose. A gente viu que a Covid está sendo uma doença inflamatória. O vaso do nosso corpo fica inflamado e tem algumas alterações. Em torno de 50%, 60% que tiveram o coração afetado, vão ter fibrilação atrial, uma arritmia. O que eu resumo disso? O vírus entra pelo pulmão e ataca diversos órgãos, principalmente pulmão, rim e coração. Por isso, temos muitas sequelas. Um estudo chinês aponta que até depois de seis meses que o paciente contraiu Covid ele tem sequelas pulmonares e cardíacas. Já se teve notícias de mortes com trombose tardia. Em Francisco Beltrão, um menino teve um AVC, 90 dias depois da Covid até por causa disso: o vírus atinge o endotélio, que é a capinha do vaso, ela inflama e gera coágulo.

É possível, quando se tem o diagnóstico positivo, tomar medidas para prever a curto, médio e longo prazo?
Com certeza, até por isso, hoje em dia, estamos discutindo muito entre os colegas sobre o tratamento personalizado. Claro que, no começo, faz-se o tratamento adequado, interna-se o paciente, mas, depois, cerca de 5% dos pacientes vão ter sequelas em longo prazo. O que temos que fazer? Tem vários exames que podemos fazer da parte cardíaca, seja um raio-x, para ver se tem sequela, teste de caminhada e, se tiver sintomas, faz exames próprios de coração, como ecocardiograma e teste ergométrico nos pacientes mais graves que têm muita fadiga. Temos muitos pacientes com ansiedade ou depressão, por causa do vírus, mas também por todo o contexto de ter ficado mais de um ano em casa e estavam acostumados com uma rotina, não podendo mais fazer isso.

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