1º de dezembro é o Dia Internacional de Luta contra Aids.

Quem testa positivo para HIV pode sim levar uma vida normal, com suas relações de trabalho, afetivas e sociais, desde que tenha hábitos de vida saudáveis. É o que explica Lia Beatriz Henke de Azevedo, enfermeira e coordenadora do Serviço de Assistência Especializada/ Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), em Francisco Beltrão, desde 2011. Hoje, 1º de dezembro, é o Dia Internacional de Luta contra Aids.
Em 2019, foram 75 pacientes novos; em 2020 foram 57 casos e, neste ano, de janeiro até 26 de novembro, são 56 casos, mas ainda há o mês de dezembro para fazer a testagem. A queda de casos não significa necessariamente que o número de infectados tenha caído. “Segundo estudo da Secretaria Estadual de Saúde e do Ministério da Saúde, percebeu-se uma diminuição do número de testagens. Quanto menos a gente testa, menos diagnósticos a gente vai fazer.”
Por que aconteceu esta queda do número de testagens? “Tem relação com a pandemia, porque as pessoas tiveram um pouco de medo de sair de casa, preocupadas de ir às unidades de saúde e acabar se infectando com coronavírus. Existem muitos serviços que acabaram sendo direcionados só para o coronavírus, então isso também diminuiu o acesso da população ao teste rápido. É compreensível, porque a gente estava vivendo um momento muito difícil.”
Que voltem a fazer testes
Além disso, a diminuição do número de testagens se deve também ao fato de que não foi possível fazer nenhum tipo de campanha externa, para evitar aglomeração. Neste mês de dezembro, o SAE/CTA fará palestras nas empresas e nas escolas, difundindo informação e relembrando as pessoas de que HIV existe para qualquer um que tenha vida sexual ativa e não faz uso de proteção, de preservativo, pois acaba se expondo e pode ter contato com o vírus HIV.
“Procuramos chamar atenção para que as pessoas voltem a se testar, pelo menos uma vez por ano. Tornar isso um hábito. Há uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) de 2016, que diz que tanto o teste de HIV quanto de hepatite e de sífilis devem ser feitos de forma rotineira. Quanto mais testarmos, mais pessoas faremos o diagnóstico e mais rápido essas pessoas estarão com a carga viral indetectável e com isso deixa de transmitir o HIV. Esse é o nosso maior objetivo.”
Informação do diagnóstico e a busca pela carga viral indetectável
Como o paciente é informado sobre o diagnóstico? O SAE/ CTA informa o diagnóstico no momento da testagem, alguns já vêm com a sorologia, encaminhados por algum profissional de saúde da rede e existem outros pacientes que já vêm com o teste rápido pronto, já que são atendidos os 27 municípios da 8ª Regional, e tem aqueles que fazem o teste rápido em Beltrão. “Para para fazer o diagnóstico de HIV nós precisamos de duas amostras de sangue e como nós temos o teste rápido isso acaba facilitando o diagnóstico. Então, o paciente vem no SAE, faz a primeira testagem e se reagir positivo ao HIV o paciente é informado que houve alteração do seu exame e precisamos fazer uma segunda coleta. A segunda amostra é coletada no mesmo momento, com kit de um laboratório diferente e se os dois testes forem positivos a gente já confirma o diagnóstico.”
A partir daí, são feitas as orientações em relação aos cuidados e à forma como o HIV funciona no organismo, pois a maior parte dos pacientes relatam o medo de morrer logo. “Eu sempre falo que o vírus HIV em si não mata ninguém, o que mata são as doenças oportunistas. Orientamos que o paciente só vai adoecer se ele não fizer o tratamento da forma adequada ou então adoecem aqueles que fazem o diagnóstico muito tarde. Mas este paciente assintomático, que inicia o tratamento, em pouquíssimo tempo ele adquire a carga viral indetectável, então o seu risco de adoecimento é igual a qualquer outra pessoa.”
Lia ressalta que existe sim vida depois do HIV e se o tratamento for adequado, eles não irão adoecer. “Existem estudos que indicam que se o paciente tem carga viral indetectável há mais de um ano, ele já não transmite mais o vírus e isso é uma proteção para as pessoas com que eles se relacionam.”
Quando o paciente está assintomático, normalmente a primeira consulta passa por Lia, que procura apresentar as informações e as requisições dos exames para iniciar o acompanhamento e no máximo em 30 dias o paciente está de volta, com todos os exames em mãos, para iniciar o tratamento com o antirretroviral. “Hoje, o tratamento com o antirretroviral que nós temos é o melhor usado no mundo inteiro. O paciente que está assintomático usa dois comprimidos por dia. Não é mais como antigamente, que o paciente fazia o diagnóstico e tomava dez, 15 comprimidos. Uma boa parte desses pacientes faz a primeira CD4 carga viral, esse exame avalia a quantidade de vírus existente circulando e a quantidade de células de defesa que o paciente tem.” Normalmente, é feito antes de iniciar o tratamento. Depois de 60 a 90 dias de tratamento, o paciente também fará uma carga viral. “Uma boa parte desses pacientes, já na segunda carga viral estão indetectáveis. Isso mostra a eficácia do tratamento. É um paciente que terá uma vida normal, sem adoecer, trabalhando e estudando normalmente. O HIV não é mais como era antigamente, hoje podemos considerar o HIV como uma doença crônica como outra qualquer.” Lia comenta que não existe a cura ainda, mas há um tratamento altamente eficaz, com poucos efeitos colaterais, desde que a pessoa tenha uma alimentação adequada, procure dormir bem e o ideal sempre é não usar drogas, não fumar e não beber. “São orientações que a gente procura repassar para este paciente. O que precisa ser entendido é que ele precisa conhecer sobre a doença, sobre o tratamento e principalmente saber que o autocuidado é muito importante.”
Medo do preconceito
A reação diante do resultado positivo depende de cada paciente. “No geral, eles ficam muito abalados, não por causa da doença, porque a gente explica que o tratamento é tranquilo e não tem efeitos colaterais, mas o medo deles é o preconceito. O que faz com que eles fiquem muito preocupados é o julgamento da sociedade, da própria família e dos amigos, medo de serem excluídos do convívio. É um sofrimento muito grande, mas com o tempo passa. A gente percebe isso no início. Nós também temos acompanhamento psicológico, que é muito importante, para dar uma força maior para eles poderem enfrentar esse primeiro momento. Depois eles percebem que não há o que temer e eles conseguem lidar melhor com o preconceito.” Todo o processo é sigiloso.