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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

”Dói pensar que não pudemos nos despedir”, desabafam familiares de Hermínia, 10ª vítima da Covid em Beltrão

Hermínia Bolzan Taschetto Biguelini tinha 87 anos e precisou ser enterrada horas depois de falecer.

Giovani Biguelini sempre entregava uma flor à mãe, que a colocava no cabelo.

Desde março, Hermínia Bolzan Taschetto Biguelini não colocava no cabelo as flores que sempre ganhava do filho Giovani Biguelini, 55 anos. Por estar no grupo de risco, a família optou por não visitá-la mais, com exceção das idas ao portão da casa, de onde acenavam e a podiam vê-la sentada em sua cadeira de rodas, acenando de volta.

Aos 87 anos, Hermínia lutava contra o Alzheimer, doença que começou tímida ainda em 2007, mesmo ano em que se mudou do Rio Grande do Sul para Beltrão, para ficar mais próxima dos filhos, Jailto e Giovani Biguelini, ambos médicos, e das noras, Valdirene e Cristina Biguelini, que logo a tiveram por segunda mãe.

Seu jeito acolhedor e humilde encantava e nem o Alzheimer, que este ano já estava agravado, tirou isso dela. Assim, quando a pandemia chegou e as medidas mais rigorosas para conter a Covid-19 foram adotadas, a família optou por não visitá-la mais. Pelo menos não como antes. Era uma forma de protegê-la e manter alguém que já estava com a saúde debilitada longe da exposição ao vírus. Apesar disso, Hermínia não ficou imune.

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Diagnóstico
Sua nora Cristina, de 48 anos, relembra com dor. Em meados de julho foi que Hermínia apresentou os primeiros sintomas. De repente, começou a ficar mais abatida. Quieta. Sem vontade de se alimentar. Por serem sintomas característicos da Covid, a família já decidiu tratá-la como se estivesse com a doença. Não queriam esperar.

Cristina não se recorda a data exata, mas foi numa quinta-feira de julho que o laboratório foi até Hemínia para que ela fosse testada. Até ali, não quiseram retirá-la de casa e a expô-la a ambientes que pudessem estar contaminados. Então, na própria sala, ela teve o resultado positivo para a Covid divulgado. Mas, como uma mulher que sempre foi vista como forte, recuperou-se e depois de 14 dias recebeu alta do tratamento.

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Luto
Era quase Dia dos Pais e Hermínia estava em casa. A família até pensou em vê-la à época. Comemorar a data. Infelizmente, coisa que nem de longe puderam: as sequelas da doença ainda estavam em Hermínia e ela precisou ser internada duas vezes seguidas. Na segunda, sem poder estender um sorriso à família de volta.

“Ela teve uma inflamação no coração pela Covid. A doença que levou ela ao óbito foi a Covid!”, lamenta Cristina. “Você se sente impotente, não tem como fazer nada. Você tem conhecimento, estrutura, mas de repente vê tua mãe dentro da UTI e tu não tem o que fazer. Você não pode chegar perto. Não pode falar: ‘Vó, vamos reagir! Vamos se apoiar’. Não. É aquela solidão. Infelizmente, ela morreu às 5h e às 7h já estava sepultada. Só foi possível ir ao cemitério depois que o caixão estava fechado. A gente se apegou muito. Era minha mãe aqui, minha família aqui. Dói pensar que não pudemos nos despedir.” Não teve velório. O caixão estava fechado. E apenas cinco familiares acompanharam de longe o enterro solitário.

O pedido de Hermínia era para que, quando esse dia chegasse, ela fosse enterrada no Rio Grande do Sul, junto do marido. Daqui a alguns anos, de acordo com a legislação, a família poderá realizar o desejo quando, esperam, a pandemia já tenha passado.

“Agora é a hora de parar tudo! A Covid existe, ela não é brincadeira. Ela mata! E não mata só o hipertenso, só o diabético, só quem tem problema pulmonar… Ela é uma doença terrível. As pessoas estão achando que a Covid passou. Não! Ela recém chegou”, apela Cristina.

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