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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

O avanço da dengue no Sudoeste

Apenas Salgado Filho, Renascença, Manfrinópolis, Flor da Serra do Sul, Eneas Marques e Nova Esperança do Sudoeste não se encontram infestados pelo Aedes aegypti em 2015, dentre 27 municípios da microrregião de Francisco Beltrão.

 

 

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“O setor de saúde poderá sofrer um grande efeito, pois há indicações de aumento da incidência de doenças tropicais. Deverão se alastrar, por exemplo, doenças transmissíveis por vetores, como malária e dengue”, dizem relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão das Nações Unidas.
São os impactos no meio ambiente, decorrentes do progresso da urbanização e utilização de recursos naturais e somados à desorientação humana quanto à prevenção (80% dos criadouros de larvas estão nas residências), obstáculos vivenciados pelos órgãos públicos de combate à doença – de epidemias cada vez mais frequentes -, e à diversidade do vírus (sabe-se da existência de quatro tipos de dengue), as principais explicações para o avanço do mosquito da dengue no Sudoeste.
Apenas Salgado Filho, Renascença, Manfrinópolis, Flor da Serra do Sul, Eneas Marques e Nova Esperança do Sudoeste não se encontram infestados pelo Aedes aegypti em 2015, dentre 27 municípios da microrregião de Francisco Beltrão. A previsão dos especialistas da 8ª Regional de Saúde é de que, em um ou dois anos, este avanço esteja completo.
Em 1992, ano em que começou a ser implantado o Levantamento do Índice de Infestação do Aedes aegypti na região, apenas Beltrão estava infestada pelo mosquito. A partir de 2000, Dois Vizinhos, Realeza e Capanema também passaram a figurar no mapa da infestação. Desde então, o Aedes vem progredindo pelo Sudoeste, infestando 21 municípios atualmente (veja na figura).
“O que estão dizendo é que as alterações que estamos provocando no planeta têm favorecido bastante a introdução [do Aedes]. Os hábitos humanos também. O mosquito é urbano, aí a gente dá tudo o que ele quer: pessoas para picar e água parada em piscinas, reservatórios de água, copinhos plásticos, pneus… E, em contrapartida, é muito lenta a educação sanitária. Ainda tem a questão de que um município começa a eliminar criadouros e o Aedes vai em busca de outro município que não está cuidando tão bem assim”, diz o médico veterinário Eraldo Machado, responsável pela Vigilância Epidemiológica da Dengue na 8ª RS.
A fala de Eraldo evidencia o preocupante diagnóstico da situação da dengue no Sudoeste. Nunca tantos municípios iniciaram o ano com situação tão elevada de infestação. Em reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) foi exposto um alto índice de pendência de visita de imóveis, a situação de alguns municípios com número insuficiente de Agentes de Combate a Endemias (ACEs) – para ações de bloqueio e atividades de rotina – e a preocupação com municípios silenciosos para notificações e falta de informações.
“Houve municípios que tiveram epidemia, mas não eram infestados. Isso demonstra sobre a qualidade do serviço. Beltrão, que teve 33 casos, teve uma estratégia muito boa, monitorando as notificações, fazendo bloqueio, de acordo com a técnica preconizada pelo programa de controle da dengue”, elogia.

Cresce o número de cidades epidêmicas
A consequência natural da infestação generalizada é o aumento da incidência de casos autóctones, ou seja, contraídos aqui mesmo no Sudoeste. A primeira epidemia de dengue na região ocorreu em Pranchita, em 2007, com 24 casos autóctones. Depois, Realeza registrou 21 casos nativos de dengue em 2009. Já em 2010, o mapa de dengue autóctone ganhou duas novas cidades: Beltrão e Salto do Lontra. O número de municípios com dengue autóctone subiu para cinco em 2010; depois para 11 em 2013; e já chegou a 15 neste ano.
A quantidade de cidades com surtos epidêmicos (de 100 a 300 casos por 100 mil habitantes) ou epidemia (acima de 300 casos por 100 mil habitantes) também vem subindo. Realeza foi o único município que sofreu com uma epidemia em 2010, quando a incidência da doença superou alarmantes 2.070 casos por 100 mil habitantes. Dois anos mais tarde, Capanema, Planalto, Pérola D’Oeste e Nova Prata do Iguaçu também ultrapassaram os 300 casos por 100 mil habitantes.
Até maio deste ano, Dois Vizinhos, São Jorge D’Oeste, Verê, Boa Esperança do Iguaçu e Salto do Lontra estavam em situação de epidemia; Nova Prata do Iguaçu vive surto epidêmico (entre 100 e 300 casos a cada 100 mil habitantes); já Beltrão, Marmeleiro, Barracão, Pranchita, Santa Izabel do Oeste, Capanema, Realeza e Cruzeiro do Iguaçu estão em situação de surto de dengue.

Período entre epidemias diminuiu
Observando o mapa de incidência, a doença da dengue é cíclica, ou seja, em princípio, não causa epidemia todo ano nos mesmos municípios. Entretanto, cada vez mais cidades têm enfrentado o problema, assim como o intervalo entre as epidemias tem encurtado. “O mosquito procura municípios com pessoas suscetíveis e apresenta comportamento cíclico, ou seja, não causa epidemia todo ano. Tal comportamento, por vezes, é ruim, pois induz tanto o gestor como a população a um relaxamento nas medidas de controle. Mas temos observado que o período entre epidemias tem diminuído”, diz Benvenuto Juliano Gazzi, chefe da Divisão de Vigilância em Saúde da 8ª RS.

Suscetíveis, explica Juliano, são pessoas que não pegaram a doença e não têm imunidade para a mesma. A dengue tem quatro subtipos e, quando você pega um deles, fica imune a este subtipo, mas pode pegar os outros. “É por isso que em alguns municípios que passaram por epidemias por um subtipo não entram em nova epidemia quando este subtipo volta a circular no município, porque não há suscetíveis. Mas, se houver vetor e circulação de vírus de outro subtipo, pode haver nova epidemia”, acrescenta.

Isso ajuda a entender o porquê de não haver registro de óbitos em razão de dengue hemorrágica na região, já que os tipos 1 e 2 são os mais comuns por aqui. “Quando você pega um subtipo de dengue, o organismo fica imune e sensibilizado. Ao pegar outro subtipo, a resposta imunológica poderá ser exacerbada. É por isso que ocorre a dengue grave e a hemorrágica”, esclarece Juliano.
Contribuiram também Carmem Cila Casaril, responsável pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), e Vilmar Albuquerque, pelo Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue (SisPNCD). O Jornal de Beltrão continuará a abordar o tema dengue traçando um perfil histórico de casos notificados, autóctones e importados no próximo domingo, 26.

 

 

 

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