Em 2019, da regional de Francisco Beltrão ocorreram 44 internamentos de queimados em serviços de referência.

“As memórias não são muito boas, lembro como se fosse hoje toda aquela gritaria das pessoas desesperadas me vendo em chamas, memórias de muita dor, pânico, desespero e por um momento, de morte. Às vezes paro pra pensar que já vai fazer um ano e parece que foi ontem aquele dia horrível. O pior momento da minha vida.” O depoimento é do jovem Lucas Carlos Ferreira, o Alemão, 23 anos, que se feriu gravemente num acidente com fogo, dia 20 de junho de 2019, no Parque de Exposições de Francisco Beltrão, durante uma festa. Ele ficou internado cerca de 40 dias no Hospital Evangélico de Curitiba devido suas queimaduras e hoje, um ano depois, ele ainda sofre com as sequelas dos ferimentos.
Neste sábado, 6 de junho, é o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras. De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras, cerca de um milhão de pessoas sofrem queimaduras no Brasil a cada ano, 200 mil são atendidas em serviços de emergência e 40 mil demandam hospitalização. As lesões por queimaduras apresentam alto impacto no perfil de mortalidade da população brasileira. Infelizmente no Brasil ainda há baixo investimento financeiro em centros especializados, enquanto nos Estados Unidos aproximadamente 4 bilhões de dólares são gastos em tratamento e reabilitações. O Paraná é o estado do Sul do país com maior taxa de internação por queimaduras.
Alemão teve 60% da superfície do corpo queimada. Para evitar que sentisse muitas dores decorrentes das queimaduras e do trabalho de curativos, ele ficou vários dias em coma induzido. O procedimento foi adotado pelos médicos. Em leito de UTI foram 22 dias.
Inicialmente ele ficou entre os dias 20 e 22 de junho em leito de UTI do Hospital Regional de Francisco Beltrão. Posteriormente, foi levado para Curitiba, de avião da Central de Remoção de Pacientes do Governo do Estado. No Hospital Evangélico, da capital, ele recebeu atendimento especializado.
Ele conversou com o Jornal de Beltrão nesta semana e disse que ainda está em recuperação, pois é um processo longo e demorado. “Todo mês tenho consultas em Curitiba e agora que vou começar a fazer as plásticas, mas foi muito bom até aqui, quase voltei à minha rotina normal, ainda me cuidando um pouco do sol.” Alemão conta que já voltou ao trabalho, apenas internamente, sem se expor ao sol. E revela que ficou com um trauma. Fiquei com muito receio de mexer com álcool e fogo tenho muito medo. Quando alguém tá mexendo já olho com aquele olhar de medo e falo sempre que posso para ter muito cuidado.”
Alemão faz um alerta e lembra que o ditado que com “fogo não se brinca” é extremamente verdadeiro. “É uma coisa muito rápida. O álcool, por exemplo, é explosivo e você não tem nem tempo de piscar o olho. E não é só você quem sofre, são todos em sua volta que gostam de ti. Família, amigos, conhecidos porque ninguém gosta de ver uma pessoa sofrer. Quanto ao uso de narguilé, cada um tem sua consciência. Eu não quero pra mim e aconselho ninguém usar, não tem dinheiro que pague meu sofrimento que passei e minha dor.”
Como foi o acidente
O acidente aconteceu no começo da tarde do dia 20 de junho, feriado de Corpus Christi, numa festa que acontecia no parque de exposições. Alemão estava num grupo de dez pessoas e próximo de um narguilé. Alguém jogou álcool em uma lata que tinha sido acesa com brasas. A lata explodiu e feriu com gravidade Alemão e seu amigo Luiz Henrique, de 19 anos. Eles foram levados, de ambulância, para atendimento emergencial na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Depois houve a transferência de ambos para o Hospital Regional. Alemão foi transferido para casa de saúde da capital dois dias depois.
Mais de 40 internamentos em 2019
Os centros de referência para queimados no Estado do Paraná e que são referência também para a 8ª Regional de Saúde são Hospital Evangélico, de Curitiba, e Hospital Universitário, de Londrina. Em 2019, da regional de Francisco Beltrão ocorreram 44 internamentos de queimados nesses serviços de referência. Em 2020, até o momento 7 internamentos. A enfermeira Maria Izabel, chefe da 8ª Regional de Saúde, lembra ainda que as pequenas queimaduras não são encaminhadas a esses hospitais e nesses casos não há dados sobre o esse quantitativo. Ela ressalta que é muito importante todo cuidado, pois as queimaduras são de difícil tratamento. Normalmente os acidentes ocorrem em ambientes domésticos ou de trabalho.