Lideranças da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB realizaram ato simbólico de doação de sangue no Hemonúcleo de Beltrão para avaliar cumprimento da decisão da corte e incentivar ato.

Lideranças da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Francisco Beltrão doaram sangue na quinta-feira, véspera da Sexta-feira Santa, e marcaram história no município. Isso porque, até o ano passado, homens LGBTQI+ eram impedidos de realizarem o ato, o que foi derrubado após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). De forma simbólica e para avaliar o cumprimento da medida no município, os advogados Rone Michel Biazin Mayer, de 28 anos, e Samantha de Oliveira Koop, 26, foram até o Hemonúcleo e registraram o momento.
“Não consigo descrever a sensação, se era alegria, se era missão cumprida… não sei, era um sentimento muito bom”, comemora Rone, que doou sangue pela primeira vez.
Antes da decisão do STF, homens que tivessem tido relações sexuais com outros homens no prazo de 12 meses eram impedidos de realizarem a doação de sangue. Quanto aos demais membros da comunidade LGBTQI+ não havia restrição explícita. Por isso, Samantha nunca havia sido impedida de doar, já que presumiam uma heterossexualidade nela, mantendo o hábito há nove anos. O que era diferente para Rone, que disse ter vivido um sonho.
“Sempre foi uma vontade minha. Tive, em outras situações, pessoas da minha família que precisaram de sangue e eu não podia doar pelo simples fato de ser gay. Eu via minha família toda podendo doar e eu não podia fazer nada. Eu me sentia muito impotente porque é uma forma de preconceito. E quando surgiu essa oportunidade, que liberaram para a doação, eu vi uma luz no fim do túnel”, conta o advogado.
Segundo Rone, embora a decisão tenha sido tomada pela corte há alguns meses, ele não havia doado por se sentir inseguro. Outras pessoas chegaram a dizer que a doação só ocorreria se ele negasse a própria sexualidade, algo que nunca foi uma opção para ele.
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“Eu sabia que eu não poderia doar por ser gay e eu sempre me recusei a mentir minha sexualidade pra talvez poder doar. Sempre foi uma meta minha desde que me assumi, de que as pessoas vão me respeitar por quem eu sou e pelo que eu represento, a minha sexualidade é minha não interfere em nada no meu caráter. E desde então eu tenho feito isso, eu sou advogado e exijo respeito aonde quer que eu vá, deixando claro que sou homossexual”, defendeu.
A própria decisão também veio de encontro ao momento em que há um apelo para que doadores busquem o Hemonúcleo, que precisa de pelo menos 30 doações diárias para manter os estoques estáveis.
Para Samantha, o ato serviu para atestar o cumprimento das medidas e incentivar outras pessoas. “Nossa intenção foi estar mostrando para toda a população LGBTQI+ que podem estar se dirigindo ao Hemonúcleo mais próximo e realizando a doação de sangue sem medo de expor a sua sexualidade ou qualquer outra questão de gênero”, frisou.
Triadores orientados
Segundo o chefe do Hemonúcleo de Francisco Beltrão, Fábio Ebert, desde a decisão do STF, é perguntado para todas as pessoas, independente da sexualidade, quantos parceiros ou parceiras ela teve nos últimos seis meses. Se for único, a pessoa está apta a doar.
“Já foram orientados todos os triadores a não perguntar e não impedir doadores devido a escolha sexual [sic] e ou gênero. E sim por prática de risco, pergunta esta realizada para todos os doadores”, disse.