No Dia Nacional da Saúde e Nutrição, profissionais ressaltam que momento é de reflexão e, mais do que nunca, pedem a busca pelo equilíbrio à mesa.
Quem é que não gosta da praticidade de poder pegar uma refeição prontinha no congelador e levar direto ao micro-ondas? Ou, então, dar aquela paradinha rápida e comprar um delicioso fast-food? É rápido, não faz sujeira e mata a fome. O problema é que a maioria das pessoas ainda não entendeu a astronômica diferença que existe entre ‘encher a barriga’ e ‘estar bem alimentado’. O momento para se discutir o assunto não seria mais oportuno, afinal, hoje é o Dia Nacional da Saúde e Nutrição, justamente depois de semanas recheadas de notícias e denúncias sobre adulteração de alimentos e atitudes que oferecem risco à saúde.
A data de 31 de março faz parte do calendário do Ministério da Saúde e seu objetivo, desde que foi instituída, é fazer com que a população reflita sobre suas escolhas quando se trata de alimentação. Segundo preconiza o Ministério, a prática da boa alimentação deve começar desde cedo, ao nascimento, com o aleitamento materno até os 6 meses de vida. Após essa fase, a amamentação poderá ser feita de maneira complementar até os 2 anos.
O grande desafio, entretanto, é incentivar as pessoas para que reduzam o consumo de alimentos processados e aumentem o consumo de frutas e verduras. Estas pequenas mudanças na alimentação já terão grande valor na prevenção de doenças e na manutenção do bem-estar. Para a nutricionista Valdirene Biguelini, de Francisco Beltrão, o momento é de pensar e refletir sobre o que estamos comendo. “Tentar uma mudança alimentar, esquecer um pouco os embutidos e industrializados e tentar comer mais comida de verdade, algo mais orgânico, por aí já começa a ter uma relação melhor entre alimento e saúde. Comer mais frutas, verduras, saladas, tomar mais água, e aos poucos vamos notando a diferença. Precisamos levar a sério a famosa frase ‘descasque mais e desembale menos'”, comenta.

Preocupação com a alimentação segura
A desconfiança do consumidor com relação a uma série de alimentos é crescente e percebida pelo mercado. Para a nutricionista Bruna Krefta, de Dois Vizinhos, a preocupação está em saber o que realmente é um alimento seguro para o consumo e até que ponto aquilo que estamos consumindo contém o que está descrito nos rótulos. “Uma das principais causas seria o descaso com a fiscalização e vigilância, inadequados para o setor alimentício. Para tentar minimizar possíveis problemas à saúde do consumidor em meio a tantas opções nos mercados, temos que tentar priorizar os alimentos mais in natura possíveis, preferencialmente conhecendo o local de produção”, sugere.
Bruna ainda chama atenção para que, ao chegar em casa com as compras, seja realizada a higienização adequada dos alimentos e utensílios, buscando minimizar contaminações. Ela também orienta que, sempre que possível, as pessoas mantenham sua própria horta e tentem produzir o máximo de alimentos que puder em casa. Outro alerta é para o cuidado com excessos ou carências. “Toda falta e todo excesso trazem alguma consequência. Os alimentos são da mesma forma, por isso devemos sempre priorizar uma alimentação saudável evitando embutidos, frituras, doces, refrigerantes. Precisamos aumentar o consumo de gorduras ‘boas’, frutas, verduras e legumes, ovos, leites e carnes magras. O equilíbrio é sempre o melhor caminho para uma vida mais saudável e duradoura”, recomenda.

Cardápio já está mudando
Há algum tempo, uma certa parcela da população já vem demonstrando maior preocupação com sua alimentação. Os últimos escândalos envolvendo a produção industrial acabaram por acender o estopim para muitos consumidores que já vinham percebendo a necessidade de equilibrar melhor seus pratos. Isso ficou evidenciado na pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha ainda no ano passado.
O levantamento ouviu donos de estabelecimentos gastronômicos e apontou que 56% dos entrevistados acreditam que seus clientes estão mais interessados no consumo de alimentos saudáveis. Além disso, mais da metade observou um aumento na procura por frutas, 61% disseram que os clientes estão comendo mais legumes e verduras e 65% disseram ter crescido o consumo de sucos naturais nos estabelecimentos.
Atualmente, o Brasil é o quinto no ranking de alimentos e bebidas saudáveis, com um volume de vendas que ultrapassou os US$ 27 bilhões em 2015, segundo levantamento da Euromonitor. A pesquisa ainda aponta para um crescimento de mais de 20% do setor para os próximos anos.
Contudo, para Michelle Gai, nutricionista clínica e esportiva funcional em Francisco Beltrão, a preocupação em se alimentar melhor não deve ocorrer apenas quando surgem polêmicas na mídia sobre alimentos adulterados, mas deve ser uma prática do dia a dia das pessoas. “Sempre oriento meus pacientes a optarem pelo consumo de alimentos in natura ou os minimamente processados, que possuem menos conservantes e aditivos, estes aumentam o tempo de prateleira, mas, ao mesmo tempo, podem causar desde alergias, mal estar, desequilibro da microbiota intestinal, que a longo prazo traz prejuízos a saúde”, alerta a profissional.

Alimentação adequada é um direito de todos
A nutricionista e pedagoga Gislene Titon, também de Francisco Beltrão, chama atenção para o DHAA (Direito Humano à Alimentação Adequada), que defende o direito de todos de acesso a alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade adequados e suficientes. Junto a isso, ela destaca a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que prevê a garantia do acesso regular e permanente a alimentos de qualidade com base em práticas alimentares saudáveis, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. “Uma boa nutrição é condição fundamental para promover o bem-estar físico, mental e social em todas as fases da vida, garantindo assim condições normais de saúde e qualidade de vida como definido pela Organização Mundial de Saúde”, ressalta.
Gislene observa essas questões para confrontar com o que se vê na realidade. Segundo ela, o contexto onde se levanta estes apontamentos está ligado à má distribuição de renda e escolha por alimentos semi-prontos ou prontos. Em resumo, a falta de informação adequada e da interpretação correta das mesmas ainda é uma barreira que precisa ser quebrada. “Isso é provocado pela correria do dia a dia e a falta de concepção sobre a qualidade e quantidade, muitas vezes sem saber realmente as condições que a refeição oferece. Alimentar-se bem nem sempre significa comer muito ou comer pouco. A alimentação deve ser equilibrada e conter alimentos variados, com porções adequadas”, afirma.

Fotos: Arquivo pessoal