Pesquisa aponta que 77% da população fez uso de medicamentos sem prescrição nos últimos meses

A automedicação é responsável por 32% das intoxicações e pode levar a óbito.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) e o Instituto Datafolha divulgaram uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros com medicamentos. O documento traz dados preocupantes: 77% da população do País fez uso de medicamentos sem prescrição nos últimos seis meses. Quase metade dos brasileiros se automedica uma vez por mês e um quarto (25%) faz todos os dias ou pelo menos uma vez por semana. A pesquisa aponta que familiares, amigos e vizinhos são os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição nos últimos seis meses.

José Paulo Pacola (CRF 4551), fiscal do Conselho Regional de Farmácia, aponta outro dado grave. “Para você ter ideia, hoje aproximadamente 32% das intoxicações são causadas pelo uso indevido de medicamentos. São os perigos da automedicação, do uso inapropriado de medicamentos por pessoas que acham que têm conhecimento suficiente sobre a substância”.

Pacola acredita que ainda há pouca informação a respeito do assunto. “A sociedade não foi preparada para saber quando se pode usar um medicamento ou não. E apesar disso, no Paraná, e os outros Estados do Sul, o nível de conscientização é bem acentuado, ao contrário de outros Estados em que a automedicação é muito grande”. A pesquisa do CFF indica justamente isso; 29% dos entrevistados do Sul afirmam não utilizar medicamentos por conta própria, sendo a região do País com menor índice de automedicação.

Antibióticos e remédios prescritos
A pesquisa do CFF aponta ainda uma nova modalidade de automedicação, a partir de medicamentos prescritos. Nesse caso, o paciente passou pelo profissional da saúde, tem um diagnóstico, recebeu uma receita, mas não usa o medicamento conforme orientado, alterando a dosagem receitada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmente homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%).

A alteração de dosagem é um perigo para antibióticos. A resistência bacteriana é um dos maiores desafios que a ciência já enfrenta e será ainda pior no futuro. As superbactérias são organismos vivos que adquiriram resistências aos antibióticos. O uso inadequado, sem critério em dose, com período ou indicação incorreta, acelera os mecanismos de defesa das bactérias, perdendo a eficiência do medicamento.

“É um problema mundial, não só no Brasil, a Europa e os Estados Unidos já estão enfrentando as superbactérias, principalmente pelo uso inadequado de antibióticos. A prescrição médica determina a quantidade de dias para o uso do antibiótico, mas a população ou toma menos ou a mais do que o recomendado, e isso é grave”, argumenta João Paulo Pacola.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dez milhões de pessoas podem morrer em todo o mundo vítimas de superbactérias ou por falta de terapêutica até 2050.

Medicamentos mais utilizados
Na pesquisa do CFF foram levantados, também, os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros nos últimos seis meses. Os analgésicos e antitérmicos (50%) encabeçam a lista, seguidos dos antibióticos (42%) e relaxantes musculares (24%). Outra classe de medicamentos que também causam danos à saúde, quando administrados de forma indiscriminada, são os anti-inflamatórios. Segundo dados da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), mais de 200 milhões de anti-inflamatórios foram vendidos no Brasil em 2018. Dados de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) afirmam que os anti-inflamatórios podem retardar os efeitos benéficos para a cura e causar prejuízo ao fígado.
*Com informações da assessoria.

Conscientização contra automedicação
No dia 5 de maio foi comemorado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. Em alusão à data, o curso de Farmácia da Unisep de Francisco Beltrão fará uma ação sobre o uso racional de medicamentos no próximo sábado, 11, a partir das 8h30, no Calçadão de Beltrão.