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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Profissionais de saúde recomendam menos aparelhos eletrônicos e mais brincadeiras ao ar livre

Saúde

Profissionais de saúde recomendam menos aparelhos eletrônicos e mais brincadeiras ao ar livre.

O uso exagerado de telas, principalmente do celular, pode causar sérios problemas físicos e mentais para crianças e adolescentes. Especialistas recomendam que os pais disciplinem o uso dos aparelhos eletrônicos, no máximo duas horas por dia, e que deem preferência por práticas esportivas ou atividades ao ar livre. Além do conteúdo, que é potencialmente viciante, o uso excessivo de celulares pode provocar problemas cognitivos, posturais e de visão, muitos até irreversíveis. A reportagem da Revista Gente do Sul ouviu profissionais de saúde para colher dicas e orientações sobre o uso destes equipamentos.

A psicóloga Thaís Cristina Gutstein Nazar, docente do curso de Psicologia da Unipar e profissional do Instituto de Análise do Comportamento do Sudoeste, observa que um dos fatores mais relevantes oriundos do uso excessivo é a redução das interações sociais. Quando excessivamente utilizadas, as tecnologias podem inibir ou distanciar cada vez mais e dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais na infância, inclusive comprometer o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais de crianças e adolescentes.

Segundo ela, quando o acesso aos jogos, redes sociais, vídeos ou aplicativos em geral ocorre de maneira muito frequente, intensa, em contextos que se deixa de experimentar interações sociais ou excessivo sedentarismo, pode ser muito prejudicial. É importante o controle parental, da família, para manejo do tempo e da qualidade do uso da tecnologia.

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Vício tecnológico é como dependência química
A psicóloga Thais diz que a dificuldade de se afastar do aparelho, impulsividade e agressividade, sono afetado, queda no desempenho escolar, perda de interesse por outras atividades e não querer sair do quarto são sinais de que a criança ou jovem esteja em processo de dependência tecnológica. Nesse caso, é preciso buscar orientação profissional e acompanhamento especializado. “Quanto ao vício em tecnologia, é parecido com o da dependência química, porque atua nos mesmos circuitos cerebrais de recompensa, causa síndrome de abstinência e, quando utilizado, libera dopamina, um neurotransmissor responsável pela regulação do humor, da memória e do prazer.”

As tecnologias digitais de comunicação e entretenimento (internet, e-mail, telefones celulares, PDAs, iPods, aparelhos de jogos) são divertidas e podem ser úteis para as pessoas. “Mas todas apresentam propriedades de dependência e de abuso que podem alterar o nosso humor e a nossa consciência, nos distrair e nos fornecer uma saída da vida que estamos levando no presente. Esses aparelhos podem nos amortecer e alterar o tempo, levando a nossa atenção do presente para algum outro lugar.”

Na opinião de Thaís, é provável que no futuro a dependência de internet e de mídia digital aumente. Conforme a tecnologia se torna mais rápida, mais barata e mais portátil, a tendência é o abuso e a dependência continuarem crescendo.

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Os impactos negativos para a visão
De acordo com a médica oftalmologista Gabriela Traiano, a introdução das telas está ocorrendo cada vez mais cedo, até mesmo em bebês menores de seis meses de idade. E isso, além de outros fatores, tem sido atribuído ao aumento dos casos de miopia no mundo. Principalmente quando a criança tem uma predisposição genética, na qual pais míopes aumentam três a quatro vezes as chances de as crianças desenvolverem miopia.

Thaís alerta que a luz azul dos eletrônicos está relacionada com casos de insônia, e consequentemente menor disposição para as atividades diárias, com o ressecamento ocular, e a longo prazo causando defeitos como catarata precoce e degenerações maculares retinianas. “Porém a luz azul não tem um fator negativo para este aspecto do aumento da miopia em si. Ao contrário, o que os estudos mostram é que alguns espectros da luz de LED azul, assim como da luz ultravioleta, atuam como protetores contra o avanço da miopia.”

A médica recomenda o seguinte tempo de exposição às telas: até os 2 anos evitar qualquer contato; de 2 a 5 anos, uma hora/dia; dos 6 aos 10 anos de 1h a 2h/dia e dos 11 aos 18 anos 2h a 3 horas ao dia. Gabriela orienta que toda criança em idade pré-escolar passe por uma avaliação com médico oftalmologista, para garantir uma evolução visual saudável, pois é na primeira infância que a criança tem o seu maior desenvolvimento cerebral, físico e cognitivo. “E a visão é um sentido muito importante para que isso ocorra no tempo correto. Nós não nascemos com a visão totalmente desenvolvida, ela melhora e evolui com o passar dos primeiros anos de vida, especialmente até os 7 anos de idade.”

Dores no pescoço e nas costas
A postura diante do uso do celular requer atenção como explica o médico ortopedista André Araújo. Além de dores no pescoço, a posição curvada pode causar dores de cabeça e até hérnia de disco. Para evitar danos futuros na coluna cervical, o ideal é que o aparelho seja elevado até que o centro da tela fique na altura dos olhos. “Os problemas posturais são inúmeros. Os mais diagnosticados em consultório são cervicalgia, tanto por hiperflexão do pescoço quando se está sentado, como por hiperextensão quando se está deitado em decúbito ventral (barriga para baixo).” Há ainda problemas como tendinite nos punhos, tanto pela digitação em excesso como pela forma de segurar o smartphone, assim como dor na coluna torácica pela flexão do tronco. O ortopedista observa que o mais importante é não esquecer que crianças têm que brincar e “smartphones não entram nesta conta”.

Mãe preocupada
Neila Griebler Niclote conta que seu filho Murilo, de 13 anos, usa óculos desde os 7. O problema é genético, mas os cuidados com uso de telas são redobrados. “Se deixar, ele fica o dia todo no computador, ainda mais agora na pandemia que as aulas se tornaram on-line.”

Os pais passaram a disciplinar o horário e Murilo pode ficar no computador, normalmente jogando, das 10h às 12 horas. “Quando ele tem aula pela internet, tem que usar das 13h20 às 17h20.” Além da visão, há a preocupação com a postura do menino. Eles tentaram pilates para correção postural, mas foi por poucos meses. “Há dois anos a gente optou por natação para ajudar na postura.”

A mãe conta que o filho, quando perde no jogo virtual, fica nervoso e já chegou a quebrar uma tela do computador. “Daí ficou um mês no castigo e teve que pagar pela tela nova, trabalhando pra mim”, conta a mãe. Neila percebe que os jogos o deixam ansioso. “Quando a gente fala que vai sair, ela já pergunta se voltamos logo, porque quer jogar.”

Curiosidade: mais celulares do que pessoas
Dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para o mês de julho deste ano indicam que o Brasil tem 246,8 milhões de celulares (213,3 milhões de habitantes) e densidade de 115,63 celular/100 habitantes. Em Francisco Beltrão são 120.515 celulares (93.308 habitantes) e uma densidade de 130,69 cel/100 hab. O predomínio no município é de aparelhos pré-pagos com 69.365 (57,56%). Os pós-pagos representam 51.150 (42,44%). São 101.905 celulares de pessoas físicas e 18.610 de pessoas jurídicas.

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