Hermínia Bolzan Taschetto Biguelini tinha 87 anos e precisou ser enterrada horas depois de falecer.

Desde março, Hermínia Bolzan Taschetto Biguelini não colocava no cabelo as flores que sempre ganhava do filho Giovani Biguelini, 55 anos. Por estar no grupo de risco, a família optou por não visitá-la mais, com exceção das idas ao portão da casa, de onde acenavam e a podiam vê-la sentada em sua cadeira de rodas, acenando de volta.
Aos 87 anos, Hermínia lutava contra o Alzheimer, doença que começou tímida ainda em 2007, mesmo ano em que se mudou do Rio Grande do Sul para Beltrão, para ficar mais próxima dos filhos, Jailto e Giovani Biguelini, ambos médicos, e das noras, Valdirene e Cristina Biguelini, que logo a tiveram por segunda mãe.
Seu jeito acolhedor e humilde encantava e nem o Alzheimer, que este ano já estava agravado, tirou isso dela. Assim, quando a pandemia chegou e as medidas mais rigorosas para conter a Covid-19 foram adotadas, a família optou por não visitá-la mais. Pelo menos não como antes. Era uma forma de protegê-la e manter alguém que já estava com a saúde debilitada longe da exposição ao vírus. Apesar disso, Hermínia não ficou imune.
Diagnóstico
Sua nora Cristina, de 48 anos, relembra com dor. Em meados de julho foi que Hermínia apresentou os primeiros sintomas. De repente, começou a ficar mais abatida. Quieta. Sem vontade de se alimentar. Por serem sintomas característicos da Covid, a família já decidiu tratá-la como se estivesse com a doença. Não queriam esperar.
Cristina não se recorda a data exata, mas foi numa quinta-feira de julho que o laboratório foi até Hemínia para que ela fosse testada. Até ali, não quiseram retirá-la de casa e a expô-la a ambientes que pudessem estar contaminados. Então, na própria sala, ela teve o resultado positivo para a Covid divulgado. Mas, como uma mulher que sempre foi vista como forte, recuperou-se e depois de 14 dias recebeu alta do tratamento.
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Luto
Era quase Dia dos Pais e Hermínia estava em casa. A família até pensou em vê-la à época. Comemorar a data. Infelizmente, coisa que nem de longe puderam: as sequelas da doença ainda estavam em Hermínia e ela precisou ser internada duas vezes seguidas. Na segunda, sem poder estender um sorriso à família de volta.
“Ela teve uma inflamação no coração pela Covid. A doença que levou ela ao óbito foi a Covid!”, lamenta Cristina. “Você se sente impotente, não tem como fazer nada. Você tem conhecimento, estrutura, mas de repente vê tua mãe dentro da UTI e tu não tem o que fazer. Você não pode chegar perto. Não pode falar: ‘Vó, vamos reagir! Vamos se apoiar’. Não. É aquela solidão. Infelizmente, ela morreu às 5h e às 7h já estava sepultada. Só foi possível ir ao cemitério depois que o caixão estava fechado. A gente se apegou muito. Era minha mãe aqui, minha família aqui. Dói pensar que não pudemos nos despedir.” Não teve velório. O caixão estava fechado. E apenas cinco familiares acompanharam de longe o enterro solitário.
O pedido de Hermínia era para que, quando esse dia chegasse, ela fosse enterrada no Rio Grande do Sul, junto do marido. Daqui a alguns anos, de acordo com a legislação, a família poderá realizar o desejo quando, esperam, a pandemia já tenha passado.
“Agora é a hora de parar tudo! A Covid existe, ela não é brincadeira. Ela mata! E não mata só o hipertenso, só o diabético, só quem tem problema pulmonar… Ela é uma doença terrível. As pessoas estão achando que a Covid passou. Não! Ela recém chegou”, apela Cristina.