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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Pessoas vacinadas ainda podem transmitir o vírus, diz pesquisador da UFPR

Professor de Vacinologia e Microbiologia, do Departamento de Patologia Básica da UFPR, Breno Beirão esclarece dúvidas sobre as vacinas CoronaVac e AstraZeneca e explica por que os cuidados básicos devem continuar mesmo após receber a vacinação.

A vacina é feita a partir de nanoesferas de polímero, biocompatível e biodegradável, recobertas com partes específicas da proteína Spike.

Um dia após a Anvisa aprovar o uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZenca, as primeiras doses começaram a ser aplicadas no Brasil.

No Paraná, a primeira vacinada foi a enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, de 44 anos, e até ontem, 57,2 mil pessoas do grupo prioritário já haviam recebido a primeira dose no Estado. Professor de Vacinologia e Microbiologia, do Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Breno Beirão, explica, no entanto, que mesmo após a segunda dose, prevista para fevereiro, ainda será necessário se cuidar, já que pessoas imunizadas podem transmitir o vírus.

“Isso porque o vírus replica-se no sistema respiratório e as duas vacinas que temos aqui irão produzir pouco anticorpo nesse local, portanto, o vírus ainda consegue sobreviver ali. Por isso, essas formas respiratórias da Covid, que se assemelham a gripe ou resfriado, deverão continuar ocorrendo”, disse.

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Beirão integra uma equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que, desde maio do ano passado, trabalha na produção de uma vacina no Estado. Mesmo com as aulas suspensas, o trabalho não parou no laboratório e até agora a vacina produzida tem mostrado resultados satisfatórios. “Já verificamos que a vacina produz alta quantidade de anticorpos contra o SARS-CoV-2 em camundongos, o que é muito promissor. Indica que, provavelmente, a vacina será capaz de proteger contra infecções moderadas a graves”, acrescentou o pesquisador.

A vacina ainda não tem nome e depende do apoio de empresas para custear a parte mais cara: os testes em humanos. De acordo com Beirão, já há duas empresas com as quais negociam e que podem mudar o cenário das vacinas no Brasil.

Nesta entrevista exclusiva ao JdeB, o pesquisador explica como funciona a imunização a partir da vacinação e dá detalhes da pesquisa promissora realizada no Paraná.

 

Breno Beirão, professor de Vacinologia e Microbiologia, do Departamento de Patologia Básica da UFPR, integra a equipe que produz uma vacina no Paraná.

JdeB – De que forma funciona a imunização pelas vacinas CoronaVac e AstraZeneca, de Oxford? O corpo cria anticorpos logo após a primeira dose?
Breno Beirão – Em nenhuma das duas há proteção satisfatória após a primeira dose, apenas. Há produção de anticorpos após a primeira dose, sim, mas os ensaios clínicos mostraram que a proteção só é satisfatória após duas doses. Em ambos os casos, o que ocorre é a estimulação imune contra proteínas do vírus. A CoronaVac usa um vírus morto (inativado) para isso e a AstraZeneca usa um fragmento do coronavírus que é carregado por outro vírus inócuo, o que chamamos de vetor viral.

 

Pouco mais de 1% da população irá receber a CoronaVac neste primeiro momento. Quanto tempo após a segunda dose essas pessoas estarão imunizadas?
Aproximadamente de 7 a 14 dias após a segunda dose há a proteção desejada.

O que pode acontecer com uma pessoa que, após a primeira dose, optar por não tomar a segunda?
Não há estudos de larga escala com essas vacinas contra a Covid-19. Contudo, com base no conhecimento de outras vacinas similares, sabemos que provavelmente essa pessoa terá uma proteção “fraca” e de curta duração. Com base no mecanismo de ação das vacinas, pode-se supor [enfatiza] que a vacina de Oxford conferirá melhor proteção após a primeira dose do que a CoronaVac.

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A vacina protege contra todas as cepas da Covid-19 conhecidas?
Isso ainda não está 100% confirmado. Sabemos que haverá algum grau de proteção contra essas cepas que surgiram, mas ainda se está estudando se será proteção igual às cepas “originais” ou se será um pouco reduzida.

 

O que é a imunidade de rebanho e quantas pessoas precisam ser vacinadas para chegarmos a ela?
É a proteção das pessoas não imunizadas por meio da redução da transmissão de um agente por outras pessoas ao redor. Basicamente, se todo mundo ao seu redor não estiver transmitindo o vírus, você não tem chance de se infectar. Em relação às vacinas sendo lançadas no mercado, deve-se atentar que elas provavelmente não irão reduzir drasticamente a transmissão. Por isso, será necessário que todas as pessoas de risco se vacinem.

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Pessoas imunizadas podem afrouxar as medidas de prevenção à Covid-19 e deixar de usar máscara, lavar as mãos com frequência e manter o distanciamento social? A comunidade científica tem dito que levará um tempo para que esses cuidados deixem de ser presentes no dia a dia. É possível fazer uma projeção sobre quando poderemos voltar ao “antigo normal” ou ele ainda está muito longe?
As pessoas imunizadas terão uma redução na chance de terem doença grave. A vacinação não irá prevenir (ou irá prevenir pouco) as formas leves da Covid-19 e não irá impactar na transmissão do vírus, então, as medidas sanitárias ainda são importantes para reduzir as novas infecções. O “antigo normal” poderá retornar à medida que a maior parte da população estiver imunizada, quando a Covid-19 poderá se tornar um resfriado comum.

 

Pessoas que pegaram a Covid-19 devem tomar a vacina? Quando a recuperação da doença cria anticorpos e quando não?
É preferível que pessoas previamente infectadas tomem a vacina porque a imunidade contra o SARS-CoV-2 tem duração variável. Não é possível prever “de olho” se a pessoa está protegida após a infecção. Contudo, pode-se estimar que as pessoas que tiveram apenas uma leve infecção respiratória provavelmente não terão uma imunidade duradoura. Sabemos que reinfecções não são comuns, mas isso pode mudar à medida que o tempo vai passando e a imunidade desvanece.

A partir dessa tecnologia, é possível preparar bibliotecas de antígenos de outros vírus e de patógenos bacterianos e fúngicos, visando a imunização contra outras doenças.

Você tem trabalhado na produção de uma vacina na UFPR. Qual tecnologia usada para essa produção e no que ela se difere das vacinas conhecidas e que já têm aprovação para uso no Brasil, como a de Oxford e a CoronaVac?
A vacina contra Covid-19, da UFPR, usa uma ideia similar à da vacina de Oxford: temos nanopartículas carregando uma proteína viral. Ou seja, não usamos o vírus inteiro, como a CoronaVac, porque o cultivo do vírus é muito caro. A diferença da nossa em relação à de Oxford é que nós estamos usando nanopartículas para carregar a proteína viral, enquanto eles estão usando um segundo vírus (inócuo) para fazer isso. O custo foi uma consideração importante para fazermos desta maneira, e esperamos poder atender o mercado com um produto acessível.

 

Quando começaram as pesquisas para essa vacina, em qual fase dos estudos ela está e quais respostas ela já deu até agora? Já há testes em humanos?
Os estudos começaram por volta de maio de 2020. A vacina está em fase de testes pré-clínicos, ou seja, sendo testada em animais. Já verificamos que a vacina produz alta quantidade de anticorpos contra o SARS-CoV-2 em camundongos, o que é muito promissor.

Indica que, provavelmente, a vacina será capaz de proteger contra infecções moderadas a graves. Não iniciamos testes em humanos ainda e estamos discutindo parcerias com empresas públicas e privadas, de vacinas, para seguir com esse passo, que é muito mais custoso.

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Há alguma previsão de que ela possa ter algum pedido para uso ainda neste ano?
Infelizmente, não podemos prever nada, visto que ainda estamos discutindo com possíveis parceiros para lançar o produto. A UFPR não conseguiria produzir a vacina para testes em pessoas ou para venda do produto. Para isso, dependemos do interesse da indústria em utilizar a tecnologia que foi desenvolvida aqui.

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