Não se trata de uma escolha da mãe, não é culpa sua.

“Será que eu amo meu filho? Será que ele vai me amar?” Essas são algumas das principais dúvidas de Geysa (nome fictício), que passou por depressão pós-parto. Ciente de que o amor é uma construção, Geysa tinha dificuldades pra cuidar de sua bebê. Ela se sentia muito triste e culpada por sentir isso.
“Infelizmente, muitas mulheres sofrem com a depressão pós-parto, que ocorre com muito mais frequência do que se imagina e do que se admite, não se fala sobre o assunto, não é ‘permitido’ à mulher, à jovem mãe, falar sobre tais sentimentos, já que se acredita que ter um filho virá acompanhado apenas de sentimentos bons, existe muito preconceito decorrente da ideia romantizada da maternidade”, destaca Michele Tartari, psicóloga.
Segundo Michele, mais preocupante ainda é o fato de que as alterações emocionais significativas, entre elas ansiedade e estresse, que culminam no estado depressivo, se apresentam em sua grande maioria ainda na gestação.
“Sendo assim, poderia haver o cuidado, como por exemplo o pré-natal psicológico, e isso impactaria de forma positiva na vida de muitas mulheres e seus bebês. Todo amor é construído, o amor materno não é diferente, precisa ser cuidado.”
Como amenizar a culpa?
“O primeiro ponto é entender que essa foi uma condição vivenciada sobre a qual ela não tinha controle, que advém de alterações emocionais significativas, que ocorrem em um período extremamente sensível e de grande potencial para estas alterações, são muitas mudanças, ressignificações, reconstruções da nossa identidade e papel social, enfrentamentos e adaptações vivenciados desde a gestação”, responde Michele.
Ela ressalta que ter depressão pós-parto não é uma escolha, mas é sim uma consequência de vários fatores, inclusive da ausência de uma rede de apoio funcional e de programas voltados ao cuidado da saúde mental materna, desde a gestação até o fim do puerpério, que pode ir até os dois anos do bebê
“Não é justo que carreguemos a culpa por um período em que estávamos fragilizadas emocionalmente e psiquicamente. E se você não estava bem, quais eram as condições para maternar?”
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Uma construção
Michele cita o segundo ponto: A relação com os filhos é construída dia após dia, momento a momento. “Devemos olhar para o que pode ser construído agora, a culpa pelo que passou não traz de volta o que foi perdido, o tempo não volta, então que a gente saiba investir no agora, no que virá, podemos investir no fortalecimento do vínculo, o autocuidado, na estimulação dos nossos bebês (que pode ser mais simples do que se imagina, um exemplo: falar e cantar com seu bebê é uma forma de estímulo) na confiança de que somos capazes.”
A ajuda de um psicólogo pode ser importante neste processo, já que este profissional trabalha principalmente com o acolhimento, orientações e intervenções que favorecem o autoconhecimento e o empoderamento. E, para finalizar, o terceiro ponto: “Você não está sozinha, muitas mulheres se sentiram como você. Não tenha receio de procurar ajuda.”