E a palavra de ordem do momento é “reinventar”; o que isso significa?

Não há uma resposta definida para o que é reinventar, mas a psicóloga Michele Tartari apresenta algumas possibilidades. Formada em Psicologia, Michele cursa uma pós em Neuropsicologia Clínica e outra Psicologia Perinatal e da Parentalidade (gestação e pós-parto), além de fazer uma capacitação em Avaliação Psicológica. Ela destaca que reinventar passa pela experiência de cada um e se refere a encontrar novas formas de “fazer”, incluindo mudanças nos relacionamentos com as pessoas, nos contextos onde se vive e nas inter-relações sociais.
“É hora, por exemplo, de aprender a lidar com o WhatsApp, para poder conversar com a família (fazer chamada de vídeo em grupo, quem diria?); de sentar com os filhos para a atividade da escola, de reuniões on-line, home office e o uso de tantas tecnologias que se tornaram rotina no nosso dia-a-dia (zoom, google meet etc). Reinventar o jeito de matar a saudade, de lidar com a ausência do abraço; reinventar fala também de resiliência da nossa capacidade de olhar para o caminho e encontrar novas formas de caminhar.”
Desde o início da pandemia, em março do ano passado, até janeiro deste ano, Michele atuou como voluntária da Rede de Apoio Psicológico, com aproximadamente quatro mil profissionais cadastrados para oferecer atendimento psicológico para trabalhadores da área da saúde em todo o Brasil. Ela é ainda facilitadora capacitada do Programa de Qualidade na Interação Familiar (PQIF) e voluntária da ONG Mão Amiga.
Michele ressalta que o lockdown e as medidas de afastamento social privam as pessoas do mais essencial do ser humano, a interação com o outro. “Desde que a gente nasce, precisamos do outro para significar e entender o mundo. Hoje, as famílias estão pequenas, muitas vezes com filhos únicos, com poucos primos, então a socialização e muito dessa troca se dá na escola. No momento estamos todos privados de contato social.”
O clima é de incerteza. De uma hora para outra a vida precisou mudar. “Isso desorganizou nossa vida e a falsa impressão de segurança que a gente tinha se foi. O ser humano precisa de uma certa previsibilidade e de uma impressão de controle, mas o que acontece hoje no cenário imposto pela pandemia é que não sabemos quando irá acabar, não há como prever, precisamos esperar e cuidar. Também temos dificuldades de adaptação aos protocolos de segurança e isso nos causa sofrimento.”
Os níveis de ansiedade estão elevados e com este novo lockdown a tendência é aumentar ainda mais. O Brasil é o país mais ansioso do mundo, desde de 2017, segundo Organização Mundial de Saúde (OMS), e agora, por conta da Covid, aumentou 80%, segundo pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Como lidar?
Michele sugere acessar fontes de informação seguras, como site da Fiocruz e o portal de saúde da Secretaria de Estado do Paraná. “Filtrar informações tem muita fake news por aí, além de buscar estratégias na sua história de vida que já funcionaram em outros momentos. Buscar novas formas de se relacionar, como fazer videoconferência entre as crianças. Fortalecer a rede socioafetiva também é muito importante pois é um fator de proteção. Outra estratégia é buscar ajuda psicológica, não apenas como meio de resolução de problemas, mas como cuidado e prevenção.
“A Psicologia e a sociedade ainda sofrem o estigma de que vai ao psicólogo só quem tem problemas, na verdade, vai ao psicólogo quem não quer ter problemas, quem quer se cuidar, quem quer estar bem, quem quer se conhecer. O autoconhecimento e a ampliação de repertórios promovidos em um processo psicoterápico tem muito a contribuir na forma como vemos o mundo e de como encontramos novas formas para lidar com os desafios e as adversidades. Precisamos reconhecer que a gente não dá conta de tudo sozinho e nem precisamos dar conta de tudo sozinho.”
A busca por tratamentos em saúde mental agiliza o processo de melhora dos sintomas relacionados ao sofrimento psicológico, facilita a adaptação e favorece o desenvolvimento da resiliência.