Sintomas que as pessoas consideram ser físicos estão diretamente relacionados às emoções, segundo psicólogo.

Júlio César de Lima, psicólogo.
Foto: Karla Marcon
A ansiedade pode ser vista como essencial ao organismo, mas também pode ser preocupante. “É uma resposta biológica, que aparentemente surgiu como mecanismo de defesa e preparação para enfrentamento ou fuga frente a um perigo eminente”, destaca Julio César de Lima, psicólogo. Ele acrescenta que existem diversos sintomas comuns nos transtornos relacionados à ansiedade. Entre os sintomas físicos estão taquicardia, sudorese, tremor e sensação de falta de ar, assim como os pensamentos, que podem ser medo de perder o controle, medo de morrer e dificuldade de concentração.
Segundo Julio, exercícios físicos e de respiração podem ter bons resultados a curto prazo, nos casos mais leves. “Procure conversar com alguém que confie e relate o que está sentindo. É preciso avaliar a possibilidade de buscar tratamento, caso necessário. No geral, o que vemos são pessoas buscando a automedicação ou ignorando os sintomas, acreditando que aquilo vai passar.” Confira a entrevista:
JdeB – De que forma um profissional pode ajudar?
É necessário avaliar o histórico de cada pessoa e compreender como cada profissional poderia contribuir. É muito comum pessoas buscarem a psicoterapia somente depois do encaminhamento de um médico especialista em cardiologia ou gastroenterologia. Isso acontece, pois muitos sintomas que as pessoas consideram ser físicos estão diretamente relacionados às emoções e aos sentimentos. Neste caso, o primeiro passo é compreender que a resposta de autopreservação pode estar se generalizando, como se a pessoa estivesse em perigo constantemente. Se isso estiver acontecendo, o profissional, de acordo com a sua abordagem, poderá ampliar a percepção que tem sobre sua ansiedade.
Como agir neste período de pandemia?
Sabendo que a ansiedade tende a levar as pessoas a terem pensamentos catastróficos (de que algo vai dar errado; que o pior pode acontecer), a situação da pandemia da Covid tem agravado a ansiedade. É preciso filtrar as fontes de comunicação, para não se sobrecarregar com tanta notícia ruim. Outra orientação é cuidar de si: procure fazer algo que goste, faça exercícios físicos, alimente-se adequadamente, tenha uma boa regulação do sono e busque manter contato com quem te faz bem (ainda que seja virtualmente).
A ansiedade pode levar ao suicídio?
Os transtornos relacionados à ansiedade não tendem a levar as pessoas ao suicídio. O suicídio é mais comum em transtornos de personalidade, transtorno afetivo bipolar, depressão e esquizofrenia. Contudo, é preciso avaliar que, em um ataque de pânico, por exemplo, a carga emocional vivenciada é tamanha que a pessoa sente que está morrendo, que está perdendo controle. Isso faz com que ela não queira novamente passar por essa situação. Neste caso, algumas pessoas podem pensar em diminuir os sintomas (ou a dor) utilizando substâncias psicoativas ou mesmo tirando a própria vida.
Como auxiliar aquelas pessoas que estão com pensamentos suicidas?
O mais adequado é não julgar o questionamento da vida, mas sim compreender o que ela tem sentido. Os pensamentos e o desejo suicida podem ligar-se à ideia de diminuir algum tipo de sofrimento. A compreensão neste caso, requer ouvir atentamente a pessoa, acolhendo-a.