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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

No Sudoeste, 5% dos casos de Covid-19 são em crianças

Segundo especialistas, a doença nas crianças raramente evolui para quadros graves; fator assintomático é sinal de alerta para aumento da transmissão do vírus.

Dados da Secretaria do Estado da Saúde (Sesa) apontam que 5% dos casos positivos de Covid-19 na região Sudoeste do Paraná são em crianças. Os números, levantados pelo Jornal de Beltrão (JdeB), são do dia 12 de agosto, quando 186 crianças de até 12 anos já haviam testado positivo para a doença. Embora o número represente que a cada 18 casos um seja em criança, não há óbitos registrados na região. Segundo especialistas, este fator assintomático preocupa, já que os menores podem se tornar transmissores da doença, sem saber.

Segundo o levantamento, até o dia 12 de agosto, das 42 cidades da região, 25 tinham casos confirmados em crianças. O município com maior volume de crianças infectadas era Capanema, com 41 casos, seguido de Francisco Beltrão, com 32, e Pato Branco, com 31.

Entre as faixas etárias, a maioria, 25 casos, eram em crianças de 2 anos, 24 em crianças com 9 anos e 19 em crianças com 5 anos. Quando olhado o gênero, as meninas representavam a maioria, 53,7%.

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Casos crescem em Beltrão

Só em Francisco Beltrão, segundo dados dos boletins epidemiológicos divulgados diariamente pela Prefeitura, houve um salto nos casos entre crianças: mais de 60% nos últimos 15 dias. Segundo o secretário de Saúde, Manoel Brezolin, o que se observa é que as crianças estão contraindo o vírus dentro das próprias casas, o que aumenta a necessidade de proteção nesses ambientes.

Além disso, o secretário observa que há crianças circulando no comércio e em mercados, locais onde há a orientação para que não estejam. O cenário coloca em xeque outro debate, o da volta às aulas, onde crianças ficarão mais expostas e onde também poderão propagar mais o vírus, caso estejam contaminadas

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Volta às aulas pode ser fator de risco

No Estado do Paraná, um Comitê de Retorno às Aulas Presenciais foi criado no início de julho para debater de que forma se daria o retorno gradual. Ainda não há datas previstas, embora se estude o mês de setembro para isso. De acordo com o Comitê, o órgão que irá definir de fato o retorno será a Secretaria de Saúde, com base no desenvolvimento da pandemia.

Segundo o infectologista pediátrico e vice-presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), Victor Horácio de Souza Costa Júnior, a criança na escola pode, sim, ser um fator da propagação da doença, pois mesmo assintomática, ela é capaz de contaminar outras pessoas.

“E é esse o motivo que faz com que a gente viva a pandemia: é o assintomático transmitindo a doença”, frisou Júnior. “A Secretaria de Saúde tende a liberar o retorno das aulas exatamente se o índice epidemiológico de infecção estiver baixo, enquanto estivermos nos níveis que estamos, a chance da criança ir para a escola, se contaminar, trazer o vírus para casa e transmitir para o adulto é bem possível. Então, para o retorno das aulas, é necessário que a gente tenha um índice epidemiológico muito mais baixo do que ele vem se apresentando até o momento”.

Como a Covid se manifesta nas crianças

Júnior alerta que a Covid-19 em crianças raramente alcança níveis elevados da doença, além do grande número de crianças que passam por ela de forma assintomática. Os casos, segundo ele, variam, dependendo se há ou não outras comorbidades. Essas manifestações ainda são estudadas na literatura médica.

“Nos casos em que a criança tem uma doença de base, tem uma evolução pior. Mas em crianças, de maneira geral, o número de casos é menor, em virtude de algumas teorias, que a gente ainda não tem muita certeza, mas que poderiam estar relacionadas ao fato dela ter menos expressão de receptor ou o fato dela ter uma imunização cruzada – em que estudos podem apontar para a vacina tríplice viral.”

Médica plantonista do Departamento de Pesquisa do Grupo Iron, Sued Ferreira, que também é pediatra, destaca que, de forma geral, os sintomas apresentados por crianças são febre, tosse, coriza e dor de garganta.

“Nas formas sintomáticas, o quadro clínico mais comum é da síndrome gripal. Ou seja: sintomas respiratórios agudos e muito semelhantes aos causados por outros vírus da gripe. Na Covid-19, as alterações do olfato e do paladar, assim como diarreia, também são observadas. Um percentual muito pequeno na faixa etária infantil poderá apresentar quadros mais severos, como a síndrome respiratória aguda grave, que é quando a criança apresenta desconforto respiratório acentuado e coloração azulada em lábios e extremidades. Além dos sintomas respiratórios, a Covid pode envolver qualquer aparelho do organismo da criança. E, como qualquer doença, pode chegar a formas graves, com necessidade de hospitalização e evoluindo para um óbito”, alerta Sued.

Em crianças menores e bebês, cabe aos pais ficarem atentos com a hipoatividade e com uma irritabilidade, que fuja ao comportamento normal da criança. Ambos os casos podem ser manifestações da criança diante do desconforto causado pela doença.

Outra recomendação é para que os pais criem um ambiente seguro em casa, mantendo a higienização das mãos e a casa ventilada, além de usarem máscara de proteção facial quando saírem.  Sued pontua ainda que crianças menores de dois anos não devem usar máscara facial, já que isso pode provocar asfixia ou estrangulamento, além de que, nessa faixa etária, a criança acaba tocando mais no rosto estando com a máscara, do que sem. Mães que estejam amamentando também devem continuar com o aleitamento, mas com máscara e após a higienização das mãos. 

“É uma doença que não tem tratamento específico, uma doença que não tem vacina. Mas as orientações de isolamento social, distanciamento individual e bom senso das pessoas no cumprimento das normas epidemiológicas e sanitárias fazem com que os ambientes se tornem mais seguro”, frisa Júnior.

 

“Um pesadelo”: famílias com crianças que tiveram Covid falam do medo do tratamento e como foi a recuperação

Quando a pequena Ísis Castagna Garcia, de 8 meses, precisou fazer o teste para Covid-19, a mãe Vanda Castagna, de 37 anos, deixou a filha com o pai, Everton Aparecido Garcia, de 38. Não podia lidar com o medo do resultado positivo e nem em ver a pequena sendo submetida, tão nova, a um exame invasivo, que chegou a retirar sangue das suas narinas. Era dia 4 de agosto, e, embora o casal tivesse apresentado sintomas leves, foi a dor de garganta na filha que acendeu a preocupação.

O resultado, seis dias depois, deu positivo. Mas não apenas Ísis, Vanda e Everton também estavam com a doença. “E aí começou o pesadelo”, desabafa Vanda.

O casal começou a apresentar os sintomas no 1º dia de agosto. Primeiro foi uma forte dor no corpo. Depois, dores de cabeça e sintomas que pareciam de uma gripe qualquer, até chegar na perda do paladar e a preocupação por saber que esses sintomas também eram os da Covid-19.

“Tive medo muito medo. Nossa maior preocupação era com a nenê”, desabafa Vanda. Quando o casal buscou ajuda, no dia 4, foi orientado apenas a buscar auxílio ao bebê, o que fez a pediatra suspeitar quando diagnosticou a dor de garganta na criança. Felizmente, do laudo positivo até o final do tratamento, que encerra nesse sábado, a evolução foi positiva: para Íris, para Vanda e para Everton.

“Graças a Deus ela reagiu bem, ninguém ficou hospitalizado. Fizemos o tratamento em casa, que é muito triste e doloroso, porque você fica sem saber o que fazer. Rezamos para que não acontecesse o pior. Por isso gostaria de alertar a todos para se prevenir ao máximo. Não é brincadeira. É horrível. Eu senti muita falta de ar. Tive sensação de desmaios. Sem falar na dor insuportável. A maioria das pessoas levam como uma brincadeira, achando que não é nada e que os jornais estão exagerando. Mas infelizmente é real. Nós tivemos muita sorte”, desabafou.

Everton Garcia, Vanda Castagna Garcia e a pequena Ísis Castagna Garcia terminam hoje o tratamento da Covid-19.

Em julho, foi a família da vendedora autônoma Keyla Borges Fagundes, de 40 anos, que passou por essa angustia. O bebê Augusto Borges Fagundes, agora com 3 meses, começou a apresentar febre no dia 14 de julho. Mas, na época, a mãe não achou que pudesse se tratar de Covid-19.

“Não desconfiamos, pois ele estava com dois meses, completados no dia dos sintomas, e a febre não era muito alta. Estávamos nos cuidando e não recebendo visitas de muitas pessoas, somente a família. Só minha filha mais velha estava ajudando nas missas e meu esposo trabalhando. Porém, quando chegavam em casa, após sair, trocavam de roupa e se higienizavam”, contou Keyla.

A suspeitas só cresceram na família quando assimilaram a febre do bebê a um quadro febril da irmã, Laura Fagundes, de 17 anos. Logo, ela também foi submetida ao exame, constatando também estar com a doença.

Mas o medo da família tinha um agravante. Augusto nasceu com um problema no coração, devido a diabetes enfrentada pela mãe na gravidez.

“O bebê tem um ‘buraquinho’ no coração. Pois quando estava grávida tive diabetes gestacional e ele ficou com essa ‘falha’ no coração, que leva até quatro meses para normalizar. Fiquei assustada, pois sabíamos que a doença em um determinado momento poderia piorar. Estávamos muito apreensivos.”

Augusto foi tratado com medicamento para febre. Além dele, a mãe, a irmã e o pai, também contraíram a Covid. Apenas um dos filhos que não. Hoje, como outra história que terminou feliz, a família pode contar sobre a recuperação e fazer o seu alerta:

“Essa doença não se pode subestimar. Pois assim como foi muito leve nele [Augusto], poderia ter sido pior. Então quem tiver criança pequena em casa, cuide! Principalmente se essa criança tiver alguma patologia. Crianças se recuperam muito mais rápido dessa doença, desde que não tenham uma doença pré-existente. Sei que teve casos de falecimento de bebê por Covid. Então, cuidar é a melhor opção. Para as mães que irão ganhar bebê por esses meses, não permitam que venham visitas em sua casa até a criança pegar uma resistência maior, mande vídeos da criança para familiares e amigos. Porque, mesmo nos cuidando, contraímos a doença, imagina se não nos cuidarmos.”

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