Ele foi homenageado pelo CRM-PR, em 2013, e recebeu o título de cidadão honorário de Beltrão, em 2005.
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O médico oftalmologista Antônio Lúcio Duarte completará em outubro 50 anos de formado. Em Francisco Beltrão, o médico chegou em 1972 e foi o pioneiro na área de oftalmologia e otorrinolaringologia – nariz, amígdalas e ouvidos.
Ao longo destas décadas, dr. Antônio Lúcio, ou apenas dr. Lúcio, conquistou milhares de amigos e pacientes. Seu cadastro de pacientes conta com 110 mil nomes. Mais que a medicina e oftalmologia, dr. Lúcio teve atuação destacada na comunidade beltronense e regional.
Ele e a esposa Regina foram fundadores da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Beltrão, que mantém a Escola Especializada Antônio Lúcio Duarte, e junto com o irmão José Guidi Duarte Júnior e o Rotary Francisco Beltrão mantêm o projeto Olho no Olho. Dr. Lúcio teve atuação no Rotary, Maçonaria e no Santa Fé Clube de Campo.
Por sua atuação comunitária, em 2005 ele recebeu o título de cidadão honorário de Francisco Beltrão. Em 2013, o médico foi homenageado pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) por atuação nas áreas médica e social. A indicação do seu nome foi dada ao CRM-PR pela Associação Médica do Sudoeste do Paraná e a concorrência foi com outros 50 profissionais.
Em 1982, dr. Lúcio foi eleito vereador com a maior votação da história para o cargo, com 2.445 votos. Até hoje, foi sua única participação direta na política local.
Em entrevista ao Jornal de Beltrão, o profissional de saúde falou sobre vários assuntos, inclusive o Dia do Médico Oftalmologista, que se comemora hoje. Durante a entrevista, dr. Lúcio e o repórter Flávio Pedron usaram máscaras como prevenção contra o coronavírus.
Leia parte da entrevista
JdeB – Dr., o senhor está completando em outubro desse ano 50 anos de formatura e, também, 48 anos de Francisco Beltrão. Gostaria que o senhor falasse um pouquinho da sua história em Francisco Beltrão, como médico pioneiro na área de oftalmologia.
Dr. Lúcio – Eu me formei em Curitiba (UFPR). Entrei na faculdade em 1965 e me formei em 1970, esse ano nós vamos fazer 50 anos de formados. Me dediquei à área de oftalmologia desde o quarto ano de faculdade, trabalhava com um colega, hoje já falecido, dr. Valmir Peixoto, trabalhei anos com ele. Na época, fiz a minha pós-graduação em oftalmologia e otorrino. Eu era médico dos olhos, ouvidos, nariz e garganta porque Francisco Beltrão necessitava, porque nós não tínhamos aqui. E como o nosso hospital, a Policlínica, era o nosso hospital regional, atendia também os pacientes do Funrural, por ser regional, porque na época exigia que tivesse um médico oftalmo e otorrino. Eu fui procurado pelo dr. Walter Pécoits, porque eu estava certo pra ir pra Joinville, na época. Naquela época tinha poucos oftalmos no Paraná e em Santa Catarina também. E Joinville só tinha dois oftalmos naquela cidade enorme. O dr. Walter soube que eu fazia oftalmo, estava me deslocando para outra cidade pra trabalhar, me procurou em Curitiba, fez uma proposta que, naquele tempo, como médico, estudante e pobre, era irrecusável! Então eu vim pra Beltrão.
Estávamos aqui no hospital eu, o dr. Walter e o dr. Mário, nós éramos em três médicos, e a gente fazia de tudo. Depois, na parte de otorrino, veio um colega meu, o dr. Osvaldo [Dacome] assumiu essa parte e eu fiquei só na oftalmologia. Posteriormente, eu trouxe meu irmão, o Duarte Júnior, que também é oftalmologista, e daí fizemos um serviço de oftalmologia aqui na microrregião de Beltrão. Nós fomos desenvolvendo a oftalmologia, porque hoje tem um grande desenvolvimento e crescimento da oftalmologia, porque os conceitos que eu tinha quando eu me formei e os primeiros anos que eu trabalhei, eram uns, e foi evoluindo e se você ficar naquele tempo ainda, você fica parado. Com a vinda do meu irmão, ele me incentivou que a gente comprasse aparelhos, como o laser. Então hoje eu me sinto satisfeito, estou completamente dentro do padrão atual da oftalmologia do País. Temos inclusive, hoje, técnicas cirúrgicas modernas a laser. Fizemos uma parceria com o Hospital de Olhos de Cascavel. A gente pode realizar vários procedimentos que antes não podia, como cirurgia de catarata a laser em 15, 20 minutos, com anestesia só local e sem precisar óculos. Então você vê que são técnicas modernas que vão se ajustando e desenvolvendo juntos, para poder evoluir com a medicina.
Na época que o senhor chegou aqui, tinha vários tipos de problemas oculares. Quais eram os mais comuns?
Além dos vícios de refração, como a miopia, astigmatismo, presbiopia… eram os acidentes traumáticos no olho. Na nossa região, por ser uma região agrícola, a gente operou muito olho perfurado por prego, por grampo, cerca. Na época tinha muito isso e as uveítes. Na nossa região a toxoplasmose é endêmica, então nós tivemos muitos casos de toxoplasmose. Talvez, no Brasil, da região de Erechim a Cascavel são as regiões que mais têm casos. Então a gente desenvolveu, estudou e tratou muitos casos.
E hoje dr., como está a situação de problemas oculares? Como o senhor vê as doenças oculares depois de cinco décadas?
Hoje existe muito uso de computadores, celulares, inclusive crianças pequenas, têm crianças de 2, 3 anos que já está grudadinha no celular, né. Então, isso aí está desenvolvendo a miopia, devido ao uso exagerado dos olhos para perto. Antigamente as crianças saíam pra jogar bola e tal. Hoje não. Hoje elas estão na Netflix. Isso vai trazer complicações pro olho, inclusive, eles acham que a miopia está se desenvolvendo muito devido ao uso exagerado dos aparelhos eletrônicos, e eu acredito que há também emissão de radiação através desses aparelhos. Então se criou aquelas lentes chamadas “antirreflexo”, que protege muitas vezes desses raios que são emitidos por esses aparelhos.
Dr., há muitos anos o senhor trabalha no projeto “Olho no Olho”, através do Rotary também. Muitas crianças foram detectadas com algumas doenças. Gostaria que você falasse um pouquinho sobre esse trabalho.
O projeto “Olho no Olho” foi criado pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), mas há 23, 24 anos. Então a SOB, junto com a Secretaria de Cultura e Educação, patrocinava os exames – inclusive eles mandavam as armações dos óculos –, mas aí pararam o projeto. Mas eu e meu irmão resolvemos continuar, apesar de não termos mais o estímulo do Ministério de Educação, e a gente precisava de uma parceria. Então o Rotary Club de Francisco Beltrão, com essa parceria, conseguiu os óculos pra nós, porque muitas vezes as crianças pobres e humildes eram diagnosticadas, a gente examinava e depois não tinha os óculos. Então o Rotary é muito importante, porque ele assumiu essa parte dos óculos e nós, anualmente, fazemos o exame no primeiro aninho e em crianças de 5 a 6 anos, porque se você detecta o problema nessa idade, você vai ter pro futuro crianças com visão de bom desenvolvimento. Então, se a gente começar cedo, em Beltrão há 20 anos já, imagina quantos casos se detectou… e a criança cresce e pode procurar os meios para corrigir esse problema. A gente faz primeiro um treinamento com as professoras. Nós temos também muita cooperação da Secretaria de Educação. Primeiro as professoras fazem o teste na aula, e aquelas crianças que são detectadas com dificuldade visual, eu e meu irmão fizemos o exame no consultório, de graça, e, posteriormente, o Rotary dá o primeiro óculos. Com isso, nós vamos estar fazendo a prevenção da ambliopia. E o que é ambliopia? É aquele olho que não tem visão por falta de correção, e se você não corrigir precocemente ele não vai desenvolver mais. A nossa visão é dada pelo cérebro, não pelo olho, o olho faz a imagem e joga no cérebro, e se você jogou uma imagem borrada lá por muitos anos, ele não vai recuperar essa imagem, ele vai ter sempre a imagem borrada, por isso que é muito importante esse exame precoce.
Dr. outra coisa é a questão da homenagem prestada em 2013 pelo Conselho Regional de Medicina. O senhor pode contar como foi?
A homenagem foi o coroamento da minha carreira. Eu nunca esperava, nunca mesmo! Porque um ‘medicozinho’ aqui do interior, como que vai ser lembrado assim por algo tão importante, se na época eram só 11 que tinham essa medalha, e a última, minha antecessora, foi a dra. Zilda Arns. Você vê que honra pra mim ser homenageado por uma medalha que a dra. Zilda também foi homenageada. Eu fui indicado pela Associação Médica de Beltrão. Na época tinha 43 médicos indicados, fui selecionado e ganhei esse prêmio. Mas olha, fiquei muito contente, a gente fica realizado. Uma vida toda dedicada à medicina, toda dedicada à população, não só na parte médica, porque aqui em Beltrão eu participei de muitas atividades, e essas atividades aliadas à medicina foram o que me deram essa medalha. Como a campanha “Olho no Olho”, que a gente fundou em Beltrão e fomos pioneiros, a gente teve o privilégio e a honra de fundar quase tudo em Beltrão. Eu participei de tudo em Beltrão, mas a maior conquista foi a Apae. Com o nascimento do meu filho, o Lucinho, a gente não tinha nenhum espaço que atendesse crianças com necessidades especiais, aí nós fundamos a primeira Apae do Sudoeste. Hoje a nossa Apae tem um imóvel espetacular, são quase 300 crianças que a gente atende lá. A gente tem Apaes em quase toda a região e podemos resgatar na sociedade essas crianças, essas pessoas que eram marginalizadas. A gente, na Apae, devolve a elas a cidadania, que é um direito que elas sempre tiveram e que sempre foi negado. Então isso também me realizou. A presença do Lucinho, inclusive hoje com nome de escola, na nossa casa é uma presença que eu e minha esposa Regina acreditamos ser a presença de Deus. Ele colocou no nosso lar uma pessoa com deficiência para que as pessoas tomassem conhecimento e que a gente tomasse uma providência em favor dele. A gente sempre pensou assim. E sempre deu certo. Foram muitos fatores que me levaram a ganhar essa medalha, então é uma honra muito grande. Eu me orgulho disso.
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No Dia do Médico Oftalmologista, hoje, o entrevistado é o dr. Antônio Lúcio Duarte, de Francisco Beltrão. Em quase 50 anos de profissão, ele já atendeu 110 mil pacientes.
Fotos: Flávio Pedron/JdeB